Nem sempre podemos ser o herói

Apesar do lançamento individual que este titulo teve, Weapon Shop de Omasse é sem dúvida um jogo pertencente ao projecto Guild. A Level 5 frequentemente organiza uma espécie de gamejam interna com os seus designers e equipas, onde o objectivo principal destas é criar jogos de curta duração com qualidade para a plataforma móvel da Nintendo. A esta iniciativa deram o nome de  Guild, e já existiram duas edições até à data. Destas Guilds já resultaram jogos icónicos como Attack of the Friday Monsters!, Liberation Maiden, Crimson Shroud e agora Weapon Shop de Omasse.

Estes jogos Guild têm características particulares: desde a sua curta duração – entre as três e quatro horas – e normalmente exploram o mundo do entretenimento virtual duma maneira quase metafísica. Expõem temas e usam mecânicas que para os jogadores são como uma segunda linguagem mas que  para qualquer outra pessoa será extremamente  devido à falta de referencias. Weapon Shop de Omasse põe-nos no papel de um aprendiz de ferreiro inserido num mundo de JRPG, que tem a seu cargo a pesada responsabilidade de criar as armas que vão ser alugadas pelos heróis para usarem na sua batalha contra os mauzões.

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Blades? Para cortares essa franja para veres os inimigos, é?

 

O jogo não tem uma narrativa linear, é mais próxima de uma sitcom americana na qual as várias personagens têm pequenas peripécias e aventuras durante a duração de um episódio. Acompanhamos através de uma relato detalhado as aventuras dos heróis a quem alugamos as armas, estes heróis são carismáticos e únicos na sua individualidade e o seu sucesso depende da qualidade da arma que lhes forjámos. Quanto mais alta for a qualidade de forja e polimento das armas, mais rápido os heróis conseguem derrotar o Evil Lord. Bastantes momentos de humor insider existem no jogo, destacando-se na minha opinião o caso de uma personagem chamada NPC que tem uma grave crise existencial por não ser real, mas apenas uma linha de código que um programador escreveu.

Apesar de se passar num mundo de JRPG, o jogo não é de todo um RPG no sentido casual, apenas no sentindo que o jogador está a assumir o papel de outra personagem (Role Playing Game), mas se assim fosse a categorização, então todos os jogos seriam RPGs duma maneira ou outra. O gameplay consiste no equilíbrio entre alguns minijogos e atividades, e apesar de ser um pouco redutor em termos de desafios, há bastante conteúdo para nos manter ocupados.

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É como o Dance Dance Revolution, mas com lâminas e armas à mistura.

 

Dos minijogos o principal é sem duvida o da forja, no qual usamos a stylus para “bater” no metal ao ritmo certo até este ficar com a forma necessária e criar uma arma.  É também adicionada alguma profundidade a este minijogo com a possibilidade de usar materiais especiais para fazer uma melhoria a alguns atributos da arma a ser forjada. O segundo minijogo é o do polimento das armas, no qual temos que simplesmente passar a stylus vezes suficientes por cima de cada parte da arma para esta ficar brilhante e que no final dá um bónus de +1 a essa arma. Entre forjar e polir armas convém darmos alguma atenção ao Grindcast, um complicado sistema de escutas que são inseridas nas armas e que nos possibilitam saber tudo o que se passa com os nossos heróis: se estão a combater um Kobolt, se conseguiram completar a quest, se perderam ou partiram a arma, etc. Colecionar itens e materiais que os heróis nos trazem das suas aventuras é também divertido, visto que os itens aparecem realmente no cenário e povoam a nossa loja ao longo do desenrolar do jogo.

A componente visual de Omasse é bastante agradável, sendo tipicamente um JRPG completo com as personagens cheias de correntes e camadas de roupa sem sentido algum. No entanto o jogo desenrola-se todo no mesmo cenário, a loja de armas, tornando-se um pouco enfadonho chegado a certo ponto. O bom uso do 3D e a variação de ângulos de câmara tornam o jogo um pouco mais dinâmico, mas no final de contas não é o suficiente para nos entreter as pupilas por mais de vinte minutos.

A música e os SFX foram criados de maneira a dar ênfase à parte humorística e satírica do jogo, no entanto, apesar dos SFX de risos tipo sitcom quando as personagens entram em cena resultarem relativamente bem, a música tipo fanfarra “Malucos-do-Riso-olhem-para-mim-que-sou-tão-engraçado” torna-se rapidamente irritante e não contribui especialmente para o humor do jogo, acabando este por perder toda a subtileza.

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Tantos Gs! Há algum negocio paralelo a decorrer nesta loja…

 

O melhor: As personagens com personalidades distintas e características únicas, raro por si só em JRPGs, e o Grindcast que nos possibilita acompanhar de longe as suas aventuras.

O pior: A repetição em geral. Seja da jogabilidade, dos cenários, da música, etc.

Weapon Shop de Omasse é mais um exemplo do génio da Level 5 e um excelente argumento pelo qual todas as grandes empresas que desenvolvem videojogos deveriam ter uma gamejam género Guild ou Amnesia Fortnight (da Double Fine), visto que têm tendência a florescer projetos mais arriscados e inovadores do que numa situação criativa mais controlada. Este jogo consegue ser quase perfeitamente o jogo que tenta ser. É uma boa sátira dos JRPGs e entretém-nos bastante, tendo como único problema a sua repetibilidade. Diria que é um bom jogo para fãs de JRPGs que querem jogar algo com qualidade superior à maior parte dos jogos móveis, mas com um gameplay contido o suficiente para se jogar em pequenas seções e ter gratificação rápida das suas ações.

Weapon Shop de Omasse é um exclusivo 3DS.