Directamente da mente computorizada de um Dalek

Quando paramos para pensar qual foi o jogo que verdadeiramente agitou o mundo todo neste mês que finda hoje, percebemos facilmente que a resposta está muito longe de qualquer previsão do Oráculo de Bellini. Tomou o mundo de assalto sem sequer ser esperado, rivalizando com os gráficos de Titanfall e com as experiências tecnológicas de Watch Dogs. Ou…

…é apenas uma grelha quadrangular composta por 16 quadrados…

Visto que toda a gente e mais alguém já escreveu sobre 2048, o pequeno jogo para browser e mobile, feito pelo jovem italiano Gabriele CIrulli, de 19 anos, que tencionava apenas testar a sua capacidade de construir um jogo desde raiz apenas num fim-de-semana. Enquanto um bom  português aproveita para passear o seu fato-de-treino do Benfica no shopping ao Domingo, ou assar umas entremeadas e beber uns cervejas com os amigos mais próximos e vem este italiano com intenções de fazer um jogo ao fim-de-semana que atingiu os 4 milhões de visitantes logo na primeira semana. O Obelix bem tinha razão e eles devem mesmo estar mesmo loucos. É por estas razões que o Império Romano durou 500 anos.

Não quero entrar na discussão sobre a legitimidade da inspiração/apropriação, nem fazer do 2048 um Flappy Bird 2.0, mas o próprio Gabriele admite que a sua base de trabalho foi clonar o jogo 1024 da Veewo Studios (que por sua vez é um clone de Threes! Da Sirvo). Com uma jogabilidade simples, que brinca com a aglomeração da potência do algarismo 2, 2048 teve a capacidade de colocar milhões de pessoas a efectuar rápidos cálculos matemáticos num jogo cujo único objectivo é atingir o algarismo 2048, ou seja, 211.

Doctor 2048 01

Dois Tennant equivalem a um Smith. Et voilá!

 

O próprio Gabriele acabou por ver rapidamente a sua criação a ter uma série de spinoffs, e sendo eu um whovian incorrigível foi obviamente a versão de Doctor Who a que mais tempo me manteve viciado. Esta ligeira versão traz-nos uma completa mudança de paradigma de funcionamento com o próprio jogo. Se o nosso raciocínio lógico-matemático acaba por estar na quase totalidade de acção para tentar quebrar 2048, a substituição dos algarismos do jogo original pelas fotos dos actores que interpretaram o papel cronologicamente nas diversas encarnações do personagem modifica-o quase por completo. Esta total diferença deve-se ao facto de que é facilmente perceptível a lógica de exponenciação de algarismos e a velocidade instantânea do nosso raciocínio numérico, ficando muito aquém da esquematização de criar uma lógica numa sequência de fotografias. Ainda que qualquer verdadeiro fã de Doctor Who saiba que a equivalência de 211 é o 11º Doctor, o actor Matt Smith, assim como todos os 10 que lhe antecederam, a realidade é que para resolver este puzzle o nosso cérebro necessita não só de encontrar os passos necessários às devidas exponenciações na reduzida quadrícula que dispomos, mas também de ir fazendo a viagem cronológica entre os diversos actores. Se tenho um Tom Baker, preciso de juntar-lhe dois Jon Pertwees para obter um Peter Davison, até chegar ao grande objectivo de juntar dois David Tennant e obter o tão esperado Matt Smith.

Faz algum sentido? Na práctica faz, quando ao mesmo tempo aumenta a dificuldade de um conceito tão simples. Para whovians e/ou para quem já quebrou o desafio de 2048, a edição dedicada a Doctor Who (pode ser jogada aqui) promete manter-nos agarrados muito Tempo e esgotar as nossas neurosinapses até nos causar uma Regeneração sem por em causa o Efeito Limitativo de Blinovitch…

 

(nota: ignorar o jargão whovian ao longo de todo o texto)