Será que no novo jogo da Vlambeer assumimos o papel de Nazis?
Nos últimos tempos alguma polémica tem estado a envolver o novo jogo da Vlambeer, LUFTRAUSERS. A sua origem parece-me completamente irrelevante, mas o assunto que está a ser debatido é pertinente nesta nova geração de liberdade criativa que se instalou na indústria dos videojogos devido aos pioneiros independentes.
Em LUFTRAUSERS o jogador assume o controlo de um pequeno avião pixelizado e tem como missão destruir tudo à sua volta. Numa indústria que é sustentada pela violência gratuita isto parece pouco chocante, no entanto algumas pessoas fizeram a observação – astuta, tenho que admitir – que a linguagem visual do jogo remete para o imaginário Nazi. Não propriamente para o partido Nazi que existiu na nossa realidade, mas mais para a estilização mediática que houve dessa ideologia na cultura pop, como em Wolfenstein, Indiana Jones, Hellboy, etc. A questão que se impõe é muito simples: em LUFTRAUSERS o jogador assume a pele de um piloto Nazi, sem sequer se aperceber?
A resposta é muito simples: não. LUFTRAUSERS é uma palavra inventada e sem significado, e o mundo onde a ação tem lugar não é o nosso. Portanto a associação de elementos desse mundo fictício com o nosso é inútil.
Devo também lembrar que muitos outros jogos já foram vítimas deste tipo de teorias da conspiração: Super Mario foi considerado propaganda comunista, devido à sua parecença com Stalin; foi especulado que Link era uma rapariga e que consequentemente os jogos promoviam relações amorosas homossexuais; Braid é aparentemente sobre bombas atómicas; o Fallout 3 prevê a tragédia do Deepwater Horizon; Animal Crossing é sobre o rapto de crianças; e muitas mais. LUFTRAUSERS é a apenas a ultima adição a esta longa lista.
Pessoalmente acho que até seria interessante a existência dum jogo onde assumíssemos o papel de Nazis. Calma, oiçam-me! Não no sentido de glorificar as maiores bestas que já existiram neste mundo, mas no sentido de explorar os limites da abstração virtual do jogador – tal como em Hotline Miami: “Do you like hurting other people?” – e os escrúpulos dos achievement whores – como em The Stanley Parable: “Achievement Unlocked: Activated Achievements”. Penso que seria interessante, do ponto de vista social, existir um jogo onde a única maneira de ganhar seria desistir, porque o jogador estava do lado errado da razão.
A liberdade criativa é a ferramenta mais importante para a expansão de qualquer indústria, e há que a respeitar. Além disso não seria assim tão mau explorar o lado errado da história, no entanto LUFTRAUSERS não o faz. Ponto final.