Já fui ao Brasil, Praia e Bissau
Depois do sucesso tremendo de Minecraft, o mercado indie começou a ficar polvilhado de jogos que abordam a temática da exploração e da construção. A quantidade de jogos do género a surgirem nos escaparates (físicos e internéticos) são tantos quanto os blocos de materiais que compõem uma torre de Babel digital, ou seja, são mais que muitos.
Quando vi os primeiros trailers tive a certeza de que Planet Explorers não vai, de forma alguma, revolucionar o mercado. Mas algo me fascinava no ambiente que o jogo transmitia nos primeiros vídeos, e que me remetia para a minha infância. De muito pensar e rever o trailer lá o percebi: a aura que Planet Explorers tem é o das séries de animação dos anos 80, em que mesmo os locais mais inóspitos ou as situações mais perigosas são matizadas por uma capa de inocência que nos fez crescer sem comprometer a nossa capacidade de sonhar.
Ainda em Early Access no Steam, este jogo da Pathea Games revela ser mais uma abordagem ao género sandbox/voxel/RPG de aventura mas que contem em si mesmo uma nova forma de experienciarmos este tipo de jogos. Mais do que tudo focado num turismo, ou um aventureirismo virtuais que nos permitem conhecer outros ecossistemas, imaginados, lá está, mas não menos estimulantes de conhecer.
Dos modos disponíveis (não esquecer que o jogo se encontra em Alpha) foi o modo de história aquele que mais jogámos. Começamos por saber que pertencemos à tripulação de uma nave colonizadora que se despenhou num planeta alienígena não-cartografado, mas felizmente para nós e para os restantes sobreviventes, um mundo detentor de atmosfera respirável. Os nossos primeiros passos são numa praia quase familiar mas cuja fauna e flora denotam quase de imediato a estranheza extraterrestre que nos rodeia.
As cadeias de quests servem de forma simples como uma forma de tutorial, em que assumimos o nosso papel de colonos caçadores-recolectores, caçando pequenos animais (mamíferos?) e colhendo plantas e flores de estranhas configurações. A nossa capacidade de criar novos objectos, bebidas, etc., segue o velho modelo de receitas dos restantes jogos de construção em que sabemos que x+y=z. Ainda assim, a forma que o jogo encontrou para nos permitir encetar as nossas construções funciona como um cubo extra-planar, no qual fazemos os nossos testes, adicionando peças num sistema voxel, rodando, reconfigurando, até encontrarmos a forma/função desejada. Para além desta potencialidade de criar, montar e construir objectos e veículos numa grelha, tendo, como é óbvio, o intuito de criar sistemas e objectos funcionais, é a possibilidade (tal como visto no trailer) de construirmos um jet pack e/ou um parapente para que possamos amortecer quedas, ou simplesmente como forma badass de nos locomovermos de um lado para o outro, as verdadeiras jóias criativas deste Planet Explorers.
Mas a verosimilhança com os cartoons dos anos 80 a que me referi centra-se mais do que tudo na biodiversidade de Planet Explorers. Influência do período em que crescemos, no qual a criação de mundos fantásticos e desconhecidos povoou a nossa imaginação das mais distintas manifestações de ficção científica. E esta biodiversidade revela-se nas zonas diversificadas de fauna e flora que vamos encontrando, enquanto vamos calcorreando o planeta e que vão denunciando um admirável mundo novo a ser explorado. Desde gigantescos animais em manada que não desejam ser importunados, até pequenos e simpáticas criaturas que nos seguem, passando por muitas outras que tudo farão para nos devorar. Planet Explorers é uma viagem a um zoológico intergaláctico ficcional que todos vão sentir vontade de explorar.
Nesta fase Alpha do jogo, o pior elemento apresentado deverá ser mesmo o controlo do nosso personagem que se apresenta algo emperrado, tanto na primeira como na terceira pessoa, e que parece desajustado para um jogo de 2014. O outro factor menos positivo é a falta de indicação de interacção com o meio envolvente, o que nos obriga a um massacre exaustivo da tecla de acção para encontrarmos plantas ou materiais para recolher.
Ainda assim, a par de Space Engineers, Planet Explorers é uma das maiores promessas que o mercado indie tem para oferecer num género dominado (e criado) por Minecraft, trazendo cada um deles novas visões. SE com uma visão de exploração espacial, e PE com uma aproximação de desbravamento de um planeta selvagem, conseguem entregar-nos construções complementares e que auguram uma brilhante ramificação aos sandbox de construção.