Peças, peças e mais peças.
Quando pensamos em lego, pensamos na nossa infância e nas horas que passavamos a construir e destruir aquelas pequenas peças, que por vezes terminavam em enormes monumentos ou em simples casas com famílias à sua volta. Era abrir aquelas caixas cheias de peças e deixar a imaginação correr livremente. Hoje em dia, embora também possamos criar as nossas próprias geringonças, a Lego tomou outros caminhos e tudo o que seja um franchise bem sucedido, transforma não só em pecinhas reais como em virtuais. Aqui aparece-nos então o Lego: The Hobbit. Baseado nos dois filmes de Peter Jackson, The Hobitt: An Unexpected Journey e The Desolation of Smaug, este jogo leva-nos pelas extraordinárias aventuras de Bilbo Baggins e a sua companhia de anões, através de cenários recriados com lego. Desde Bag End até à Lonely Mountain, as principais peripécias são contadas sempre com aquela pequena dose de humor já conhecida nestes títulos da Lego.
Produzido pela Traveller’s Tales, o jogo está claramente feito para os participantes que já tenham visto os filmes e conheçam bem as personagens, pois para quem nunca colocou os olhos nos pés peludos de Baggins ou nas longas barbas dos anões é complicado perceber o que estão a fazer e decifrar quem é quem no meio de tantos bonequinhos de lego semelhantes. Existem partes narrativas que vão contando a história e tentando preencher os espaços em branco, mas não é suficiente para clarificar o que realmente se passa, deixando ao jogador essa tarefa. Se o jogador for uma criança, possivelmente o principal público alvo, torna-se ainda mais complicado. E tendo em conta que os filmes são apenas dois de três, o jogo termina exactamente onde acaba o segundo filme, deixando aquela sensação de projecto inacabado.
Em termos de jogabilidade não difere muito dos títulos anteriores sendo uma espécie de jogo de plataformas com puzzles para decifrar e avançar para o próxima capítulo. Em cada nível, por assim dizer, é-nos dado um grupo de personagens, normalmente quatro ou cinco, em que cada uma delas tem uma habilidade diferente, como por exemplo o facto de Gandalf poder iluminar áreas cobertas por escuridão ou o Bombur, cuja barriga se transforma num trampolim para os seus colegas poderem saltar de um sítio para outro. Para passar o nível temos que partir quase tudo o que encontramos, resolver puzzles através das habilidades de cada personagem e, por vezes, embrenhar-nos em lutas com alguns dos antagonistas da saga como o orc branco, Azog the Defiler. Para inovar, somos presenteados com alguns desafios em que o tempo e o ritmo são os principais componentes e uma espécie de oficina, em que podemos criar construções com objectos que apanhamos ao longo do jogo, como uma ponte, que reconstruimos com madeira e cordas, e que nos é necessária para atravessar para o outro lado da margem do rio e seguirmos caminho.
Os cenários são sempre animados e cheios de cores vibrantes e movimento e é incrível de observar a quantidade de tempo que foi investido em deixar tudo pormenorizado de acordo com o filme. E enquanto a história principal ocupa cerca de seis horas do nosso tempo, o resto é passado em exploração e em completar missões secundárias que vão sendo desbloqueadas à medida que avançamos de nível. Portanto nada é deixado ao acaso, qualquer peça que partimos nos pode dar elementos que necessitamos para terminar as missões. E embora a maior parte dos níveis sejam relativamente parecidos, outros parecem desenhados para nos impressionar, como estarmos a tentar escapar de dois gigantes de pedra que lutam entre si. Mas nem tudo é divertido nesta Middle Earth. Alguns destes objectivos secundários implicam regressarmos à história principal e jogar alguns capítulos com personagens diferentes para podermos desbloquear certos itens, o que acaba por tornar a nossa aventura repetitiva e confusa, pois nem sempre sabemos que personagens utilizar.
O melhor: cenários diversificados e em conformidade com os filmes; humor; variedade de personagens; exploração; puzzles desafiantes.
O pior: missões secundárias pouco apelativas; dificuldade em distinguir os personagens; jogabilidade por vezes repetitiva; história confusa.
Lego: The Hobbit acaba por ser uma experiência divertida, mais para quem já viu os filmes e reconhece as suas diversas personagens, cenários e situações. No entanto, apresenta-nos uma história confusa e com muitos espaços deixados em branco para quem não é conhecedor destas aventuras pela Terra Média. A tentativa de recriar uma espécie de mundo aberto com este título é de aplaudir, mas as missões secundárias que vão sendo desbloqueadas são muitas vezes incoerentes e levam-nos a tomar caminhos repetitivos e complicados. Mas sem dúvida que vale a pena seguir as viagens de Bilbo Baggins e companhia em Lego, pelo humor e sensação de camaradagem que oferecem, tal como as peripécias em que vamos participando e que nos enchem de vontade para explorar cada canto do mapa e saber que segredos, ou peças de lego, se escondem por entre… mais peças de Lego.
Análise da versão PS4.