Esta análise irá auto-destruir-se em 5, 4, 3, 2, 1…

Não, caro leitor. Não se trata de uma qualquer análise a um jogo da Missão Impossível, mas sim constatar que é, de facto, impossível fazer uma análise positiva ao novo título da americana Zombie Studios (que no seu curriculum conta, entre outros, com as adaptações para videojogo da franquia SAW), chamado Daylight.

Daylight 01

Pois… também eu queria!

 

Com uma premissa não propriamente inovadora, mas estreando uma “mecânica” que sinceramente me deixou bastante entusiasmado e intrigado, que era a possibilidade de sincronizarmos a nossa sessão de jogo com o site Twitch.tv; cuja interface de chat serviria, para que os espectadores decidissem através de comandos específicos o que apareceria ao jogador, passe a redundância, dentro do jogo.

A premissa que referi antes, não é de todo inovadora, uma vez que tira uma página directamente do livro de Project Zero, um título genial desenvolvido em 2001 pela velhinha Tecmo, para PS2 e Xbox na altura, em que encarnávamos uma colegial japonesa que se encontra numa mansão assombrada, armada apenas com uma lanterna e uma máquina fotográfica mágica, máquina essa que a mesma usava para “aprisionar” os espíritos malignos que por lá habitavam. Soa familiar? Claro que sim.

Neste Daylight somos Sarah, uma moçoila que acorda no meio de um hospital psiquiátrico abandonado, sem qualquer memória de como lá foi parar (soa às minhas sextas-feiras à noite, com a excepção de que no meu caso o hospital psiquiátrico é metafórico), tendo apenas um smartphone na sua posse; que simultaneamente funciona como fonte de luz e mapa.

Daylight 04

Chiça, tinhas muito melhor aspecto ontem à noite!

 

Outro conceito interessante é o facto da disposição dos níveis ser sempre aleatória, o que é um bom incentivo para que o jogador complete o jogo várias vezes… Até porque é a única forma de realmente “terminar” o jogo. Isto porque o objectivo do mesmo é encontrar uma série de notas (folhas) bem ao estilo de Slender, de modo a que seja possível encontrar um objecto que nos permite conhecer um pouco mais da história e, consequentemente, destrancar a porta para a próxima área. Tudo isto enquanto vamos alertando cada vez mais os espíritos/assombrações residentes para a nossa presença.

Mesmo não sendo, de todo, um jogo original na sua génese, Daylight parece obedecer a um paradigma estabelecido nos dias que correm em jogos de terror, retirando uma série de clichés a variadíssimos outros títulos, disfarçando alguma eventual preguiça com a constante presença de jump-scares suficientes para nos manter interessados. No entanto, devo referir ao prezado e mui ilustre leitor que este recurso se torna monótono (talvez o sinta por nutrir um gosto especial por filmes de terror desde petiz). Findo este pequeno fait-diver, voltemos à análise.

Daylight 02

Se não me querias emprestar os apontamentos, bastava dizeres…

 

Aqui caro leitor, chegamos ao verdadeiro calcanhar de Aquiles deste jogo, as suas tranças de Sansão, a sua kriptonite que é, de facto a capacidade para jogar o raio do jogo!

“Mas porquê?!” Pergunta o leitor. Porque a Zombie Studios mais ou menos duas semanas depois de lançar o jogo decidiu emitir um hotfix que permitia a alguns jogadores com computadores de gama mais baixa jogar o seu jogo como se de uma GTX Titan se tratasse… Isto fez com que o jogo “implodisse” de tal forma que foi pior a “emenda que o soneto” e muitos jogadores (incluindo eu próprio) deixassem de o poder jogar.

Por certo à data desta análise, já grande parte destes problemas terão sido resolvidos. No entanto, é sobremaneira importante mencionar que continuamos a ser brindados com títulos defeituosos, cujos crashespatches após o lançamento, não são mais do que uma tentativa descarada de nos separar dos nossos euros tão esforçadamente ganhos.

O melhor: O ambiente soturno e até arrepiante por vezes, que nos transporta ainda que brevemente para as noites de infância passadas a temer o escuro e os monstros debaixo da cama e atrás das portas. A possibilidade de integração do jogo com o público enorme de utilizadores do Twitch.tv e a aleatoriedade dos mapas.

O pior: A falta de originalidade, levantando várias características óbvias a outros jogos quase a roçar o potencial processo judicial, a por vezes óbvia preguiça que resulta em jump-scares. A auto-destruição do jogo a partir do momento em que pura e simplesmente deixamos de o poder jogar.

Sem dúvida nenhuma que Daylight possuía potencial para se tornar um dos melhores jogos de terror de 2014. No entanto revelou-se como um monstro de Frankenstein cujo todo foi composto por várias partes “roubadas” a vários sítios, deformado, triste e de cócoras a chorar num canto. O que abunda em ambiente assustador e soturno, iguala proporcionalmente em repetibilidade, frustração e monotonia… Tornando-se demasiado repetitivo demasiado depressa.

Daylight é um exclusivo PC e PS4. Testada a versão de PC.