Um canalizador que tem dinheiro para comprar karts e jogar ténis e golfe?! Acho muito bem!
De todos os desportos que nunca tive oportunidade de jogar, golfe é sem duvida o que mais me intrigou desde pequeno. O meu primeiro contacto com este desporto foi um cartoon de 1938 do Pato Donald, e a lição que tirei deste foi que o golfe era um desporto em que se usa um taco torto para tentar fazer uma pequena bola passar por cima de um grande corpo de água, sem lhe tocar. Não achava esta premissa minimamente cativante, mas a inclusão de uma das minhas personagens preferidas – Donald – levou-me a ver vezes e vezes sem conta esta curta animada. O mesmo se passa com World Tour.
Recentemente abriu um campo de golfe a apenas 15 minutos da minha casa, decidi que era desta vez que ia finalmente experimentar este desporto, e visto que este mal envolve atividade física, parecia indicado para mim. Depois vi os preços. Portanto estou inteiramente convencido que a única experiência que terei com golfe será com o meu amigo Mario, o que até me deixa numa boa situação.
A Camelot Software Planning desenvolve o franchise da Nintendo Gorufu desde 1999, e essa experiência é perceptível em World Tour. O maravilhoso canalizador da Nintendo pegou pela primeira vez num taco de golfe na Nintendo 64, e o titulo foi recebido com tal entusiasmo que se tornou num dos franchises satélite da conhecida empresa de videojogos. Desde então foram lançados mais três títulos Mario Golf, que tiveram moderado sucesso comercial e critico, e agora o aguardado (principalmente pelo Greg Miller) quinto jogo de Mario Golf finalmente chegou.
Falar de “história” relativamente a este titulo seria não o compreender de todo, falo-vos portanto de mitologia. O jogo não tem uma linha condutora mascarada com uma ténue estória genérica, em vez disso opta por nos dar oportunidade de explorar anarquicamente o seu mundo. Esta falta de narrativa pode parecer a principio perigosa, pois é muito mais fácil perder o interesse do jogador quando não há uma ligação emocional com o mesmo, no entanto HÁ uma ligação emocional entre o jogo e o jogador, e esta é potenciada pela inclusão do panteão de deuses Nintendo no titulo. As mascotes da Nintendo são um dos maiores fenómenos pop do mundo, e a simples inclusão de personagens como Mario e Luigi, pode ser considerada uma pura estratégia de marketing. E talvez o seja. Mas a verdade é que estas personagens estão tão bem caracterizadas que se sentem como entidades reais com personalidades distintas, e o jogador nem se apercebe da ausência de narrativa.
Desconstruindo as mecânicas de jogo por trás de World Tour parece-nos quase impossível perceber como é que o jogador se diverte ao jogá-lo. O gameplay é, afinal de contas, apenas uma amálgama de minijogos repetitivos que, sozinhos, seriam aborrecidos ao ponto de se tornarem quase ofensivos para a inteligência. Mas a junção destes elementos com um enquadramento de competição torna-os bastante apetecíveis, e apesar de não conseguir explicar objectivamente o que faz com que isto resulte tão perfeitamente, parece-me que é mais um caso da magia da Nintendo a atuar. No final de contas se descrevermos a Disneyland como “um aglomerado de edifícios com bonecos lá dentro” também não estamos a fazer justiça ao que ela realmente é. Existem algumas “marcas” que por estarem tão embutidas no nosso subconsciente social nos fazem sentir como crianças de novo, e não há formula matemática que meça isso.
O jogo introduz demasiadas ferramentas complexas para se dominar nos primeiros minutos, mas é refrescante ver um jogo japonês que não considera os seus jogadores figuras bidimensionais sem capacidade de explorar e perceber por si só mecanismos básicos (high-five ao Phil Fish). Vai demorar algum tempo a habituarmo-nos a todas estas ferramentas e variáveis que governam os “minijogos” dentro do gameplay de World Tour, mas o sentimento de conquista que se segue é sem duvida a melhor recompensa que podemos ter.
Um pequeno defeito: tive problemas em lidar com câmara. Mas não me vou prolongar quanto a isso, pois já percebi que é uma dislexia pessoal e não um defeito do jogo.
O melhor: A emersão no mitológico universo de Mario, e ver as personagens a divertirem-se no seu time-off. As polidas mecânicas de jogo, mais sólidas que pedra.
O pior: Um jogo para se jogar em pequenos períodos de tempo, ou torna-se aborrecido.
Mario Golf: World Tour é um jogo sólido e bem polido que apela a quase todo o publico de inicio, excepto quem (como eu) não percebe o sistema de pontuação do golfe… (Google, amigos, Google!) Não é “a próxima grande cena” nem pretende ser, nem precisa de ser para proporcionar inúmeras horas de diversão. Para quem tem a sua 3DS ou 2DS parada porque o pouco tempo que tem é em transportes públicos, e não dá para grandes histórias épicas, este é o jogo ideal. Deixem o smartphone em casa e levem mas é a consola!
Mario Golf: World Tour é um exclusivo 3DS.