Animal Crossing e a constante lembrança de distância.

Tom Nook

 

Desde o verão do ano passado que ando recorrentemente a voltar a Ontherun, a minha fabulosa cidade no Animal Crossing: New Leaf. Em Novembro dei finalmente o grande passo de ir viver com a minha namorada para o Porto e, com algum esforço da minha parte, consegui convencer a minha parceira tecnofóbica a dar uma hipótese a Animal Crossing. Escusado será dizer que adorou.

Rapidamente se instalou na minha cidade e criou a sua própria casa – obviamente. A sua recém descoberta paixão pelo jogo também incendiou de novo a minha, e ambos caímos numa padronização mútua de comportamentos dentro do jogo que nos levaram a valorizar o tempo que lá tínhamos: desde mandar presentes um ao outro até plantar pitfall seeds à porta do outro só para o irritar. Apesar de não nos podermos fisicamente encontrar no jogo, pois partilhávamos a mesma consola, o jogo tornou-se uma atividade de casal que fortaleceu a nossa relação em certos aspectos.

Corta para: eu volto para Lisboa, ela fica no Porto.

Todos os dias me encontro no barco do Seixal, que demora 20 minutos a fazer a travessia para o Cais-de-Sodré, o que é a duração ideal para a minha sessão diária de Animal Crossing. No entanto este jogo que uma vez foi uma maneira de me abstrair e desconectar da realidade torna-se agora um monumento aos 300km que me separam do amor da minha vida.

Encontro-me inevitavelmente em frente a uma imponente casa abandonada onde há 1 mês atrás me divertia a roubar plantas do seu extenso jardim, só para provocar uma reacção similarmente cómica por parte da minha namorada. Mas agora faço o contrário, cuido religiosamente do seu jardim para que tudo esteja tal-e-qual foi deixado quando um dia ela voltar a jogar. A realidade é que a probabilidade de isso acontecer é mínima, pois infelizmente a industria dos videojogos move-se mais rapidamente que as nossas divergentes vidas profissionais, e provavelmente quando voltarmos a viver juntos já tive que libertar espaço na minha consola para novos jogos.

É uma experiência muito pessoal, esta que partilho aqui convosco hoje, talvez até desinteressante para a maior parte, no entanto é mais um testemunho de como os videojogos (e outras peças de cultura pop) se podem tornar consciente e acabar por ter um papel na nossa vida e estado emocional que nunca foi planeado, nem pelos geniais developers da Nintendo.

Espero um dia voltarmos a estar juntos em Ontherun, e, eventualmente, no mundo real também.