& João Ortega e a luta eterna contra os títulos de artigos estupidamente longos
Caso A: Recentemente voltei a Lisboa para trabalhar num startup do meu irmão mais velho – que sempre foi o overachiever dos três – que foi aceite numa aceleradora muito importante em terras lusas, o Lisbon Challenge. O projeto é bastante ambicioso e faz um grande uso da tecnologia Bluetooth 4.0, tecnologia esta que possibilita a comunicação em tempo real entre dois aparelhos que a possuam, e muito mais coisas técnicas que eu não sei explicar. O contacto com todas as ideias disruptivas e inovadoras que esta tecnologia permite deu-me uma nova visão da industria dos videojogos, e da sua imaturidade em termos de hardware e periféricos.
Caso B: O meu entusiasmo pelo jogo Watch Dogs culminou hoje com o lançamento do mesmo, e com a realização que precisaria de investir cerca de 780€ para ser possível jogá-lo em pleno (TV HD + PS4 + Jogo). Uma pequena depressão começou a corroer-me o cérebro e acabei por quebrar o meu celibato cultural (numa tentativa de chegar “virgem” ao jogo, sem saber nada mais sobre o mesmo além do trailer da E3 do ano passado) e comecei a consumir tudo o que encontrava à frente sobre o mesmo. Penso que estou certo em afirmar que a arma principal do jogo é um smartphone, o que me agrada profundamente num mundo povoado de assassinos digitais.
A + B = AB: Porque não dar ao jogador a opção de usar um smartphone real para interagir com o jogo? Através de uma companion app?
Não me parecia viável a hipótese que os inovadores designers deste jogo não se tivessem lembrado desta possibilidade, portanto comecei a procurar informação sobre o assunto. Esta pesquisa tornou-se rapidamente num exercício inutil, visto que nada falava em casos particulares, mas sim em possibilidades estudadas em 1995 e patentes caducadas que nunca chegaram a acontecer.
Como alguém que está neste momento a dar os primeiros passos de bebé nos sapatos de um gamedev, não posso de maneira nenhuma acreditar que esta possibilidade não foi estudada. E visto que a tecnologia claramente nos permite este tipo de interacções o único problema és tu. E eu. O consumidor. A inovação é sempre algo pesadamente mediado em grandes estúdios, devido ao medo da falta de adesão ou compreensão ou tolerância por parte do consumidor, e desta vez parece que nos privou de uma excelente maneira de interagir com Watch Dogs.
Será que há algo que me está a escapar? Será que o hardware “next gen” é assim tão retrógrado que não prevê a integração de periféricos externos sem fios? Ou o medo de disrupção por parte dos estúdios AAA ainda é tão grande ao ponto de descartar uma funcionalidade óbvia que complementaria o gameplay perfeitamente? Qualquer que seja a resposta… é grave.
PS.: A app do Watch Dogs que vai ser lançada em breve tem funcionalidades completamente separadas do jogo em si e que não interagem em tempo real. É apenas uma complementaridade de marketing.
Comments (2)
Temos de pensar na usabilidade que isso iria trazer. Por exemplo, eu não me vejo a usar o telefone para “hackear” um semáforo no jogo enquanto estou a conduzir a 100kmh e a fugir da polícia. A distração seria demasiado grande. Estas integrações deveriam acontecer com periféricos que não precisem dos nossos olhos – um caso concreto e cada vez mais massificado é o controlo por voz. Por outro lado, também não se pode vender um jogo que obriga a ter um smartphone; existem milhares de razões para as pessoas não terem um sempre que se quiser jogar watch dogs.
Acho que seria interessante sim ter um jogo à parte (digamos assim) em tempo real que fosse afetado pelo jogo principal e que este side-game também afetasse o principal. Nada de coisas como fizeram para o GTA5, aquilo não era nada sinceramente… Mas é claro que estes jogos em tempo real também tem restrições: durante o horário de trabalho não me da jeito estar a jogar.
Posto isto, a integração que outros dispositivos é uma boa ideia mas complicada de se atingir pelos efeitos colaterais que pode ter. Se for obrigatório podem estar a deixar potenciais jogadores para trás pela obrigatoriedade de um periférico ou pela complexidade que pode trazer; se não for obrigatório, existe a decisão se o investimento é realmente necessário e até que ponto é que vai atrair jogadores.
My 2 cents
Miguel, o teu comentário é 100% válido, no entanto deixa-me comentar o teu comentário se não te importares:
Quanto ás conseqüências in-game que poderia ter um periférico: acho que ter um acidente no jogo devido a estar a usar um smartphone irl seria genial sinceramente, em termos de game design a disrupção interactiva provocada por ações reais relacionadas é um holly grail que ninguém ainda conseguiu fazer bem – só agora com os Johann Sebastian Joust’s deste mundo é que começamos a ver tal a acontecer.
Quanto à aquisição de um smartphone: é uma funcionalidade, não uma obrigação. O Transistor é melhor jogado na PS4 porque o comando age como uma speaking-box da espada, no entanto o jogo é 100% jogável sem tal funcionalidade.
Quanto á sugestão para jogo: genial! Reúne uma equipa e pfv faz isso haha quero mesmo jogar!
Obrigado pelo comentário informado e construtivo, é raro na internet! É sempre genial falar destes assuntos com pessoal interessado e inteligente.