Há uma verdade inevitável no jornalismo e crítica sobre videojogos: se poucas ou nenhumas pessoas lerem este artigo, eu amanhã sou livre para escrever outro. Se por obra de um universo paralelo eu escrevesse para uma publicação que me pagava para o fazer e amanhã me dispensarem porque ninguém leu o meu artigo, eu posso começar um blog e escrever outro texto imediatamente a seguir. No entanto, se os responsáveis das relações públicas não conseguirem convencer os outros a escrever sobre os jogos e a atingir o objectivo traçado de vendas, perdem o emprego. E isso não se resolve a abrir um blogue a seguir. É por isso que as agências de comunicação fazem um esforço tremendo para nos convencer que a última notícia que nos enviam é o melhor e mais quente assunto do dia. Desta vez, a coisa aqueceu mesmo.

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O esforço de promoção aumenta exponencialmente quanto maior é o risco do produto (leia-se: gastámos milhões a fazer isto, se não vender rolam cabeças). Por isso é que numa E3 e numa Gamescom há comida e bebida quase à descrição, e por isso é que acumulamos uma quantidade gigantesca de t-shirts, pens, bonecada, puzzles, chapeús, e é por isso que se dão voltas a autódromos ou passeios de tanque. A razão é simples. Um determinado número de pessoas precisa de manter o emprego.

Ontem a brigada de minas e armadilhas foi chamada aos escritórios da ninemsn, que é a maior rede noticiosa e de entretenimento da Austrália, fazendo parte do grupo da Microsoft. Embora faça uma cobertura generalizada sobre todos os assuntos, os destaques da ninemsn vão para reportagens de importância extrema e fundo jornalístico como o murro que o Brad Pitt levou. Ou seja, é assim como se o Correio da Manhã fosse comprado pelo Google: as moscas passavam a ser douradas.

Dog smells Dogs that Watch Dog that smells.

Dog smells Dogs that Watch Dog that smells.

 

O susto começou quando um cofre foi entregue aos jornalistas, acompanhado por uma mensagem de voicemail que alertava para aquele ser um pacote de promoção ao novo jogo da Ubisoft. Ora, sem acesso ao voicemail, os jornalistas introduziram um pin (provavelmente errado) e receberam do cofre um reconfortante: bip, bip, bip, bip. O que só pode significar três coisas; 1 – jornalistas que não fazem cobertura de videojogos fazem a associação mais rebuscada do mundo entre o bip e o jogo Watch Dogs; 2 – Alguém está a tirar a febre com um daqueles termómetros digitais; 3 – É uma bomba.

Ganhou a opção número 3 e foi chamada a brigada, mas atenção que existe um pormenor curioso. Antes de chamarem a polícia os jornalistas telefonaram a outras publicações para saber se também tinham recebido o pacote. É como se nos entrasse no banco uma pessoa rodeada de explosivos e o caixa com uma cara de quem não está nada convencido, começar a ligar à concorrência a perguntar se está a acontecer o mesmo. Como quem pergunta ao vizinho se também está sem luz.

Ambrósio, apetecia-me algo... explosivo.

Ambrósio, apetecia-me algo… explosivo.

 

Bem, com isto a Ubisoft foi obrigada a um pedido de desculpas, conseguiu a publicidade que queria (como se comprova por eu estar aqui a escrever este artigo) e os empregados da publicação foram dispensados o resto do dia. Ao que parece 80% deles foram para casa jogar. Candy Crush e Flappy Bird.