Lulas à Valenciana

Abrimos ontem com o Chicken Nugget do Frederico Lira sobre o Octodad, o primeiro Festival do Molusco e do Cefalópode do Rubber Chicken. Se ontem tratamos do polvo, hoje escalamos umas lulas em RPG, um prato muito apreciado nas Seixeles (falamos das pequenas arribas para os lados do Seixal, e não das Seychelles).

Squids foi originalmente lançado para iOS, o que explica a transposição desta sequela Squids Odyssey e de muitas das mecânicas directamente para o Game Pad da Wii U, e surge-nos como o filho possível entre Angry Birds, uma série de calamares, uma mesa de bilhar e o clássico Final Fantasy Tactics. Apesar de à primeira vista a frase anterior soar à descrição de um filme pornográfico estranho, daqueles que só se encontram nas profundezas mais escondidas da internet (onde nós nunca andámos é claro) é também a descrição mais pura deste jogo. Como é que este cruzamento foi feito? Desconhecemos. Mas prometemos investigar mais sobre o androceu cefalópede para o explicar.

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Inspirado numa visita oficial de um antigo Presidente da República.

 

A demonstrar influências nas mecânicas de “fisga” de Angry Birds, neste jogo da francesa The Game Bakers temos um ambiente western subaquático, em que os protagonistas são lulas que se propulsionam pela água com a ajuda dos nossos dedos. Ao contrário do famoso jogo da Roxio em que temos uma vista lateral e trabalhamos com a compreensão da gravidade e da inércia do arremesso, em Squids Odyssey a sua vista aérea e o facto de que impulsionamos as lulas em linha recta, faz-nos perceber que o que estamos a jogar é um snooker RPG em que as nossas bolas são lulas *1 as bolas inimigas são criaturas negras que querem conquistar o mundo marinho *2.

A componente de RPG táctico centra-se no sistema habitual de evolução e aquisição de itens que melhoram as nossas estatísticas,  enquanto temos de atirar as nossas lulas por turnos contra as criaturas inimigas, levando a zero a sua barra de HP ou atirando-as para o limite do cenário para as derrotar. Tendo sempre cuidado, tal como fazemos a jogar snooker ou berlindes, de prever o posicionamento final da nossa lula depois de dada a “tacada”, para que por um lado ela não fique vulnerável a ataques inimigos, ou sob risco de ser empurrada para fora do mapa. Tudo isto com tabelas, combinações de ataques ao efectuarmos múltiplas tabelas, componentes do cenário que danificam quem chocar contra si ou correntes de água que nos levam para longe, para além de termos de regular a propulsão e o ângulo da nossa “tacada”. É portanto pacífico, que se alguém nos pedir para descrever Squids Odyssey numa frase, que ela seja simplesmente um jogo de snooker RPG e western subaquático com lulas cowboy. E depois só temos de esperar pelos simpáticos senhores que nos trarão uma camisa especial, daquelas que se apertam com as mangas atrás, e que nos levarão para outro lugar, onde tudo é mais relaxante.

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Da esquerda para a direita: Zé Aviador, Maria Estrela-do-Mar, Sheriff Lula da Silva, e Carlos Ta Cho.

E depois pensamos também que quando descrevemos a alguém o curling, o jogo olímpico de  Inverno, que a estranheza dos nossos interlocutores é semelhante.

As largas dezenas de níveis são bastante curtos, e demonstram o seu pendor mais casual e mais apropriado para o mercado mobile. Ainda assim, a sua longevidade, complexidade e dificuldade tornam-no digno de alguma atenção, e rapidamente vamos começar a tentar criar a party perfeita para conseguirmos não só ter um bom poder de ataque, impulsão, ataques especiais e cura, e dessa forma conseguir ultrapassar um RPG táctico difícil que nos faz jogar com a percepção geométrica espacial tal como o snooker.

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O bom, o mau e a lula recheada.

 

Mas um dos grandes pontos deste Squids Odyssey é mesmo o visual, que não só tem algumas ideias bastante criativas à volta dos concepts das lulas cowboy e das restantes criaturas marinhas que nos rodeiam, mas tambem dos cenários que estão brilhantemente ilustrados.

O melhor: o desafio, a originalidade e a longevidade.

O pior: excessivamente casual e simplista para os fãs de RPGs tácticos.

Squids Odyssey é a possível aproximação de mecãnicas conhecidas do público em geral e fãs de Angry Birds e a simplificação de um RPG táctico. Não possui, nem de perto nem de longe, a complexidade estratégica de um jogo típico do género, mas compensa essa falta com a estranheza do setting, a qualidade visual e o desafio que providencia. A chegar em breve para a 3DS, o seu espírito de jogo rápido poder-se-á ajustar melhor à consola portátil do que à doméstica da Nintendo, não deixando de qualquer forma, de brilhar com todo a magestosidade cefalópede na nossa TV da sala.

Squids Odyssey é um exclusivo Wii U. Em breve também na 3Ds.

*1 evitem, por favor, descontextualizar a frase anterior

*2 idem