“Ein Volk, Ein Reich, Ein Führer…”

Nesta era de First Person Shooters dominada por clones genéricos de Call of Duty, em que existem MMOs militares em barda, todos mais ou menos iguais uns aos outros, é difícil encontrar um oásis no deserto que são os shooters modernos.

Para quem acompanha os meus artigos desde que comecei a debitar as minhas postas de pescada neste site há cerca de dois meses, por certo já se apercebeu que nutro um carinho muito especial pelos chamados jogos retro, ou seja, partilho da opinião que nem sempre grandes gráficos fazem grandes jogos. Posto isto, há uns anos saiu um dos shooters mais antecipados, arriscaria a dizer, de sempre, com o título de Duke Nukem Forever… E as expectativas não podiam ser mais altas, talvez fruto do seu processo de desenvolvimento que durou 12 anos e da passagem por uma série de developers. Resultado: o jogo ficou uma amálgama disforme de mais um jogo tão igual a tantos outros, com turret sections em catadupa e, surpresa, um sistema parecido com Call of Duty em que o nosso bem-amado Duke só poderia carregar duas armas ao mesmo tempo. Isto para quem jogou e adorou o mítico Duke Nukem 3D, era um absoluto sacrilégio.

Wolfenstein the New Order (1)

Que metáfora tão apropriada para descrever este jogo…

 

Depois, passados 3 anos… Eis que a Bethesda lança um jogo que é tudo o que Duke Nukem Forever gostava de ser mas não é, uma luz ao fundo do túnel dos shooters genéricos com campanhas de singlepayer que duram 3/4 horas, que fazem do modo multi-jogador a sua bandeira e que, acima de tudo, trocam diversão pela seriedade e pseudo-realismo irritante. Falo, obviamente, do fantástico Wolfenstein: The New Order!

Mas então que tem este jogo de tão especial para que eu o apelide de “fantástico”? É fácil, sendo uma sequela de um jogo que originalmente saiu em 1995 (Wolfenstein 3D), não desrespeita o seu material-fonte, e muito pelo contrário, aproveita cada oportunidade para lhe prestar tributo.

Wolfenstein the New Order (4)

Ahhh que saudades!

 

Wolfenstein: The New Order não pretende ser mais do que aquilo que é, nem mais nem menos, existe apenas por si e pela diversão do jogador.

setting é um planeta Terra circa 1960, no qual a Alemanha nazi ganhou a 2ª Guerra Mundial e, consequentemente, possui o domínio do Mundo. Na história encarnamos o Capitão da Americana OSA, William Joseph (B.J para os amigos) Blazcowicz, e começamos o jogo logo no epicentro da acção, tendo que saltar literalmente de avião em avião, subir muralhas em rappel, e o meu favorito, rebentar miolos de soldados nazis, tudo isto antes de entrarmos no jogo propriamente dito. Culminando numa escolha que muito raramente os jogos deste género se atrevem a colocar aos seus jogadores, num claro sinal que pretende proporcionar-lhes uma experiência diferente do status quo. Uma novidade muito bem-vinda na minha opinião.

O que se segue é uma campanha de singleplayer a rondar as 20 horas(!), sem qualquer modo multiplayer de qualquer espécie, apostando na história, na jogabilidade e na diversão… pois neste jogo, além do imenso arsenal que podemos transportar simultaneamente, podemos também fazer dual-wield de espingardas de assalto, metralhadoras, caçadeiras, armas laser e um rôr de outras armas, que decerto farão as delícias de qualquer gore-hound que se preze.

Wolfenstein the New Order (5)

Say hello to my little friends!

 

Podemos também fazer o nosso próprio cover através da utilização de uma espécie de “cortador de metal a laser”, que nos permite adicionalmente aceder a áreas que de outro modo permaneceriam inacessíveis.

A profundidade de Wolfenstein. The New Order é surpreendente, isto porque, além de distribuirmos “fruta” a nazis desde as profundezas do oceano, até às crateras da lua, poderemos fazer amizade e tomar ácidos enquanto ouvimos solos de guitarra eléctrica, de um personagem que é um claro tributo a Jimi Hendrix e que terá um momento do mais épico que se possa imaginar.

Wolfenstein the New Order (2)

Purple haaaaaze..

 

Wolfenstein: The New Order não dá a mãozinha ao jogador, não senhor… Este jogo não é para os fracos, não existe regeneração de vida e podemos apenas contar com a nossa argúcia e os nossos reflexos para sobreviver. Se bem que a IA dos inimigos de quando em vez ajuda um bocadinho, com umas atitudes no minimo questionáveis.

Por outro lado, uma mecânica interessante é o facto de podermos apanhar pedaços de metal para adicionar à nossa pool de armadura, especialmente quando conseguimos aniquilar o infame Ubersoldat, ao qual podemos inclusivamente “roubar” a arma depois de o matarmos.

Wolfenstein the New Order (3)

Quantos são? Quantos são…?

 

A história é também envolvente e madura, com variadíssimos momentos picantes não aconselháveis a menores de 18 anos. Os antagonistas são surpreendentemente tridimensionais, com uma série de situações dentro do jogo que nos farão genuinamente odiá-los. De notar também a excelente banda sonora, que inclui uma versão da House of The Rising Sun  e um tributo genial aos Beatles, que nesta realidade são uma banda de Liverpool que foi obrigada a cantar em alemão e lançou um álbum chamado Das Blaue U-boot.

O melhor: O facto de ser um FPS que tenta quebrar com a hegemonia do copy/paste genérico que são os shooters militares  modernos, tentando criar uma narrativa em modo singleplayer que muito raramente se encontra nos dias que correm. O facto de não querer ser mais do que aquilo que é, ou seja, um balls to the wall shooter, mas que acaba por proporcionar momentos absolutamente intensos e dramáticos e envolver o jogador (especialmente se for fã de FPS da “velha-guarda”) numa história que é simultaneamente emotiva e recheada de acção. O Max Haas!

O pior: O facto de na versão de PC ocupar uns monolíticos 44 gigas. As texturas, para o tamanho que o jogo ocupa podiam ser muito melhores mesmo com tudo em ultra. A IA que por vezes de I tem pouco, ocasionalmente, entre actos, deixa-nos com a sensação que existem umas fetch-quests cujo único propósito é prolongar o tempo de jogo, mesmo que na sua maioria sejam bem interessantes.

Em suma, Wolfenstein: The New Order leva uma tremenda recomendação deste vosso amigo. Se procura um FPS diferente do que tem saído nos últimos tempos , se está farto do Call of Duty e do Battlefield e se para si o Duke Nukem Forever foi um pontapé nos tintins de todo o tamanho. Então não tema, pois este título não o deixará ficar mal.

Wolfenstein: The New Order está disponível para todas as plataformas (testada a versão de PC).