Quando as galinhas voam alto como corvos
Se é verdade que ficamos felizes de ver boas ideias serem adaptadas com sucesso a videojogo, também não é menos verdade quando vemos que essas boas ideias partem das mentes talentosas de portugueses. E não o dizemos sob a luz daquele “portuguesismo” patológico do qual já falámos e criticámos, que tolda a avaliação sensata de dado objecto criativo, mas sim porque estes bons exemplos de videojogos a verem a luz do dia (e feitos inteiramente por portugueses) fazem calar todos os cépticos de que é impossível fazer bom em Portugal. E ficamos ainda mais felizes, orgulhosos até, quando conhecemos de perto as pessoas envolvidas e percebemos que a materialização de dada obra é a aplicação do imenso talento que sabíamos possuírem. Munin vai ser lançado no próximo dia 10 de Junho no Steam pelas mãos da editora Daedalic Entertainment e produzido pelo estúdio português Gojira. Na génese criativa estão dois membros desta grande capoeira familiar que é o Rubber Chicken, aos quais se lhes juntaram mais dois membros aqui da casa. E é acima de tudo por essa razão e pela rígida ética jornalística que nos demarca que não iremos fazer qualquer análise ao jogo, e possivelmente este artigo será a nossa única referência ao mesmo. Ainda que à luz da nossa curiosidade criativa e opinativa tivéssemos uma gigantesca vontade de o analisar, de forma este sentimento é suplantado pela nossa necessidade de manter a imparcialidade e de nos afastarmos de tecer comentários avaliativos sobre um jogo feito por grande parte da equipa que constitui o Rubber Chicken.
Encontramos aqui um jogo de plataformas e puzzles, onde temos de girar partes do cenário para mudar o destino a Munin, o corvo mensageiro de Odin que foi transformado por Loki numa jovem rapariga. Para voltar à sua forma original terá de coleccionar penas que se encontram espalhadas por entre 77 níveis distintos.
E que simbolicamente o dia 10 de Junho, dia de Portugal, e dia que este Munin verá a luz do dia, seja também mais um marco da expansão criativa e do talento português além fronteiras. E que se calem de vez as vozes que acham impossível alcançar alguns objectivos pela nossa pequenês geográfica. Que se prove que o talento e o trabalho suplantam todas as adversidades e que até uma galinha pode voar bem alto, orgulhosa nos céus, ladeada pelo crucitar de corvos.