Desde 2012 que a Ubisoft utiliza a mesma estratégia nas suas conferências. Escolhe um teatro mais pequeno que comporta menos pessoas e menos media, num ambiente muito mais íntimo e exclusivo. Enquanto a concorrência faz espetáculos de fumo e espelhos mas onde quase tudo é uma ilusão (leia-se trailer ou pouco para dizer) a Ubisoft habituou-nos a assistir a truques de magia surpreendentes, parecidos com os que se assistiam nos teatros do século passado, tirando os melhores coelhos da cartola. Este ano, no entanto, a Ubisoft não trazia novos truques na manga e limitou-se a desfilar aquilo que já todos conhecemos. É como se assistíssemos ao truque de serrar a caixa, ou de levitar a pessoa que se repete ano após ano, mágico após mágico, mas desta vez com mais polígonos.
Felizmente a actriz Aisha Tyler veio menos histérica este ano e acertou finalmente no tom da apresentação. Era escusada a referência anual que vem apresentar a conferência porque é uma gamer e adora os jogos, numa já repetida e gasta narrativa da “gaja grossa que também gosta de jogos”. Aisha, o mundo todo já joga, e esse isco já não traz peixe. Mas o tom de apresentação foi acertado e foi a melhor pessoa em palco de qualquer das conferências com uma mistura e equilíbrio certos entre apresentação e entusiasmo. As lágrimas em Rainbow Six foram um pouco over-the-top, mas quem sabe não lhe garantem um lugar na quinta série da Guerra dos Tronos.

Menos Aisha… menos…
A Ubisoft tem também a tendência para usar a palavra fuck de uma forma mais livre nas suas apresentações, mas faz tantas vezes que não consegue esconder que o faz propositadamente para parecer mais cool e independente. É nestas pequenas coisas que se sentem que as pessoas que estão nos bastidores, semanas antes a pensar no marketing e apresentação destas conferencias já estão um pouco desajustadas da realidade do que é uma jogadora e um jogador actual. Quando queres ser fuck e Just Dance 2015 na mesma conferência, you’re doing it wrong. Mas vamos ao importante: os jogos.
Far Cry 4
Esta E3 mostrou-nos finalmente aquilo do que são jogos de próxima geração em termos gráficos e Far Cry foi um dos melhores showcases do que nos esperam os próximos mundos abertos. É certo que foi mais surpreendente a demonstração na conferência da Sony que nos apresentou “voos” de wingsuit, jogabilidade e especialmente elefantes a abalroar carros que se cruzam no seu caminho, o que pode ser um bom indicador de uma inteligência artifical de nova geração com um comportamento mais realista dos NPC’s mas também dos NPA’s (Non Playable Animals).
A Ubisoft mostrou-nos os primeiros 5 minutos do jogo, mais cinemáticos e menos jogáveis, para nos apresentar o setup da história. E é aqui que voltamos à antiga geração. Sim, as caras são mais realistas; sim as animações também; sim, all the prety lights, mas a narrativa de arranque é igual a tantas outras em tantos jogos e tantos filmes, do gajo errado, à hora errada, no local errado: neste caso Ajay Ghale (que a juntar a Arno de AC: Unity mostra que a Ubi não anda com muita veia para nomes) que vai deixar as cinzas da mãe a um país onde rebeldes e forças de guerrilha andam à pancada. De nada servem as potentes placas gráficas da nova geração se os argumentistas não nos entregarem experiências novas.

Lucy, já te disse para não pores a roupa de cor na máquina da roupa clara!
A escolha do filho bastardo de Julian Assange e Yannick Djaló como vilão também nos parece muito menos carismática do que poderia ser. É certo que não devemos julgar antes de ter mais informações mas depois de perceber que o excelente Vaas não era o vilão principal de Far Cry 3, não seria a primeira vez que a Ubisoft desperdiçava antagonistas.
A maior expectativa vai como já referi para uma superior IA que proporcione encontros e desencontros mais excitantes com inimigos e animais, e para a verticalidade que os Himalaias e o Wingsuit proporcionam.

Y U No Innovate?
Just Dance 2015
Pensem duas vezes antes de… ou melhor… pensem sempre quatro vezes antes de gozarem com Just Dance. É que quatro é o número da posição de vendas deste jogo no Natal do ano passado a nível mundial. O mercado casual (e dos gamers hardcore que ainda não saíram do armário) adora abanar-se em frente a televisores e a grande novidade este ano é que o jogo passa a ser controlável por qualquer ecrã ligado à internet. NOTA IMPORTANTE: por ecrã ligado à internet estou a referir-me a um smartphone ou um tablet. Não é de todo aconselhável porem-se a dançar com a vossa Smart TV de 42 polegadas ao colo.
Existe aqui um pequeno pormenor que pode escapar a quem esteja menos atento. É que se é possível qualquer aparelho, mesmo que seja com uma ligação 3G, ou um Android mais ranhoso, e com a afirmação que podem juntar-se milhares de pessoas ao jogo, os problemas de lag vão ser mais que muitos, daí que a decisão de quem ganhou a dança vai ser totalmente aleatória e injusta. Mas a malta não quer saber. A malta quer é abanar-se em frente a qualquer coisa (that’s what she said) e os chineses vão explodir o negócio de capas de protecção para os aparelhos, quando estes se começarem a partir no chão e nas paredes das salas de estar ao som de Happy.

O maior lucro vai ser o das lojas que substituem os ecrãs.
The Division + The Crew
Um já deslizou para 2015 e sinceramente parece-me que o outro vai pelo mesmo caminho. O trailer de The Crew era desinspirado, mas foi a mostra de Gameplay dos testes que estão a ser feitos a nível mundial com vários jogadores que nos pareceu ver um jogo ainda pouco polido. No dia 23 de Julho começa uma closed beta só nos PC’s mas não me admirava ver este MMO com carros a derrapar para o ano seguinte.
Já o trailer de The Division é dos mais belos até hoje lançados mas sobre isso havemos de dedicar um artigo separado nas próximas semanas. É que os trailers CGI são como as boas intenções, e Satã já não tem mãos a medir com a falta de espaço (especialmente depois das conferências da EA e da Sony).
Assassin’s Creed: Unity
A Ubisoft revolucionou as mecânicas principais: Marketing Bullshit. O novo Anvil Engine proporciona uma experiência totalmente nova nesta geração: Lead Engineer Bullshit. Um novo controlo de parkour e um novo sistema de combate: Game Director Bullshit. Novos modos de stealth: dá para carregar num botão e fazer crouch… ou seja, bullshit. Pelo que vimos de jogabilidade é o mesmo Assassin’s Creed que já jogámos vezes sem conta mas com luzes, dimensão, animações e populações maiores e mais detalhadas. Quase o resto estava praticamente igual naquele que já se tornou a leiteira da Ubisoft.
Mas atenção que o quase em Assassin’s Creed Duty, perdão, Unity, tem uma excepção agradável: o modo cooperativo com 4 jogadores. Esta é a única novidade que me faz querer experimentar o novo AC a partir de 28 de Outubro deste ano e juntar-me com três amigos para andarmos todos a correr e a empurrar e roubar pessoas na rua, já que isso do assassínio é tão ano passado…

Quem é que mandou tirar o cadeado da lua-de-mel que eu deixei na ponte?
Shape Up
Pela primeira vez um jogo de Fitness deu-me vontade de o ter e jogar e acho que a Ubisoft acertou no tom certo para este género de jogos. Vão ver a quantidade de Wii Balance Boards vendidas e vão perceber que este também é um género de sucesso, apenas com a desvantagem que as Balance Boards não servem para pendurar roupa na varanda ou no quarto. Mas em Shape Up não há acessórios, pelo menos perto do corpo, uma vez que o jogo só precisa da câmara. É impressionante a forma como Shape Up nos recorta do que está atrás de nós em tempo real, mesmo sem um fundo uniforme, mas isso só é possível graças aos processadores que estão dentro do Kinect 2.0, e é por essa razão que este é um exclusivo Xbox One.
As rotinas de exercício quase surrealistas em que fazemos flexões a levantar tanques, elefantes e baleias, ou o fitness com o piano do filme Big com o Tom Hanks (e com esta referência atingi apenas 5% da nossa audiência) misturado com o Guitar Hero são deliciosamente divertidos. Com um programa de treino de 4 semanas, em que cada dia temos uma quest de 45 minutos para completar e no final do programa um boss para derrotar, para mim a razão de ter uma Xbox One já deixou de ser o Titanfall.
Valiant Hearts – The Great War
O momento Journey da apresentação. É certo que apenas vimos um trailer adorável, sobre vários personagens na guerra, as suas cartas, e um cão que os liga a todos e que estava quase sempre tão triste que me apeteceu levá-lo para casa. Mas vindo da Ubi Art Framework, a divisão da Ubisoft responsável por Rayman Origins, Rayman Legends e Child of Light, é razão suficiente para estarmos com vontade de experimentar este livro de aventuras animado, que é como a marca está a promover o jogo. A partir de 25 de Junho já o podemos apreciar.

O anti-Nyan Cat.
Rainbow Six: Siege
Para o fim estava guardado o coelho na cartola. Se bem que habituados que estamos à apresentação de algo disruptivo e original (como nos casos de Watch Dogs em 2012 e The Division em 2013) aquilo que nos foi mostrado pareceu fraco. Mas só porque estamos mal habituados e porque já estávamos há 6 anos há espera de um Rainbow Six, porque o jogo parece estar viciante e muito bem pensado graças a um pequeno pormenor: todo o cenário é destrutível. Podermos rebentar o tecto por cima dos terroristas, depois de termos estudado com drones o interior de uma divisão, vai dar lugar a momentos de estratégia cooperativa bem entusiasmantes. O desenho dos níveis apertados mas com surpresas como um sniper inimigo na casa do outro lado da rua promete uma variedade bem pensada de “arenas” de combate. Só tenho pena de este ser um jogo sem single-player, porque nem sempre tenho amigos online suficientes e não me apetece planear ataques com a “música” (desculpem o eufemismo) de Justin Bieber ao fundo.
Limpinho, limpinho.
Este foi o resultado da conferência da Ubisoft, sem grandes altos, sem grandes baixos, certinha e bem arrumadinha. Um equilíbrio certo entre trailers e jogabilidade mas com muitos franchises já conhecidos, alguns a começarem a acusar a repetição. Shape Up e Rainbow Six foram os únicos truques debaixo da manga, mas os coelhos só mesmo os Rabbids do inicio enquanto esperávamos o arranque da conferência. Para o ano há mais, esperemos é que não seja mais do mesmo.