Os Descobrimentos permitiram a Portugal e ao Mundo de se conhecerem, de criarem laços culturais, e de expandir o conhecimento científico da época. Mas com a Época Áurea do expansionismo português advieram também uma série de malefícios para a Humanidade que não devemos, nem podemos esquecer. Desde o colonialismo atroz, passando pela anexação ou obliteração dos habitantes das terras “descobertas” (onde o expansionismo espanhol nos ultrapassou em barbárie e em sanguinolência), e culminando, é claro, na criação de uma das maiores rotas de venda de escravos que encontramos na História.
Esquecer o nosso passado é um gigantesco risco, sejam os elementos dos quais nos orgulhamos, seja dos terrores que tentamos guardar num lugar recôndito da nossa memória. Esquecê-lo é incorrer na possibilidade de o repetir. Esquecê-lo é também esquecer que a par de termos sido co-culpados da crueldade subjacente à escravatura, também fomos dos primeiros Estados-soberanos a aboli-la.
O passo normal na forma como os videojogos têm crescido, é o facto de nos trazerem de forma interactiva e até lúdica alguns temas mais complexos e cujo grande intuito é, acima de tudo, fazer-nos reflectir. Thralled é um jogo que está a ser produzido pelo game designer português Miguel Oliveira e cujo intuito é levar-nos ao peso emocional da escravidão portuguesa no Séc. XVIII no Brasil ocupado pelo Império Colonial Português. Vamos reviver o passado negro do nosso colonialismo pela mão de Isaura, uma escrava capturada no Congo e que é separada do seu bebé ao chegar ao Novo Mundo, para onde irá trabalhar sob pulso de ferro nos grandes canaviais.
Toda esta viagem emocional manifesta-se sob forma de arte interactiva e que promete apertar-nos a tristeza no peito, enquanto temos de conduzir Isaura a proteger o seu pequeno bebé a meio das agruras da paisagem escravocrata do Brasil do Séc. XVIII. Thralled é mais um exemplo da maturidade emocional e conceptual que os videojogos vivem, muito graças à total liberdade criativa do mercado independente.