É verdade que muitas vezes compramos bundles solidários porque um ou outro jogo nos agrada ou simplesmente porque comprar uma série de jogos por menos de 5 euros nos parece um belíssimo negócio. Também é verdade que muitas vezes não chegamos a experimentar 1/10 do que vamos adquirindo, mas há uma parte de nós que secretamente se sente um herói: algum dinheiro dos bundles que comprámos revertem para obras de solidariedade!
Paralelamente a isto há um problema intrínseco a ter-se muitos jogos para se jogar: nunca sabemos qual escolher. E se longe vão os tempos em que conseguíamos um jogo novo para o nosso Game Boy quase de ano a ano, as oportunidades que culminam com os Saldos do Steam e afins enchem as nossas prateleiras virtuais de dezenas de jogos que potencialmente não vamos conhecer nada para além do seu próprio título.
Num destes périplos pela minha lista de jogos do Steam ou do Desura, acabei por encontrar algo mais casual que me chamou a atenção numa noite de sábado à noite: um pequeno indie chamado Farm for your Life. Há que esclarecer antes de mais que eu fui um dos muitos milhares de viciados no jogo Farmville da Zynga, muito antes de se ter tornado mainstream. Poder-se-ia dizer que sou o arauto hipster dos casuais-que-agarram-tias-ao-Facebook.
Estava a preparar-me para um Harvest Moon menos filosófico e menos complexo, ou um Farmville em que não tenho de mendigar posts ao meu grupo de amigos, mas encontrei em Farm for your life não apenas um jogo em que temos de gerir uma quinta e um restaurante anexo. É tudo isso com uma agravante: de noite vêm zombies atacar-nos. E para quê indagar-se-ão? Dizimar os animais da quinta? Transformar os habitantes da nossa aldeia em zombies? Comer galinhas de um trago como quem desliza tremoços com copos de imperial? Sorver o doce suco cérebro-espinhal acompanhado por encéfalo em molho Tártaro? De forma alguma. Os zombies atacam-nos para roubar o nosso milho, as nossas batatas, as nossas alfaces e cenouras. E como é que nos defendemos? Atirando-lhes com milho, batatas, alfaces e cenouras. Parece-me tão racional quanto demover assaltantes de banco atirando-lhes com saco de dinheiro para cima. “Toma bandido!”, já dizia a outra senhora.
É verdade que os zombies são uma temática algo gasta. Dizem que o grande mestre Romero tem um pêlo encravado por cada filme, série, livro, videojogo ou banda-desenhada que é criada em torno dos mortos-vivos. O que lhe tem valido a carinhosa alcunha de Homem-Borbulha.
Depois de zombies que se apaixonam por humanas, ou vampiros que brilham e que se recusam a beber sangue, o próximo passo lógico seria obviamente zombies vegan. Pernas de mulher jovem, bracinhos de atleta e pescocinho de xerife são tão 2010. Venha de lá o tofu e o milho por favor.
“BRAAAAAAAINS?”. Nãaaao! “BRÓOOOOCULOS”!
Nota: imagem de capa do ilustrador Ben Miller.