Infelizmente, a indústria dos videojogos é o que se pode chamar de um man’s world. E isto espalha-se por toda a indústria, não só na produção de jogos como também em quem os joga, quem escreve sobre eles, quem gosta. Nos últimos anos tem vindo a popularidade destas aventuras por terras virtuais tem crescido entre o público feminino, no entanto parece não ser o suficiente e as mulheres e raparigas deste mundo escolhem não usar o seu tempo para estar em frente a uma televisão ou a um computador, agarradas a um comando. Podemos observar então dois fenómenos distintos nos videojogos: ou as personagens femininas são extremamente avantajadas em todos os aspectos físicos, como objecto de tentação para o sexo masculino; ou não existem de todo.
Assassin’s Creed já conta com sete títulos principais e mais uns quantos alternativos e só em um deles é que a personagem principal é uma mulher, em Assassin’s Creed III: Liberation, com a assassina de Nova Orleãs, Aveline de Grandpré. Em todos os outros a testosterona é quem manda, embora tenhamos sempre personagens secundárias repletas de estrogénio jogáveis, na opção de multiplayer. Uma das particularidades do novo jogo do franchise, Assassin’s Creed: Unity, é poder jogar-se em ambiente co-op com mais três jogadores. Nesta versão o jogador vê-se sempre como Arno, o herói desta história, e está com mais três assassinos. Nenhum destes companheiros, no entanto, será uma mulher pois, segundo a Ubisoft, teriam o dobro do trabalho.
“É o dobro das animações e de vozes. E em especial com o facto de podermos costumizar os assassinos seria muito mais trabalho extra de produção,” explicou o director creativo da Ubisoft, Alex Amancio.
Esta opinião não foi a mais popular e já não é a primeira vez que uma empresa responsável pela criação de videojogos é atacada por não ter personagens femininas como principais. Aconteceu o mesmo quando foi lançado GTA V e existiram questões sobre o porquê de existirem três homens como personagens jogáveis e não também uma mulher, já que também este franchise nunca teve uma criatura de Vénus a liderar um jogo.
Mas temos que compreender que criar uma mulher dá muito mais trabalho. Vejam só as curvas e contra curvas que estes pobres senhores têm para desenhar e produzir. Que o diga Lara Croft, de Tomb Raider, que tanta cirúrgia plástica já sofreu. Numa indústria que devia primar por chegar a todo o tipo de público, é complicado explicar o porquê de uma empresa como a Ubisoft, que conta com pelo menos nove estúdios espalhados pelo mundo e centenas de trabalhadores não podem “desperdiçar” tempo nem dinheiro na criação de personagens femininas.
Comments (2)
Olá, Maria! Sou um leitor caladinho mas assíduo. Quero apenas dizer que não compreendo o alarido em torno daquilo que, para mim, é um não-assunto. A resposta da Ubisoft é infeliz e suficiente para fazer notícia, com certeza, mas a questão colocada é disparatada e, na minha opinião, resultado exclusivo deste activismo barato de Internet que está tão na moda. Não quero falar especificamente da franquia mencionada mas parece-me que existem zero razões para que um criador de jogos se veja pressionado à obrigação de abranger ambos os géneros. Quem cria é quem decide, por direito!, e quando a escolha recai apenas sobre um dos sexos é absurdo pensar imediatamente em sexismos, apontar dedos e postar generalidades vazias sobre o assunto. A indústria é claramente direccionada para os homens, é verdade. Mas não é porque Assassin’s Creed ou GTA não têm uma mulher como protagonista que os respectivos estúdios têm de prestar contas. É um problema do mundo. O que eu estranho é exaltarem-se os ânimos com este e outros não-assuntos e não se dizer uma palavra sobre, por exemplo, a MTV: machismo com fartura (até por parte das mulheres) e culto da vagina numa série de clips de softporn levemente acompanhados por música. Perdão, já estou a mudar de assunto.
Boa noite! :) antes de mais, obrigada pelo comentário e pelas leituras no nosso site. Até certo ponto compreendo o que pretendes dizer, mas aqui nem se trata de activismo. A Ubisoft, e mais propriamente, o franchise Assassin’s Creed prima pelas reconstruções históricas (embora não sejam by the book) e por afirmarem que são uma equipa formada por uma “multicultural team of various faiths and beliefs.” Ora se existe este disclaimer no início de cada jogo por algum motivo é… e sim, sem dúvida que é uma escolha dos produtores que personagens colocam ou não nos seus jogos, mas os motivos dados não foram os melhores. E sei que o facto de um jogo ter uma personagem feminina não tem que necessariamente chamar o público feminino. No entanto, é comum, nos jogos em que existem mulheres, ou a opção de escolha, tanto homens como mulheres escolherem a personagem feminina… mas, no fundo, a Ubisoft é que sabe, claro.