bonecos de chumbo.

O franchise Transformers estreou-se com a produção de figuras de acção há aproximadamente 30 anos, direccionado maioritariamente ao público infantil. Pessoalmente não me recordo de obter um destes bonecos transformáveis, mas recordo-me bem dos primeiros anos de vida com amigos da escola a mostrarem o seu pertence como quem hoje, nos corredores do recreio, deixam saltar à vista os Digimons. Transformers teve um tal sucesso que expandiu o seu legado por diversos meios: animações, comics, jogos, e filmes produzidos pelo Michael Bay. E é com este produtor que os Transformers se revitalizam com efeitos especiais que demonstram as complexas transformações, mesmo que às vezes confusas, e faz chegar ao mundo inteiro como que numa linguagem universal a história entre os Autobots e os Decepticons: uma interminável luta pelo domínio ou pela paz.

O bom nos filmes de Michael Bay ou da impressionável montanha russa dos Transformers nos estúdios da Universal em Los Angeles, é olharmos para gigantescos robôs e termos uma avassaladora presença que nos fazem sentir pequenos seres frágeis. A nova forma como olhamos para os Transformers passou dos manobráveis brinquedos para “gigantões” seres de metal que facilmente nos podem esmagar, e isso faz deles uma respeitável e temível raça alienígena. Em Transformers: Rise of the Dark Spark perdemos a sensação de grandeza e parece que voltamos aos anos 80 em que os Transformers eram apenas figuras de acção para crianças.

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pew.

 

Transformers: Rise of the Dark Spark é lançado ao mesmo tempo do filme Transformers: Age of Extinction. A Activision, que publica o jogo, não se fez esperar para aproveitar o Hype de um filme que rende muitos milhões só nos primeiros dias de estreia em todo o mundo. Mas aproveitar o Hype levou a que o jogo parecesse inacabado, com uma história que mescla jogos de Cybertron e uma história paralela ao novo filme. O resultado é uma inconsistente e confusa ligação entre as Gerações de Transformers, gerindo um enredo alternado entre Autobots, Decepticons e Insecticons. E o objectivo é assegurarmos um antigo artefacto de Cybertron chamado “Dark Spark”, que dá o poder a quem o possuir para controlar o universo e os seus inabitantes.

Mesmo que para a base desta análise o jogo fosse testado numa PlayStation 4, parecia estar a jogar numa PlayStation 2. Bem, talvez esteja a exagerar um pouco, mas a sensação até completar o jogo foi de voltar aos tempos antigos em que a geometria e as texturas não impressionavam como hoje em dia. Aqueles tempos em que o game design não passava de corredores atrás de corredores, áreas atrás de áreas, e para matar tudo o que estivesse à frente. Assim acontece com Transformers: Rise of the Dark Spark, e que nos força a reiniciar várias vezes o jogo a partir de um checkpoint porque um último inimigo ficou preso no canto do mapa, ou porque os bugs são abundantes, algo tão grave como não accionar uma cinemática e assim ficar preso num espaço: típico de mods criados por jogadores amadores. Outro problema que nos deparamos foi no sistema de health. Não há áudio ou visual que nos alerte para o perigo e facilmente nos vemos a morrer do nada, forçando drasticamente e frustrantemente a reiniciar o nível, que muitas vezes retoma a uma fase inicial de um processo penoso.

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peeeeew?

 

Enquanto controlar um robô não nos dá uma sensação de peso, daí pensar que controlamos figuras de acção, a mecânica de shooter em terceira pessoa é mais interessante e diversa, baseada nos antecessores jogos da série. Contudo, o combate corpo a corpo é estranho e desajeitado, com um único movimento para todos os robôs que controlamos ao longo do jogo. Há uma panóplia de armas, itens, e coleccionáveis randomizados à medida que aumentamos o nível, num sistema ao estilo trading cards, mas que não surge num sentido de recompensar o jogador porque as acções ou os objectivos não são claros de forma a que o jogador pense que foi merecido.

Cada personagem tem uma habilidade especial, não só pela transformação num automóvel ou numa nave, mas também pelo uso de armas ou outros atributos que variam entre camuflagem, escudos ou espadas. Infelizmente, controlar em forma de transporte é relativamente lento e com um movimento não tão fácil de controlar. O que mais deve ter saltado à vista no primeiro Transformers de Michael Bay foram os efeitos especiais com a transformação dos robôs. Confesso que foi esse único aspecto que me motivou a ver o filme pela complexidade da animação pormenorizada, algo que infelizmente não se verifica em Transformers: Rise of the Dark Spark. A transformação parece exibida por meia dúzia de frames, excepto com Grimlock, um robô gigante que se transforma num T-Rex, que cospe fogo, serve-se da cauda como chicote e usa os dentes como arma primária.

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Carne no churrasco. Hum, metal no churrasco.

 

No modo cooperativo temos apenas um modo online. Mesmo que na campanha nos vejamos a interagir com outros personagens, não há forma de um segundo ou terceiro jogador entrar em jogo, o que seria uma mais-valia com drop-in e drop-out, por exemplo. O único modo online (que não está presente na versão Wii U) consiste em aguentar ondas de inimigos, activando uma série de engenhos como turrets ou estações de health num pequeno mapa e que pode ser jogado até quatro jogadores em simultâneo. Ganha-se dinheiro para activar os engenhos à medida que se vai eliminando inimigos, mas estes deixam-nos confusos pelo local onde aparecem e deixam-nos como baratas tontas à procura da sua localização para eliminá-los. E é um modo de cooperação em que parecemos estar mais a competir por um lugar na leaderboard do que a cooperar como uns brothers in arms

O melhor: alguns adereços para os fãs; as secções de Cybertron.

O pior: Enredo absurdo; grafismo ultrapassado; falta de modos multijogador e cooperativo; dificuldade desigual; pouca sensação de grandiosidade e peso dos Transformers

Transformers: Rise of the Dark Spark é um ripoff dos antecessores, com algum copy-paste de títulos anteriores das secções de Cybertron. Parece decididamente uma produção forçada para ser lançado ao mesmo tempo que o filme Transformers: Age of Extinction, um aproveitamento da Activision um quanto cínico pelo sucesso de audiência. Estamos perante um jogo medíocre sub-datado pelos visuais e pelo game design, com bugs seriamente penalizantes e com falta de sumo que não retrata qualquer mérito da série. Enquanto shooter e pelo uso de armas pode ser mais interessante, mas todos os outros factores não trazem algo renovado.

 

 Versão testada: PS4. Também para PS3, Xbox 360, Xbox One, Wii U e 3DS