Na Companhia dos Euros 2

Volvidos 342 dias desde a nossa análise à espantosa sequela de Company of Heroes, que nos colocou de volta a um dos cenários de guerra mais aterradores da nossa História, eis que a Relic, pelas mãos da Sega, volta a presentear-nos com mais um jogo de estratégia minuciosa, precisa e desafiante.

Mas será assim tão diferente do jogo apresentado há 1 ano atrás?

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Vamos lá migrar de um jogo para o outro rapazes!

 

Ao contrário do que se imagina, Company of Heroes 2: The Western Front Armies não é uma expansão típica, mas sim um jogo isolado per se, um stand alone que tenta captar mais fãs à série ao isolar aquilo que para a Sega, ou para a Relic, deveria ser “acessório”. O facto de não necessitar de CoH2 para ser desfrutado poderá ser um bom argumento de venda, mas a cisão clara entre o jogo anterior e este fazem-nos pensar se tudo isto não serão manobras exclusivamente economicistas…

Dentro daquilo que a priori avisamos ser um bom stand alone, há dois pontos negativos que são notórios quase de imediato e que são muito difíceis de contornar: a falta dum modo single player e o preço dos dois DLCs isolados e combinados. A campanha de história que estruturava o jogo anterior acabou por reflectir uma das operações militares mais surpreendentes da História da Humanidade, em que os exércitos de Hitler renegando o armistício com a URSS, invadiram o território russo pelo Leste europeu como uma máquina de guerra quase imparável. E muitas das missões faziam-nos pensar nas agruras da 2ª Grande Guerra, e os pesadelos que assolaram as mentes dos soldados no terreno. Tudo isto aprimorado com representações de batalhas históricas em que controlávamos um dos lados das facções beligerantes e utilizávamos o terreno, as fraquezas dos inimigos, as milícias locais, a noite e as florestas para esmagarmos o nosso oponente da forma mais eficaz. É verdade que os aficionados de Real-Time Strategy valorizam, e muito, a qualidade da narrativa que os modos single players oferecem. O que significa que a opção de excluírem este modo em CoH 2: The Western Front Armies acaba por ser um gigantesco ponto negativo, ao reduzirem o jogo apenas ao modo multiplayer. Nós sabemos que cada vez mais a competitividade online dos jogos RTS confere uma longevidade e uma importância que não existia no auge do género (no final dos anos 90). Mas apresentar um RTS cuja qualidade, dificuldade e narrativa agradou a fãs de RTS mais antigos e mais novos, mas desta vez despido de outros modos que não os online soa a um trabalho algo preguiçoso.

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O Manuel esteve a fumar na mata de certeza!!

 

O segundo ponto negativo é o preço. É sabido que a Relic Entertainment tem uma forma muito curiosa de extrair o máximo de dinheiro possível dos seus jogadores, mas a política tirada a papel-químico da Blizzard – a de vender facções que poderiam facilmente estar inclusas no jogo original – é uma manobra economicista que pouco me agrada. É que estando a jogar RTS há mais de 20 anos, e lembrando-me de um tempo em que os seus criadores lançavam expansões com novas facções MAS sempre acompanhadas de conteúdo original, desde novos mapas até novas unidades para os exércitos já existentes, esta política de ver apenas dinheiro à frente revolve-me um pouco o estômago. É que este Company of Heroes 2: The Western Front Armies que podemos adquirir por 19,99€ não é mais do que a soma de 2 DLCs distintos: US Forces e Oberkommando West, que podem ser adquiridos por 12,99€ cada. Praticamente 20 euros por um jogo que traz apenas a componente multiplayer e que muito pouco difere das evoluções e upgrades constantes que a Sega foi fazendo ao jogo original.

Mas para quem decidiu investir (um valor que considero um pouco excessivo) por esta expansão, a realidade é que não sentirá as suas expectativas logradas. Este jogo traz-nos uma deslocação do campo de batalha da Segunda Guerra Mundial para Oeste, mais especificamente para a Bélgica, em que os novos mapas representam as batalhas que tiveram esse território como palco. E o desafio de dois exércitos tão díspares reside na adaptação que temos de ter à forma de jogar de cada um deles. Na já habitual tentativa de trazer algum realismo histórico, o comportamento do exército dos EUA e o Oberkommando nazi são bastante diferentes: se por um lado as forças norte-americanas são mais “leves” e menos ambientadas ao campo de batalha, contando com o gigantesco número de jovens imberbes captados nos alistamentos, por outro lado a força veterana de guerra e com veículos e armamento pesado que constitui a Wehrmacht nazi produz menos unidades mas igualmente devastadoras. Temos portanto de nos adaptar a um exército mais móvel, mais leve e mais numeroso (no caso das US Forces) e no caso da máquina de guerra nazi unidades altamente especializadas e elementos bélicos extremamente devastadores, mas em número muito reduzido.

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YOU SHALL NOT PASS!!!!

 

E é verdade que toda a preparação dos combates online estão muito mais afinados e onde as listas de “jogos públicos” acabam por trazer um imediatismo muito maior ao início de “escaramuças” com outros jogadores. A grande customização destes confrontos online permite trazer um maior desafio a jogadores veteranos que esperam uma micro-afinação dos elementos que constituem cada duelo online. Tudo isto apimentado pelas recompensas em formato de Despojos de Guerra que trazem novos itens desbloqueados para a nossa formação.

O melhor: a qualidade, o desafio, o aprimoramento da componente multiplayer, a dinâmica de 2 exércitos tão distintos.

O pior: o preço, a falta de um modo de história.

Seria demagógico não considerar este Company of Heroes 2: The Western Front Armies um excelente jogo. Vindo em linha de continuidade com o seu antecessor demonstra-nos o que de melhor é possível em jogos de estratégia, agora com uma componente online extremamente afinada. Porém , para um jogo que apenas nos traz a vertente multiplayer, eu esperaria alguma promoção para o adquirir, pois ainda é um pouco desiquilibrada a balança preço versus conteúdo. Porque muito pouco foi avançado a partir de Company of Heroes 2. Vejo com alguma infelicidade a postura economicista da Relic e da Sega, mas que, a bem ver, não toldam a belíssima experiência e a exímia qualidade que este stand alone possui. Só é pena o preço…

Company of Heroes 2: The Western Front Armies é um exclusivo PC.