Texugos que sonham ser pássaros

O fenómeno universal que é Angry Birds da Roxio permitiu a que dezenas, senão centenas de jogos por si “inspirados” chegassem ao mercado. Se grande parte deles foi pensado para um jogador mais casual, e para tempos de jogo mais curtos e apropriados para o mercado mobile, a realidade é que muitos destes jogos acabam por vir parar às consolas, e especialmente ao PC.

Gravity Badgers é um jogo de puzzles que brinca com a física e a falta de gravidade, em que vestimos a pele de um conjunto de texugos cosmonautas a flutuar no vácuo, enquanto apanhamos vários itens espalhados na imensidão do espaço. Para poderem imaginar de forma mais exacta do que trata este Gravity Badgers, basta imaginarem que em algumas das cenas de “Gravity” de Alfonso Cuáron conseguiam empurrar a Sandra Bullock pela órbita da Terra, fazendo-a ricochetear por obstáculos até coleccionar os itens espalhados no vazio e fazendo-a chegar a uma meta. Agora substituam a Sandra por um texugo e a Sarah Jessica Parker por um cavalo e têm uma visão clara do jogo. E agora esqueçam a parte do cavalo, porque equídeos no espaço é, digamos, estúpido.

Gravity Badgers 01

“It’s not rocket science”

Com fundos estáticos e repetitivos, Gravity Badgers obriga-nos a ultrapassar cada vez mais obstáculos numa espécie de snooker galáctico em que usamos texugos como bolas de bilhar. O grande problema que reside no desafio crescente que o jogo apresenta é mesmo o excessivo teor de tentativa-erro que está na base da sua construção. Quando mais jogamos, mais sentimos que estamos “vulneráveis” à geniosa física do jogo, e que mais vezes vamos repetindo as nossas 3 vidas de forma quase (e exalto o quase) aleatória como forma de ultrapassar a verdadeira confusão de obstáculos que vai sendo criada. Esta tentativa/erro, e mais acaso do que ciência, acabam por avolumar a sensação de repetição e monotonia que o próprio jogo apresenta. Tudo isto, utilizando teleportes e portais com a maior das valentias, utilizando a inércia de empurrar um heróico texugo pela vastidão galáctica. Depois de cães e macacos no espaço, não me parece que o empreendimento “texugal” no espaço tenha tido muito sucesso. Ainda que as mecânicas se ajustem bem ao Game Pad da Wii U (que por natureza tem a capacidade de incutir uma certa naturalidade a jogos mais dirigidos para dispositivos mobile) acaba por não ser decerto uma das melhores escolhas da Nintendo eShop, ficando notoriamente a perder quando comparado com outros jogos igualmente baratos que abrilhantam a loja digital da doméstica da Wii U.

 

Gravity Badgers 02

Capitão John Badger, do SS Blue Oyster Club apresenta-se para combater.

 

O melhor: o número de níveis (mais de 120) e as lutas de bosses.

O pior: os níveis mal estruturados que requerem mais atrição do que destreza.

Gravity Badgers é um conceito curioso que cai rapidamente na monotonia. Quando a novidade se esvanece o que fica é apenas um jogo repetitivo e que nos demonstra excessivamente que as suas físicas de ricochete e inércia estão pouco afinadas para a dificuldade abrupta que o jogo apresenta. É caso para pedirmos aos texugos para não voarem demasiado alto, e para manterem as patinhas bem assentes na Terra. Isto, é claro, se não quiserem ir fazer companhia ao Clooney na órbita lunar, a ouvir música country enquanto o oxigénio se esgota.

Disponível para iOS, Android, PC, Mac e Wii U. Analisada a versão de Wii U.