Uma análise a Wildstar

Na nossa análise de The Elder Scrolls Online já tínhamos falado sobre o declínio que ocorreu aos MMORPGs no final da década passada. Ou talvez este declínio não tenha ocorrido na realidade e tenha sido a passagem dos anos por mim que tenham ditado a minha falta de entrega ou disponibilidade para o género. Há algo de quase dedicação e disponibilidade totais ao mergulharmos num MMORPG que envolve entregar quase todas as nossas horas de tempo livre a ele, o que sacrifica, a parte do jogador que fica na extremidade da nossa alma, a não conhecer mais jogo nenhum do que aquele em que estamos a “trabalhar”. E digo isto sem qualquer vergonha olhando para as 3800 horas de jogo de Guild Wars e as 800 de Guild Wars 2.

Desde os 2 eventos de Beta testing a que ocorri, que senti  que este Wildstar é sem sombra de dúvida um grande MMORPG, o que é justificado se percebermos que provém de uma das companhias de maior sucesso a desenvolver jogos do género, a NCSoft. Apesar de que sofre a priori de um grande problema: enquanto o Guild Wars 2 foi o jogo que mais inovou, recriou e repensou o que é o paradigma de um MMORPG, apresentando uma mudança de pensamento sobre a já tradicional ideia de que jogar um jogo destes equivale a um segundo emprego pelas centenas de horas que requer de nós, o Wildstar acabou por jogar excessivamente no seguro, e demasiado na fórmula típica que o WoW cimentou como cânone. O rumor que apelida Wildstar como “o WoW no espaço” não só é fundamentado por toda a construção conceptual e mecânica, como é incrementada pela linha artística tomada.

Wildstar 01

Oh Hugh. Estás na tua mansão a tantos milhões de anos-luz de distância.

 

Em todas as notícias que escrevemos sobre o jogo eu indiquei que o setting me era particularmente sedutor. A ficção científica e os space westerns foram terreno para muitas das manifestações culturais que admiro desde os anos 70 e que conta com produções tão díspares quanto (em latus sensus)  Bravestarr, Saber Rider and the Star Sheriffs, The Adventures of the Galaxy Rangers. Trigun e Firefly. E sempre que olhávamos para as dezenas de MMORPGs que eram lançados no mercado, percebíamos que a necessidade patológica de se tornarem o segundo WoW demarcava a génese conceptual: o jogo teria obrigatoriamente de ser um jogo de high ou low fantasy. E é com esta alegria de quem vê cair o pano no palco dos MMORPGs (que apesar de conquistar muitos jogadores num período inicial perde a sua fidelização para os MOBAs) e que vê, qual canto do cisne, uma aposta diferente em setting, e que já deveria ter sido apresentada há 10 anos atrás quando os MMORPGs dominavam o mercado online. Se do ponto de vista estrutural Wildstar jogou pelo seguro e aprendeu com todos os erros dos seus congéneres, é o seu setting que lhe confere uma unicidade e que o destaca dos seus concorrentes, e com todo o mérito percebemos em todas as horas de jogo que pouco foi deixado ao acaso.

Se há modelo que sempre criticámos foram a das fetch quests que são quase intrínsecas ao género. “Vai ali, apanha x, mata y, vem cá, devolve e leva a recompensa” é o caminho habitual que apenas até hoje o GW2 soube disfarçar. É verdade que há muito para fazer em Wildstar mas a maioria são tarefas sem grande substância e que valem apenas pelo excelente visual, criatividade e observação dos pormenores de Nexus, o mundo onde a aventura ocorre.

Wildstar 02

Será que o saloon ainda está aberto?

 

Se definimos o setting como a mais valia de Wildstar, temos de indicar a qualidade dos seus movimentos como a grande inovação tecnológica que trouxeram. É sabido que existe quase sempre um desnível da fluidez de movimentação de personagem entre um jogo single player e um massively multiplayer (culminando em casos como o de TESO) mas o que sentimos aqui é uma fluidez que rapidamente nos faz pensar que estamos a jogar um Action RPG e que mesmo acções mais complicadas como double jumps ou side rolls são efectuadas com precisão pelo servidor sem qualquer tipo de desfasamento.

As diferenças de jogabilidade entre as 6 classes divididas pelas 8 raças presentes (4 para cada uma das facções) mostram-nos a capacidade de customização dos nossos personagens, já que temos dezenas de skills disponíveis mas apenas 8 utilizáveis em simultâneo, para além de que existe uma verdadeira sensação de jogarmos personagens diferentes, e não apenas “aquele que consegue usar pistolas” e “aquele que tem garras”.

Mas se há um ponto em que tenho algumas dúvidas em relação ao sucesso de Wildstar é com a sua subscrição mensal. Já várias vezes debatemos a impossibilidade dos novos MMORPGs de pedirem uma subscrição, e que esse característica está apenas possível ao gigante da Blizzard. Ainda que Wildstar tenha pevisto um sistema de C.R.E.D.D. em que com alguma dedicação mensal um jogador consegue pagar a sua mensalidade com o seu “trabalho” in-game, acredito que em 8 meses este sistema termine e que a NCSoft assuma uma posição de F2P.

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Última chamada para a nave suburbana que vai para a Brandoa!

 

Apesar do PVP não ter sido um modo que explorámos grandemente, o que sentimos é que não existe nem risco, nem inovação na componente de “arena” deste jogo, mas que acaba por ter um brilho adicional em relação a outros jogos do género pela qualidade e fluidez dos movimentos que falámos anteriormente.

O melhor: o setting, a qualidade de movimentos, os cenários e territórios de Nexus, todas as componentes de MMORPGs estarem altamente afinadas por não haver grande risco.

O pior: a subscrição mensal, o seguir excessivamente a fórmula do género pode afastar jogadores habituais de MMORPGs.

É verdade que no ponto em que estão as nossas vidas hoje podemos não ter o tempo ou a dedicação que um MMORPG merece, mas Wildstar é um dos melhores, senão o melhor jogo do género ao qual não nos vamos dedicar. É um jogo muito bom que poderia ser excelente se tivesse aprendido mais in-house e tivesse percebido o quanto o Guild Wars 2 reinventou o género. Manter-se fiel à fórmula dos MMORPGs confere-lhe a segurança de criar um jogo estável, mas sem o edge que trazido com o setting. Apesar da subscrição mensal há-que valorizar a recompensa que os criadores dão a quem passar muitas horas em jogo, com a possibilidade de pagarem a sua mensalidade com o seu esforço em Nexus. Wildstar é um daqueles jogos que mereceriam que todos experimentassem, e pela sua qualidade conceptual nos faz desejar um dia um spin-off: e que offline pudéssemos representar uma das duas facções que lutam pelo domínio do planeta.

Wildstar é um exclusivo PC.