Uma antevisão a Hand of Fate

É verdade que o Steam Early Access começa a ser muito mal-visto pela maioria dos jogadores e pela imprensa especializada. Quase sempre é sinónimo de jogos próximos do protótipo que estão a exigir-nos quantias idênticas às de um jogo finalizado sem quaisquer garantias de que o jogo será terminado. São já célebres os casos em que as expectativas dos jogadores (leia-se investidores?) têm sido defraudadas pelos estúdios e que ficarão para sempre com os jogos adquiridos no limbo da versão Alpha ou Beta. Felizmente que Hand of Fate, da australiana Defiant, não é uma delas.

Os próprios criadores de Hand of Fate reconhecem-no como um jogo de nicho. Seria ilusório acreditar que a mescla bem-conseguida de ideias e formas de produção que constituem o jogo fosse transversal ao grande público, mas ainda assim, para o público-alvo, consegue ser tudo aquilo que intenta em ser.

Hand of fate 01

Acredita no poder das cartas!

 

Hand of Fate não é mais do que o cruzamento de um jogo de tabuleiros com cartas, um pen and paper RPG e um action RPG. Do ponto de vista de apresentação não poderia ser mais simples: passamos grande parte do jogo em frente a um mago (?) que nos vai dispondo cartas à frente, como um taromante místico que joga a nossa vida no revelar das cartas. Esta misteriosa figura funciona como Gamesmaster, ou Storyteller dos pen and paper RPGs: ele é o juiz final das regras do jogo, o narrador que nos apresenta a acção e as opções e simultaneamente o nosso obstáculo. É contra ele que estamos a jogar, e o nosso sucesso é a sua frustração. Hand of Fate é um duelo constante entre nós e o nosso oponente, o distribuidor de cartas.

O desenrolar do jogo, para quem nunca jogou os velhinhos RPGs que requerem apenas dados e imaginação para serem jogados, pode encontrar em Fighting Fantasy1 de Ian Livingstone o melhor paralelismo. O nosso inimigo vai depondo as cartas em cima da mesa, e o percurso que fazemos até ao boss final da quest é definido pelas cartas que queremos revelar. Cada carta despoleta um evento que terá de ser resolvido por nós, ou em combate, ou pelo sucesso das cartas. Entre espólios de combate e itens que encontramos em dados eventos, vamos equipando o nosso personagem para as sequências de action RPG, que não sendo o ambiente comum do jogo, acabam por trazer uma boa alteração de ritmo à fluidez de Hand of Fate.

Hand of fate 02

Anda cá que eu dou-te a Real Porrada!

 

Em todos os aspectos Hand of Fate resultaria num belíssimo jogo de tabuleiro, mas são as sequências de acção a la God of War que lhe conferem outra dimensão, e que cimentam, de uma forma sustentada, a quest que estamos a desenvolver.

Sempre que terminados uma quest (com a derrota do boss) recebemos cartas de evento, inimigos, equipamento, dinheiro e comida que poderemos utilizar para construir o baralho que definirá a nossa próxima quest. E é esta abrangência de possibilidades que vão transformando cada investida em Hand of Fate diferente da anterior: a aleatoriedade das cartas vai definir um caminho diferente para nós, com eventos, inimigos e equipamento diferentes no nosso caminho, e que o tornarão mais ou menos tortuoso.

A build actual demonstra um jogo já muito completo e que nos faz ter uma réstia de esperança nos Early Access: o feedback dado pelos jogadores tem contribuído para que este seja cada vez mais próximo do produto acabado. E para jogo de nicho é inegável que a diversão que lhe é inerente e que está notoriamente apontada para fãs de jogos de tabuleiro e pen and paper RPGs é incomensurável.

 

1 Aventuras Fantásticas, em português, editado pela Verbo.