Uma opinião sobre Infinity Runner

Estou a ficar velho. Já lá vão 6 anos que saiu Mirror’s Edge (ME). Publicado pela Electronic Arts, ME atingiu-me de repente quando navegava num imberbe Youtube e me deparei com um vídeo dos criadores a promover o mesmo. O jogo saiu umas semanas depois e eu como comprador impulsivo de jogos, que sou, dirigi-me placidamente à Game mais próxima e larguei 60€ na simples frase “simulador de parkour na primeira pessoa”.

Como já deixei escapar pelo Rubber Chicken, não sou fã de jogos na primeira pessoa, sinto-me sempre descaracterizado e de-imergido. Para uma mecânica que deveria ajudar a nossa imersão nos jogos e personagens que encarnamos, para mim o facto de não conseguir visualizar o meu personagem sempre me fez sentir arduamente que estava a jogar um jogo. Sempre me pareceram mais simuladores de drones telecomandados.

Mas ME apresentava uma nova abordagem ao estilo. Não só víamos partes do nosso corpo a entrar no nosso campo de visão e a interagir com o cenário de forma “correcta” (acho que nunca vi um braço a entrar numa parede nesse jogo), como a nossa visão mudava consoante o nosso estado de saúde, prescindindo quase inteiramente de um GUI intrusivo. O jogo tentava “enfiar-nos” quase à força dentro da cabeça de Faith, a protagonista do jogo.

As mecânicas de parkour eram também inovadoras para a altura (Assassin’s Creed saiu uns meros meses antes) sobretudo considerando a perspectiva do jogo, e a liberdade de exploração dos mapas era fenomenal. Finalmente a estória, estilo gráfico dos vídeos e a ambiência eram simplesmente deslumbrantes.

E o no entanto ME é um mau jogo. Nesse ano a EA correu riscos com este título, tentando inovar e evoluir um género e saiu-se mal. Mas adorei-os pelo esforço (pena que não voltaram a repetir a gracinha).

Mirror's Edge

Mirror’s Edge

 

A demanda de Faith pelos telhados distópicos de uma cidade sem nome falhou por um motivo simples: as inovações que tentaram estavam demasiado à frente do seu tempo. A tecnologia na altura não permitia o desempenho perfeito do seu motor de jogo, pelo que passávamos muito tempo a falhar saltos por falta de noção de profundidade. Mirror’s Edge só poderia funcionar com um 3D estereoscópico e um controlo automático e intuitivo da cabeça de Faith. Mirror’s Edge precisava de uns Oculus Rift!

Agora, 6 anos depois e com os benditos aparelhos aí ao virar da esquina (2015 segundo a Oculus VR), os criadores de videojogos já começaram a explorar as potencialidades destas tecnologias e Infinity Runner (IR) é um dos títulos que vem fazer uso delas.

Recentemente lançado pela Wales Interactive (também criadores de Master Reboot e Gravity Badgers, entre outros), quando me apresentaram ao conceito do jogo fui imediatamente remetido para ME, daí a minha diatribe.

A humanidade lançou Infinity, o maior leviatã espacial de sempre, com (centenas de) milhas de comprimento, numa tentativa desesperada de encontrar um novo lar. Mas claro que algo tinha de correr mal, e nas entranhas profundas da Infinity um antigo pesadelo da humanidade está à espreita: o último dos lobisomens também tenta encontrar um novo lar.

Somos acordados da nossa cápsula de crio-sono… e começamos a correr!

infinity-runner

“Com licença! Só de passagem.”

 

E foi a partir daqui que me recordei de ME. Jogamos na primeira pessoa, e tentamos percorrer os claustrofóbicos corredores da Infinity usando das nossas perícias em parkour e artes-marciais mistas enquanto uma voz na nossa mente nos vai prendando com direcções e back-story.

O jogo é frenético e intenso, e testa os nossos reflexos ao limite em sequências constantes de QTE (eventos de tempo rápido) ao longo dos vários níveis (do jogo e da nave), interrompidos por sequências de estória (leia-se exposição) enquanto nos vamos aos poucos apercebendo do que se está a passar. Os visuais e cenários conseguem ser impressionantes e interessantes, fazendo uso de alguns dos clichés da ficção-científica mas com o seu toque muito pessoal. Infelizmente dispomos de muito pouco tempo para ver as vistas, já que estamos sempre a correr. Minha maior crítica ao jogo: leva o seu título demasiado à letra.

O modo multi-jogador é desinspirado e pouco interessante: percorremos pequenos trechos da Inifinity simultaneamente com outros jogadores tentando ser mais rápidos e “arremessando” de-buffs e tentando amealhar buffs, mas cada jogador está na sua instance privada e a única interacção entre eles é através dos referidos de-buffs.

Não avancei muito na estória e no meio de tanta correria confesso que nem lhe prestei muita atenção, já que sempre que me tentavam avançar o enredo estava francamente concentrado nas sequências de QTE que tinha pela frente e pouco ou nada retinha do que me era dito, pelo que nos segmentos entre níveis a exposição tinha muito pouco interesse por não estar a perceber metade da estória.

Mas a maior bandeira deste título é sem dúvida a compatibilidade com os Occulus Rift. E uso o termo “compatibilidade” de forma muito lassa. Na verdade diria que o jogo foi feito para os Occulus Rift. Infelizmente não tenho a possibilidade de o testar no seu total potencial, mas consigo perceber que os QTEs serão mais interessantes com menos teclas e mais “olhares”, os cenários serão mais apreciáveis com uma inundação do nosso campo visual e a intuividade ampliada dos controlos vai criar uma maior disponibilidade da nossa atenção para outro tipo de pormenores (como a vozinha na nossa cabeça e a estória que ela nos tenta contar).

Quando me falaram deste título pensei: “Olha! Finalmente um Mirror’s Edge com tecnologia de Realidade Virtual”. Depois de o experimentar, posso dizer que não o é. É o seu próprio jogo e digno do seu próprio lugar e atenção.

Mas a verdade é que saí da experiência com apenas um pensamento: “Por favor alguém que faça uma actualização ao Mirror’s Edge para fazer uso dos Occulus Rift”

São as minhas duas moedas.

 

 

A imagem de thumbnail é do utilizador ezova-denisova do Flickr