Uma análise a Wii Sports Club
Podemos analisar retroactivamente o gigantesco sucesso da Wii por diversos pontos de vista. O primeiro, o tecnológico, centra-se em todas as inovações que a Nintendo (mais uma vez) possibilitou e que obrigou os seus competidores directos a adaptarem-se à mudança de paradigma imposta pela empresa nipónica. A segunda, a conceptual, ou de localização de mercado, é que a Wii conseguiu o que há muito era a intenção das grandes companhias de videojogos: conquistar um segmento mais casual e fidelizá-lo ao uso de consolas. E é aí que reside a transversalidade da Wii e que a tornou quase omnipresente nas salas de jogadores de todo o mundo. Há uma certa mística na combinação de quasi-actividade física com o nosso sedentarismo ocidental que a Wii trouxe e que resultou de forma espantosa.
Dessa casualidade surgiram casos de imenso sucesso, nomeadamente Wii Sports que é o segundo jogo mais vendido de sempre. É verdade que parte das vendas se deve ao bundle que incluía o jogo, mas ainda assim a sua jogabilidade simples e a sua orientação para pseudo-party game acabou por justificar o porquê de ter vendido quase 83 milhões de unidades.
Era uma questão de tempo até que o terceiro jogo da série e o sucessor de Wii Sports Resort visse a luz do dia na Wii U, como mais uma injecção de combustível no motor que necessita urgentemente de carburar como é o caso da consola doméstica da Nintendo.
Wii Sports Club é o mais directo sucessor de Wii Sports original. Os cinco desportos disponíveis são os mesmos do primeiro jogo mas com alterações que incluem a utilização do Game Pad ou das potencialidades do Motion Plus. E claro, a grande diferença – e de peso – é a notória percepção que Wii Sports Club está muito mais direccionado para a competição online do que qualquer um dos restantes jogos da série. Esta notória tentativa de “modernização” da empresa de criar (de forma mais ou menos natural) uma componente de online multiplayer para alguns dos seus jogos acaba por pecar por tardia, em especial pela aprendizagem (ou a experiência) que vão necessitando para que tudo funcione na perfeição. E até porque esta tentativa de mudança de paradigma não embate de forma alguma com o facto de que mais do que tudo a Wii U, assim como a sua antecessora, é uma consola de multijogadores locais e não online.
Pela primeira vez temos a possibilidade de comprar cada um dos desportos isoladamente ou comprar o jogo na sua totalidade, o que logo à partida nos permite um investimento mais reflectido. É que dos cinco desportos que Wii Sports Club apresenta há alguns que têm qualidade algo discutível.
O boxe não sofreu grandes alterações em relação ao original, e apenas a possibilidade de usarmos dois Remotes (um para cada mão) difere do jogo original. Ainda assim, a par do ténis, são os desportos que se demonstram menos afinados com a utilização (agora obrigatória) do Wii Motion Plus. E muitas vezes as acções que queremos executar não correspondem àquelas que são replicadas pela consola.
A contrastar com a medianidade do boxe e do ténis em Wii Sports Club está o bowling. Sendo sem dúvida o desporto mais afinado do conjunto, é de igual forma o mais divertido. E no caso português vem responder ao encerramento de quase todas as bowling alleys do território, e ainda temos em nosso benefício a protecção contra apanharmos algum fungo com os sapatos alugados: é que o conforto da nossa sala apresenta a priori o ambiente livre-de-fungos que todos esperamos ter.
As utilizações do Game Pad restringem-se apenas a dois desportos: o baseball e o golfe. É verdade que a utilização do dispositivo de forma mais “cinética” quebra por completo a sua própria génese, e acaba por atabalhoar a jogabilidade como aconteceu no caso recém-analisado de Wooden Sen’Sey, e que possivelmente uma tentativa exaustiva de o utilizar em todos os desportos seria imposto a martelo e baixaria por completo a qualidade do conjunto.
Ainda assim, para quem é detentor de uma Wii U sem ter comprado uma Wii anteriormente, a aquisição de Wii Sports Club significará obrigatoriamente a compra de mais do que um Remote com Motion Plus. O que vai desde logo vai encarecer o pacote “final” mas que poderá ser simultaneamente um investimento para os restantes títulos da consola.
O melhor: a possibilidade de comprarmos apenas os desportos que realmente gostamos, o bowling.
O pior: a pouca afinação de alguns desportos que parecem apenas reciclagem do jogo original de Wii.
Wii Sports Club não vai ser o fenómeno de vendas que o jogo original foi. Poderá ser algo entusiasmante para quem nunca contactou com a série, mas para os restantes, apesar da evolução visual e de algumas mecânicas que utilizam o Game Pad, soará impreterivelmente a um mero redesign. Ainda assim, por 9,99€ podemos comprar apenas o bowling, que é sem dúvida o melhor dos cinco, e abrilhantar um serão com os amigos sem a partilha de pé-de-atleta. É que dizem que dá alguma comichão.
Wii Sports Club é um exclusivo Wii U.