Todos temos guilty pleasures. Todos temos artistas, filmes, actividades, jogos ou qualquer outra obra que nos diverte e que nos preenche (e preencheu) horas da vida, mas que uma pequena parte de nós se debate com uma estranha sensação de vergonha que os impede de se tornarem públicos de forma veemente.

A série Sims sempre foi um desses casos para mim. Gastei largas dezenas de horas da minha vida a jogar a célebre franquia da Maxis, mas muito provavelmente por motivos que não são bem os da maioria dos jogadores. Construir casas, decorá-las, vestir figuras virtuais não são bem as minhas motivações. Sempre encarei a série como uma forma de criar avatares de pessoas que detestava na vida real, emparedá-las, fazê-las urinarem-se pelas pernas abaixo, até que a morte por exaustão, fome e sede chegasse. Se Sims é um simulador de vida, então é-me permitido explorar qualquer faceta do conceito, o que inclui, obviamente, a morte.

É verdade que a margem de evolução de uma série como Sims se encurta após quatro jogos e largas dezenas de expansões ao longo de catorze anos. Ter um hands on da quarta iteração da série surpreendeu-me a vários níveis, sendo que o visual – em que todos os Sims estão bem mais detalhados do que no jogo anterior – não é um deles.

A grande inovação, ou complexificação que qualquer jogador vai sentir com Sims 4 é ao nível da personalidade dos personagens. Enquanto criamos o nosso Sim percebemos que o tempo despendido a criar o seu aspecto é inferior à definição das suas características e traços de personalidade, visto que esse vai ser o factor preponderante em todo o jogo. Percebemos logo nos primeiros minutos que as interacções entre o nosso personagem e outros Sims que encontra pela cidade ultrapassam em larga escala o mero “olá” ou o “dizer uma piada”. Há toda uma teia de ilações e suposições de gostos e traços de personalidade que o nosso Sim vai inferindo a partir do contacto com outros, e que vão progressivamente desbloqueando formas dos dois interagirem e modelando, tal como na vida real, as relações sociais entre eles.

Posto esta explicação resta explicar que passámos mais de dez minutos a experimentar a complexidade de personalidade dos Sims ao tentarmos engatar uma jogger pelo nosso bairro. Entre avanços e recuos, e descobertas de diálogo, lá conseguimos evoluir a nossa amizade até à troca de um abraço. Fossemos ter mais tempo e tínhamos conseguido o número de telefone. Ou algo mais.