Disgaea: Hour of Darkness abriu caminho para uma série de sucesso que teve bastante aceitação no nosso território. Ainda a viver no período de pós-auge dos JRPGs, que tiveram em Portugal a era da Playstation como uma gigantesca porta de entrada para o mercado oriental, e que teve o seu culminar no (belíssimo) catálogo da Playstation 2, em que a ocidentalização dos JRPGs era uma grande aposta de vendas. Era frequente, ao visitarmos a Worten, a Fnac, ou a Game, de encontrarmos um dos dois primeiros jogos da série – ambos para a PS2 – à venda e com algum destaque, ao lado de muitos outros JRPGs que desapareceram, imaginávamos nós.

Mas com as reduzidas vendas conjuntas na Europa e nos EUA, aliadas aos custos inerentes de traduções e localização destes jogos que têm metros e metros de texto, conduziram a um desinteresse crescente das distribuidoras, relegando quase todos os JRPGs a raramente saírem das fronteiras da ilha nipónica.

É certo e sabido que a cultura pop japonesa (desde manga, anime, e passando pelos videojogos) tem uma gigantesca falange de apoio no nosso País. E que o consumo destes produtos, regra geral, era respondido com recurso a importações, e na maioria das vezes, com aquisições destes mesmos objectos em formato exclusivamente digital. E foi por isso que recebemos com alguma alegria o esforço da NISA, que conhecemos na última Gamescom, em trazer muitas das séries mais procuradas para o Ocidente, tanto em formato digital como físico. E ao contrário do que muita gente pensa, existe um catálogo gigantesco – de nicho, é verdade – para uma das consolas mais ignoradas do momento. E não falamos da Wii U, mas sim da PS Vita.

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Professora Nina: o que poderia ser o título de uma série da TVI.

 

Disgaea 4: A Promise Unforgotten saiu há três anos para a PS3, e foi um dos JRPGs de maior aceitação na consola e também o de maior sucesso de vendas da série, e que chegou este mês à Vita numa versão que inclui todos os DLCs, sob o título Disgaea 4: a Promise Revisited.

Aquilo que percebemos desde o início do jogo até às longas (e longas) horas que dura a história deste Disgaea 4: a Promise Revisited, é que para além de manter um bom sistema de combate táctico por turnos, consegue, ao longo das suas 40 horas de jogo, trazer-nos uma das histórias mais interessantes e bem construídas dos últimos tempos. Disgaea sempre se apoiou no humor como ferramenta de cativar os seus jogadores, atraindo-os para a história com diálogos bem-construídos e com personagens caricatos, quase surreais por vezes. Toda a mitologia da série oscilava sempre com personagens que balanceavam a fina linha entre o bem e o mal e em que todas as questões sérias, éticas e morais, das suas acções, eram explanadas através do humor, fazendo-nos rir enquanto nos colocava em segundo plano um raciocínio mais complexo.

Desde a apresentação do protagonista deste Disgaea 4 que o sentimos. Um vampiro condenado à desgraça e que vive no Hades a desempenhar trabalhos menores, alimentando-se exclusivamente de sardinhas, e sempre ladeado com seu fiel “mordomo” Fenrich. Tudo isto sem ele próprio ter noção da sua condição e da falta de importância de poder/status social que (não) possui em terras infernais. Uma caricatura de alguém que foi poderoso, que já não o é, e não tem consciência disso, numa trama humorística que tem Fenrich como o grande prestigitador deste “ledo engano”.

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E eis a pergunta dos 10.000€!

 

Pelo meio de linhas de diálogo bem-conseguidas de um humor palpável, vamos vendo desenrolar uma narrativa que aborda algumas situações políticas traduzíveis no nosso mundo, mas caricaturadas com criaturas sobrenaturais nas tensões de poder de domínio e submissão que vão ocorrendo em toda a história, enquanto levamos Valvatorez, o vampiro piscívoro, a conduzir a Revolução até aos degraus do Governo.

Disgaea 4: a Promise Revisited é um dos felizes casos em que a história não é apenas um acessório para se combater monstros, mas é sim a espinha dorsal de um jogo extremamente afinado e cativante. E que nos mostra que os JRPGs podem ultrapassar as barreiras do modelo clássico de rapaz da aldeia que estranhamente é o Escolhido à salvação do seu mundo. E trazer-nos um argumento perfeitamente equilibrado entre momentos de imaginação quase aleatória e definição narrativa sólida.