Um Chicken Nugget sobre Unrest

Quem lê o Rubber já me viu diversas vezes dizer que sou um fã inveterado de pen and paper RPGs. E que por muito aliciante que o combate seja, são as interacções entre personagens e o verdadeiro desempenhar de um papel que realmente me agradam. E foram essas algumas das razões que me fizeram contactar o estúdio Pyrodactyl Games sobre os seu jogo Unrest.

A premissa do jogo demonstrava-se à primeira vista muito próxima do que eu gosto nos velhos e tradicionais RPGs: um jogo baseado no seu argumento, com uma forte componente textual, e em que o nosso desempenho do personagem que nos é atribuído tem uma série de repercursões nesta interpretação fantasiosa da História da Índia. Dos diversos personagens que controlamos ao longo dos capítulos de Unrest, vamos percebendo os problemas subjacentes à luta de classes e à estratificação em castas que assolou (e assola?) o território indiano, e de que forma que as nossas escolhas, os nossos diálogos, as  nossas respostas conseguem influenciar o decorrer da história da cidade.

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O Fantástico Guerreiro que diz “Caril”.

 

Entre controlarmos uma rapariga pobre que não quer cumprir o seu casamento “por arranjo” e um sacerdote que não concorda com algumas das decisões políticas dos governantes, o que percebemos é que nos é muito fácil compreendermos os cinco personagens que vamos controlar, entre os seus dilemas éticos e morais, e as forças que os motivam, mas são difíceis as escolhas que temos de tomar para progredir no jogo.

Para conseguirmos influenciar os NPCs com quem lidamos existem três valores de interacção social que vão, mediante as nossas respostas, sendo aumentadas nos nossos personagens. Entre “Medo”, “Respeito” e “Amizade” as nossas opções vão criando um elo com os personagens com quem interagimos que os vão condicionar, e consequentemente, definir o decorrer dos capítulos subsequentes. É que Unrest tem algum valor de rejogabilidade pela diversidade de finais e de “caminhos” que o enredo pode ter, ao longo das três horas (apenas) de jogo que possui.

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Demasiados mango lassies ontem à noite. Dói-me a cabeça!

 

Como afirmámos o jogo baseia-se em texto e em diálogo, apesar de existir uma componente de combate que não só é altamente desaconselhada, como deverá ser evitada a todo o curso, porque o mais provável é resultar na morte do nosso personagem. E ao contrário do que imaginamos o jogo mão terminará ai, mas progredirá com a nossa morte e adaptar-se-á às consequências que daí advêm.

Unrest é um RPG que vive das escolhas de diálogo que vamos tendo, e quais os caminhos que vamos trilhando com cada personagem, entre desenvolver o Medo, o Respeito e a Amizade. O jogo acaba por situar-se para um micro nicho de jogadores que não e importam de ter a quase totalidade do mesmo assente em infindáveis linhas de texto – bem-escritas, convenhamos – e que retrata bem uma série de tensões sociais e o peso das castas na Índia, com um grande tratamento de fantasia (já que os Naga, uma raça meio humana/meio ofídia habitam o território).  O visual desenhado à mão é apelativo e relembra-nos bastante a Arte da Índia Antiga, ainda que falhe na construção do ambiente apropriado para a densidade do argumento. Felizmente que a excelente banda-sonora nos transporta de imediato para o setting do jogo.