Antevisão a Vector Thrust

A minha geração cresceu durante o pico da Guerra Fria. Os anos 80 foram vividos a nível mundial com um constante “ruído de fundo” entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviética, culminando com a queda do Muro de Berlim a 9 de Novembro de 1989 e subsequente colapso da URSS no final de 1991. Este ruído de fundo num panorama político global seria o equivalente a dois miúdos no pátio da escola a gritar um para o outro “o meu é maior”. Claro que se estavam a referir a arsenais bélicos e não a… outras coisas. Mas o princípio é o mesmo.

Um dos principais reflexos desta competição entre superpotências foi o progresso tecnológico aplicado a palcos de guerra, e como a propaganda sempre foi uma das melhores armas de qualquer governo, os anos 80 foram recheados de manifestações destas tecnologias nos media. Claro que mostrar mísseis intercontinentais nos seus silos não é muito interessante, e por isso estes eram relegados para posições de Macguffins nos desenhos animados, filmes, livros e demais meios culturais da época. Já Máquinas de Guerra como tanques, helicópteros e aviões eram muito mais apelativos e foram largamente usados como referências e personagens em inúmeras destas manifestações. O expoente máximo foram os famosos Transformers. Outro dos ícones dos anos 80 foi o filme Top Gun em que Tom Cruise era um ás da aviação imaturo e que através da sua estória, o super-caça americano F-14 Tomcat ficou imortalizado na minha geração. Na altura os simuladores de super-caça eram muito populares enquanto jogos de PC e Amiga, e mesmo nas consolas. Eu pessoalmente joguei exaustivamente mais de 10 títulos (os da Microprose) deste género na primeira metade dos anos 90. E depois simplesmente parei.

Já não jogava um simulador de voo de guerra há muito, muito tempo. Em parte porque diversifiquei os meus gostos, em parte porque o género virou para o “hiper-realismo” e era preciso tirar um brevet antes de pensar sequer em fazer os tutoriais.

Voa como uma Borboleta

Voa como uma borboleta, ferra como uma abe… não! Oitenta abelhas carregadas de explosivos térmicos!

 

Mas agora a TimeSymmetry e a Iceberg Interactive estão a terminar o seu Vector Thrust e pensei “e porque não?”. Duas coisas me chamaram imediatamente a atenção neste título em Early Access: os gráficos em cell-shading (quem não gosta de cel-shading) e a noção dos criadores de um híbrido de Action-Arcade com Simulador. Claro que a possibilidade de jogar um jogo de caças contra oponentes humanos também não passou despercebida. Infelizmente, após experimentar o jogo a sensação com que fiquei não foi positiva. Garantido que ainda é um Early Access, mas o conteúdo do jogo esgotou-se-me ao fim de pouco mais de uma hora. Não que seja pouco, mas é simplesmente demasiado fácil e desinteressante. Como disse, simuladores híper-complexos não são divertidos. Por outro lado, algum realismo impõe-se para que a experiência seja remotamente reminiscente do que seria pilotar um caça. Vector Thrust tentou encontrar um equilíbrio, mas falhou. O jogo de Simulador tem muito pouco, ficando-se pelo action arcade. E um bastante genérico não fossem os gráficos cel-shaded.

Gajos Fixes

Gajos Fixes não olham para as explosões.

 

Se me fosse permitido algumas sugestões aos criadores: visões da carlinga com a consola do avião a surgir no campo de visão, munição realista (porque caças não levam mais de 100 mísseis consigo), e deixem-nos fazer as missões na íntegra (começar com o avião no ar, e terminar mal se destrua o último objectivo é fraquinho). Não queria um simulador verdadeiro, mas ter de me preocupar com combustível, levantar e aterrar o avião, selecção e uso judicioso do armamento a usar, missões nocturnas e de espionagem. Tudo conteúdo que poderia trazer mais interesse a Vector Thrust. Talvez venha a ter (e na verdade até já tem algum, graças à facilidade de modding que os criadores insistiram em implementar no jogo – boa jogada), mas para já é uma simples arena de caças, com campanhas demasiado fáceis e demasiados explosivos nas asas.

E agora desculpem-me que vou ali jogar F-15 Strike Eagle, que fiquei com um “bichinho” para matar.