Um Chicken Nugget de NAtURAL DOCtRINE

Há muito tempo que não jogava um turn-based de estratégia por longas horas, porque nunca gostei do “para-arranca” como se estivesse num semáforo em plena Lisboa. Contudo, bem como num jogo de xadrez, o conceito estratégico e táctico estão presentes, o que me proporciona uma maior atracção por este género de jogos ou para, pelo menos, conceder-lhes alguma atenção. Com NAtURAL DOCtRINE, e ao contrário do xadrez, temos o elemento de sorte e cada vitória é facultada por tentativa e erro. Mas tentar definir NAtURAL DOCtRINE como um jogo de estratégia não é propriamente correcto. Parece mais uma experiência de laboratório da Kadokawa Games, a produtora do jogo, para medir a paciência dos jogadores, e perceber quem fica mais depressa sem saliva como se eliminassem todos os estímulos.

Em alguns momentos estarão presos num espaço onde se avizinha a mais dura e imprevisível batalha, certamente repetida vezes sem conta até que a desistência se sobreponha à determinação em mostrar que o jogador é mais inteligente que o design do jogo. Se, para o jogador, envolvesse apenas uma enorme aptidão em tácticas e pensamento lógico, estaríamos a avaliar NAtURAL DOCtRINE pela sua extrema dificuldade e pelo desafio (o que lhe seria favorável), mas deixa de ser eficaz quando a melhor, mais pensada e demorada táctica após várias tentativas é “afogada” em três segundos. Podemos estar a dominar a batalha e de repente sermos eliminados num ritmo de disputa duvidosa, constatando que o sistema de combate não é justo nem é bem balançado, acrescendo a ordem de combatentes que por várias vezes favorece os inimigos. Isto é, quando pensamos que temos margem de manobra para defender ou atacar com todos os nossos heróis, damos por nós a colocar apenas dois na mira de sete ou oito inimigos que nos massacram sem piedade até à morte.

Um passo em falso e é Checkmate!

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A acção é metade do tempo perdida entre um ‘vai-para-aqui-vai-para-ali’ de dois em dois quadrados (um quadrado quando muito feridos), um herói de cada vez, mesmo que aconteça nada até ao próximo local. Há locais que só precisamos de avançar uma área para conversar com uma personagem e perde-se o game flow entre “arrastar” os heróis um a um e, o mais ridículo, esperar que cada turn passe por cada personagem em campo (às vezes 15 ou 20) que não é suposto mexerem.

O conto é também acariciado de frustração e de clichés. As personagens falam demasiado e ao mesmo tempo dizem nada de substancial que motive o jogador. No entanto, há um pequeno vínculo entre personagens/jogador e a história poderá subitamente virar a página sem que se esteja à espera.

O melhor: Desafiante. Uma história sem sumo, mas com alguns twists imprevisíveis.

O pior: Combate injusto e mal balançado; Frustrante; O game flow é constantemente interrompido e há percas de tempo injustificáveis.

NAtURAL DOCtRINE não é aconselhável a jogadores casuais ou fracos de coração. Podem achar tão mau como ouvir em repetição a música de Roberto Carlos: “Esse cara sou eu”. É para os ávidos grandes mestres experientes em turn-based RPG que procuram um jogo para longos tempos de desafio e tenham em sua posse ansiolíticos. Poderá agradar a um nicho muito pequeno devido à inacreditável dificuldade como se fosse um processo de selecção natural do mais adaptado. Podem, no entanto, optar apenas por jogar no modo online cooperativo com decks de cartas de heróis e criaturas do mundo de NAtURAL DOCtRINE…

… Sim, já estou a abrir o Battle.net.

 

NACtURAL DOCtRINE está disponível para PS3, PS4 e PS Vita