Uma antevisão a Chroma Squad

Toma lá disto

Toma lá disto!

 

Mãos no ar: quem nunca viu uma série ao estilo dos Power Rangers? Ninguém, certo? Transversais a quase todas as gerações, desde 1975, o género televisivo dos tokusatsu (literalmente: efeitos especiais), também conhecido como Super Sentai, permeia as nossas manhãs de fim-de-semana e polvilham um mar de desenhos animados com imagens “reais”. Notórios pelo seu estilo brega, adereços altamente plásticos, monstros que queriam ser o Gojira quando crescerem, Mechas desenhados para nos fazer comprar brinquedos e normalmente uma equipa de cinco adolescentes, especialistas em artes marciais e que gostam de sair à rua em pijamas coloridos a condizer.

Tudo nos tokusatsu é hilariante. E genial!

Roupa

Sabe, precisávamos de alguém… com mais roupa, tá a ver?

 

De tal forma é a sua influência cultural (até esta frase é hilariante), que os nossos amigos lusófonos da brasileira Behold Studios decidiram criar um jogo dedicado a este género. Depois de nos terem agraciado com o genial Knights of Pen & Paper +1, confesso ter ficado mais curioso com este seu novo projecto. E não fiquei desiludido.

A Behold Studios começa a criar um padrão e um estilo muito próprio. Tal como no KoP&P+1, Chroma Squad faz uso de um estilo gráfico baseado em pixel art muito reminiscente do tempo dos 8 e 16 bits e todo o jogo está construído à volta de uma premissa: romper a quarta parede* de um locus cultural clássico, e homenagear o mesmo através do humor e da autoparódia.

Em KoP&P+1 controlávamos um grupo de RPG de mesa, enquanto assistíamos simultaneamente à estória que o Mestre de Jogo contava, e aos eventos que se desenrolavam à mesa de jogo. Tínhamos simultaneamente os jogadores e os seus personagens.

Luzes! Camera! Acção!

 

Já em Chroma Squad somos o produtor de um pequeno estúdio (falido) e com uns trocos, alguma plasticina e muito trabalho vamos produzir a nossa própria série Super Sentai de sucesso. O jogo é na sua essência um tactical-squad por turnos, mas o verdadeiro sumo deste título em Beta é o seu tema e a forma como foi executado.

A estória divide-se pelas temporadas da série que vamos produzindo. Os valores de produção vão aumentando consoante o nosso sucesso de audiências e as nossas manobras de marketing. É necessário um constante equilíbrio do delicado orçamento, entre o dinheiro que gastamos para produzir os episódios e o lucro que deles obtemos através sobretudo das audiências. É necessário pagar aos actores, figurantes, comprar adereços, equipamento de filmagem e edição, etc. No cerne do nosso império televisivo estão os nossos actores principais e os personagens que eles interpretam. Todos os clichés dos Super Sentai estão presentes, e fazem notar a sua presença da forma mais cómica possível. Desde os fatos coloridos (alguns feitos pela nossa mãe com amor), aos combates de Mechas com Monstros Gojirianos de fatos plásticos e efeitos especiais do mais brega que nos for possível. A palavra de ordem é “foleiro” e o importante são as reacções do público.

Combinar

Não tem uma que combine com rosa-choque, não?

 

No fim do dia, Chroma Squad não é um título inovador. Todas as mecânicas de jogo são mais ou menos as esperadas e já vistas. Mecanicamente é um híbrido ligeiro de squad-tactical com gestão de negócio.

É sim, um título divertido. Pejado de inuendos e piscares de olhos a nós, o jogador que cresceu a ver Super Sentais, e tem apenas um objectivo: divertir-nos da forma mais hilariante e instantânea possível. E aqui, antecipamos um excelente grau de sucesso quando for lançado.

A Beta permite-nos jogar a primeira temporada (cerca de meia dúzia de episódios) e pareceu-nos bastante completa. Creio que neste momento apenas faltará acrescentar conteúdo narrativo para dar corpo às previstas sete temporadas que a versão final terá. Definitivamente um título a manter sob o radar, e um perfeito exemplo do que deve ser um Kickstarter.

Chroma Squad é um título nostálgico e carregado de humor. Transporta-nos para um tempo em que tudo era mais simples, e bastavam cinco pijamas coloridos e alguns carros de brincar para criar uma série de sucesso. Tal como o seu antecessor KoP&P+1 está claramente direccionado para aqueles que seguem o seu tema base. É estupidamente divertido, e que mais podemos querer de um jogo sobre Super Sentai? É um jogo verdadeiramente democrático: do fãs, pelos fãs e para os fãs.

* A quarta parede é uma das componentes da suspensão da descrença, em que entre os personagens de uma estória e a sua “plateia” é assumida uma parede imaginária que impossibilita a interacção entre os dois (a expressão terá tido provavelmente origem no teatro). A expressão “romper a quarta parede” é usada quando um ou mais personagens rompem com o seu papel e “piscam os olhos” à plateia, assumindo que os eventos da estória são exatamente isso.