Uma análise a The Vanishing of Ethan Carter
Admito desde já que antes da Gamescom pouca atenção tinha dado aos trailers de lançamento deste The Vanishing of Ethan Carter, publicado pela Nordic Games. E que foi apenas com a sua inclusão no lineup apresentado na conferência da Sony em Colónia que me deu um outro olhar ao jogo. Não porque o facto do seu lançamento para a PS4 estar planeado, mas porque a máquina de marketing da Sony soube escolher imagens mais cativantes para o jogo do que o primeiro video disponibilizado aos media.
Rapidamente percebemos que The Vanishing of Ethan Carter não foi criado por jovens developers, mas sim pela equipa da The Astronauts, as mesmas pessoas que fundaram a People can Fly (que criou Bulletstorm, Painkiller e Gears of War: Judgement). E porque é que este know-how e portefólio “pesado” importam? Porque o seu conhecimento dos meios de produção trouxe-nos uma das experiências mais deslumbrantes que pude ter nos últimos tempos.
O meu primeiro embate com The Vanishing of Ethan Carter foi o de me sentir parte de um episódio da série dos anos 80 de The Twilight Zone (Quinta Dimensão em Portugal). Uma aura de mistério, desconhecimento e algum medo pela desolação que contrastam com todo o cenário deserto, e um argumento sólido, thrilling, que me relembrou do porquê de sempre ter adorado a famosa série antológica de mistério. Em TVoEC não existem criaturas para matar, ou monstros que nos persigam, ou mesmo humanos com quem interagir. Estamos apenas sós, através do olhar de Paul Prospero, o detective que investiga o desaparecimento de um rapaz chamado Ethan Carter, a percorrer a paisagem abandonada de Red Creek Valley.
O próprio jogo avisa-nos logo no início que não nos vai dar a mão. Não existem dicas, sugestões, ou grandes setas a apontar para o que fazer. Já que Red Creek Valley é um mundo aberto, poderemos estar a passar por um puzzle sem sabermos que o será num futuro próximo. O que significa que a minha primeira hora de The Vanishing of Ethan Carter foi uma espécie de walking simulator, em que o meu dedo mindinho se queixava de pressionar a tecla SHIFT para o personagem correr. É verdade que esta primeira hora em mundo aberto a visitar cada pedaço do cenário me trouxe algo de bom, numa espécie de turismo virtual. É que TVoEC é deslumbrante, cada árvore, cada galho, cada arbusto, cada pedra, cada trilho de terra, cada parede de casa, cada polegada quadrada de polígonos são dos exemplos mais bonitos que alguma vez pude presenciar num videojogo. Tudo recebeu a sua devida atenção, nada parece colocado ao acaso ou copy-pasted de outro local qualquer. Mas para a dimensão que a equipa da The Astronauts tem, esta minúcia, precisão, e detalhe visual devem-se à relativa circunscrição do mundo em que TVoEC se desenrola, e como tal, justifica a exímia beleza do ambiente outonal do jogo.
Para seguirmos as pisadas de Ethan Carter temos de utilizar a capacidade metafísica de Paul Prospero de conseguir juntar fragmentos de memórias para abrir verdadeiros portais para o passado. Ao resolvermos puzzles (que são difíceis, graças à falta de informações que o jogo nos dá) vamos passo-a-passo reconstruíndo as informações sobre os negros segredos que esconde Red Creek Valley, e afinal o que levou ao desaparecimento de Ethan Carter.
The Vanishing of Ethan Carter tem muito de Dear Esther, e o seu interface completamente desprovido de GUI permite-nos adentrar de forma mais profunda no ambiente, e usufruir da melhor forma da estética apaixonante que ele nos traz. É verdade que o desafio do jogo se prende em descobrir e resolver os puzzles que nos permitem juntar fragmentos da memória, demonstrando rapidamente o único problema que o afasta de ser uma experiência quase perfeita: o jogo é excessivamente curto, tendo, numa primeira run cerca de quatro horas de jogabilidade.
O melhor: o visual, o ambiente, o argumento, os puzzles, o desafio, a excelente banda-sonora.
O pior: demasiado curto.
The Vanishing of Ethan Carter é de cortar a respiração: desde o realismo estético de Outono soturno, passando pela tensão que os fragmentos da memória colectiva de Red Creek Valley nos imprimem, até ao desenrolar do mistério que ensombra o desaparecimento de Ethan Carter. Apesar de relativamente curto, temos aqui presentes uma das melhores experiências em jogos de aventura, que sabe aliar da melhor forma um ambiente carregado com um bom argumento de mistério, em que rapidamente percebemos que cada portal para o passado nos agride com segredos demasiado negros.
The Vanishing of Ethan Carter é agora um exclusivo PC, mas sairá no próximo ano uma versão de PS4.