Segunda parte da análise a The Sims 4
Na semana passada publicámos a primeira parte da análise a The Sims 4, e como se devem lembrar foi escrita por uma convidada muito especial: a minha mulher, que tem dezenas de horas de construção e decoração de casas no mais recente título da Maxis.
Como perceberam, a parte de construção não é, nem nunca foi, o factor que me fez jogar a série The Sims. A sua quarta iteração não é excepção. Felizmente para jogadores como eu que detestam essa componente já existem uma série de divisões pré-feitas e pré-decoradas que nos põem “sobre rodas” na escala social.
No meu caso fui um pouco mais extremo. Assim como me aconteceu durante a Gamescom, a minha intenção primária em The Sims 4 era a de experimentar ao máximo as interacções sociais. O que significa que para além da cerca de uma hora que demorei a vestir o meu personagem e a estipular a sua personalidade durante a sua criação, só me restava mesmo por em prática essas definições. A criação fisionómica dos personagens não me pareceu ter dado um salto evolutivo assim tão grande em relação ao anterior, mas foi a a criação dos traços de personalidade que realmente me fizeram perder algum tempo. Por já ter jogado o jogo em Colónia sabia de antemão que cada traço, particularidade e peculiaridade iriam representar uma esmagadora diferença na jogabilidade e nas interacções com outros Sims.
E lá fui eu, após comprar um lote num dos bairros disponíveis a construir um rectângulo que seriam as fundações da minha futura casa. Criei o meu personagem para que ele osse confiante e flirty, o que significava que num espírito algo predador-sexual fui logo para o meio da rua tentar meter conversa com todas as Sims que por ali passavam. O que, para meu espanto e gáudio, significou manter uma conversa com três Sims ao mesmo tempo, enquanto as linhas de conversa que mantinha com cada uma lá iam revelando mais sobre os seus interesses. E é aqui que reside um dos pontos mais interessantes desta iteração de The Sims: todas as interacções sociais já não têm uma aparência pré-feita, em que tínhamos pouco mais de meia-dúzia de linhas de conversa para desenvolver. Agora, tal como fazemos na “vida real” (aquela que temos fora do mundo de The Sims), sempre que conhecemos alguém e a queremos conhecer melhor temos de conversar o suficiente com a pessoa para que saibamos mais sobre os seus gostos, ambições e aspirações. A menos que sejamos hackers que que façamos a mais dura online stalking de que há memória.
As sucessivas linhas de conversa reflectem-se in-game com a nossa capacidade de irmos “desvendando” mais sobre o nosso interveniente, e dessa forma não só memorizarmos alguns padrões da sua personalidade, como abrir novas linhas de diálogo. É claro que este desenrolar da conversa em dezenas de ramos de conversação depende muito do tipo de personalidade do nosso personagem. Um Sim confiante terá mais facilidade em abordar outros Sims de forma mais directa, e é possível que essa confiança que transparece resulte em um maior sucesso nas conversações.
Voltando, às três Sims que estavam à minha volta(do meu personagem, leia-se), decidi “investir” numa e perceber na prática se os traços de personalidade mais flirty que estipulei para o meu “avatar” se agilizariam o romance, e a realidade é que assim foi.
Nessa noite saímos para jantar, e foi aí que outra das novidades sociais surgiram: uma espécie de side quests que nos ajudam a tornar o encontro no melhor desenlace possível. O que significa, em Simês, WOOHOO! O meu Sim e a sua amiga lá se apaixonaram nessa noite, após algum investimento de conversação, e algumas manobras de conversação das escolhas que fazia. É que as emoções dos Sims agora pesam, e muito, e obrigam-nos a reconduzir a conversa para caminhos específicos para estar de acordo com aos nossos estados de espírito e o dos nossos intervenientes. Como disse antes, este é possivelmente o The Sims que menos parece scripted em tudo o que fazemos, e que podemos investir em conversar e ser actores sociais, e não meramente dar uns cliques em cinco ou seis frases padrão.
Os nossos Sims têm aspirações, vontades próprias e ambições. O que significa que o seu estado de espírito pode levar (por exemplo) um Sim mais ligado às artes a ter períodos de inspiração, e cujo talento pode ser altamente desenvolvido se aproveitarmos esses “buffs”. Nesta faceta mais próxima de algumas mecânicas de RPG, sentimos que quanto mais proeficientes formos a desenvolver determinada tarefa (ou determinada interacção social) que vamos desbloquear novas “skills” e/ou novas linhas de diálogo para usarmos nas devidas situações.
Parece-me também que estes Sims cheios de personalidade, vontade e carisma são muito atreitos a desenvolverem manias. Como disse no início, a minha paciência para a construção/decoração é quase zero, e após perceber que encessitava de maior conforto do que o rectângulo que descrevi no meu terreno. E para isso decidi pegar no meu personagem e ir viver com uma família pré-concebida pelo jogo. E de alguma forma dei origem ao episódio piloto de uma sitcom: “Sozinhos em casa com o engatatão”, “Foi assim que eu conheci o nosso inquilino” ou “O penetra” podiam ser perfeitamente o seu nome.
E porque é que eu disse que de alguma forma os Sims devem desenvolver manias? Pela simples razão que o meu Sim, apesar de ter quarto e cama, e dentro de toda a sua extravagância avant-garde de artista, apenas dormia em bancos de jardim, na rua ou em qualquer banco/cadeira que encontrasse.
Os únicos pontos que me deixaram algo desanimado com toda esta bem-tecida malha de possibilidades sociais, prende-se com a falta de controlo do personagem no emprego. É que neste momento eles limitam-se a fazer pop e vão para o emprego. Estará uma expansão a ser desenvolvida, que nos permita investir em diversas carreiras e que nos mostre a vida profissional dos Sims? O outro factor é a falta de diversidade de locais públicos onde interagir, mas também esse aspecto acredito que vá ser resolvida à boa maneira de The Sims: com uma expansão.
As interacções sociais deram um salto qualitativo gigantesco neste The Sims 4, e poderá ser um dos grandes motivos de investimento para quem queira apostar numa faceta de life simulation. É que os Sims já não são (apenas) umas figuras caricatas que falam simês e que parecem ter sido programados dentro de linhas muito rígidas de desenvolvimento. Eles agora existem, têm vontades próprias e personalidades complexas, nas quais temos de investir e desenvolver. The Sims 4 permite-nos ter o nosso próprio reality show no nosso computador, com figuras virtuais putativamente mais interessantes, inteligentes e complexas do que aquelas que preenches os ecrãs de TV real.
The Sims 4 é um exclusivo PC.