Uma análise a Sherlock Holmes: Crimes & Punishments
Depois de termos andado a resolver quase metade do primeiro caso do jogo no stand da Focus na Gamescom, foi-nos agora dada a oportunidade de jogar o jogo na íntegra no conforto da nossa casa. Após uma série de jogos mais lineares, e que apesar da qualidade do argumento e dos mistérios (não fossem eles baseados em histórias do mestre do género), o que sempre sentimos é que a Focus pouco ou nada arriscou de jogo para jogo. Mas em Sherlock Holmes: Crimes & Punishment é dado um dos maiores passos na série e o resultado é um tremendo jogo de investigação.
Já sabíamos pelos seus developers que o subtítulo do jogo não era inocente. A referência à magnum opus de Dostoievsky reflecte-se em muito na alteração que o jogo teve e consequente aproximação ao sucesso dos jogos da Telltale. É que os dilemas morais presentes na obra literária com o mesmo nome têm repercussões na forma como encerramos os casos: em Sherlock Holmes: Crimes & Punishment não nos limitamos a investigar cada um dos casos, mas temos também de fazer escolhas sobre o futuro dos suspeitos/acusados.
Como tínhamos afirmado, há mais da nova série de Sherlock de Steven Moffat do que antes na série de videojogos do detective mais famoso do mundo. É que as similaridades óbvias entre a série de 84, onde Jeremy Brett desempenhou o papel de Sherlock e David Burke o de Watson são evidentes não só na fisionomia dos personagens, como na própria personalidade dos protagonistas. Mas a diferença é que há muito da genialidade de Moffat a transparecer no jogo, e que se reflecte inclusivamente em algumas mecânicas deste Sherlock Holmes: Crimes & Punishment. A começar pelas inferências típicas que Sherlock faz através da observação dos seus interlocutores. Há uma série de palavras que flutuam no ar por pequenas dicas visuais que o detective retira dos restantes personagens e que em muito relembra a série Sherlock da BBC. A acabar no sistema de deduções que o jogo agora possui em forma de mapas mentais.
Do ponto de vista técnico este Sherlock Holmes: Crimes & Punishment representa também um grande salto tecnológico na série. Para além de ser o primeiro a ser desenvolvido sobre Unreal Engine 3, o que significou uma evolução visual gigantesca quando comparado com os anteriores, e que demonstra todo o seu poder nos close-ups dos personagens. Ainda assim, esta melhoria visual e maior detalhe das cenas acaba por embater literalmente na existência de paredes invisíveis que nos impedem de melhor explorar cada cenário.
Ao nível do enredo temos seis casos retirados da obra de Sir Arthur Conan Doyle, magistralmente traduzidos para argumento de videojogo, mas que acabam por ter um ritmo excessivamente compassado. A necessidade de estarmos constantemente a mudar de localização para interrogar testemunhas, ou para investigar algumas pistas fazem-nos sofrer, e muito, com um dos grandes problemas do jogo: os loadings gigantescos. Felizmente que para os minimizar foram encontradas algumas soluções curiosas, nomeadamente o facto de que Holmes vai lendo Dostoievsky enquanto viaja de carroça, o que nos permite irmos vendo as pistas guardadas e desenvolver o mapa mental. Não fossem estas possibilidades e o ritmo excessivamente compassado seria ainda mais prejudicado pelos tempos mortos de loading.
Como afirmámos antes, é facilmente perceptível a vontade da Frogware em mimetizar a fórmula que a Telltale aplicou a The Walking Dead e A Wolf Among Us. Ao contrário dos jogos anteriores em que o desenvolvimento era bastante linear, em Sherlock Holmes: Crimes & Punishment cada caso tem dezenas de possibilidades de encerramento, o que inclui a possibilidade de falharmos no nosso suspeito, ou na razão do crime, ao qual o jogo nos informa (tal como nos jogos da Telltale) qual a percentagem de jogadores que tomou a mesma escolha que nós. E esta “escolha” do suspeito é ainda mais complexificada quando temos a escolha de qual a punição para o acusado. Será que a nossa balança moral definirá uma acusação pesada para o criminoso, ou a nossa investigação demonstrou que as suas motivações, ainda que ilegais, foram “bem-intencionadas”. É claro que o peso das escolhas morais não se comparam às duríssimas de The Walking Dead, mas acabam por trazer um novo sabor à série.
O melhor: o visual melhorado, o argumento, as ramificações dos mapas mentais e as escolhas morais.
O pior: os loadings, o ritmo compassado do jogo.
Sendo uma boa obra para fãs do detective mais famoso de sempre, assim como de aficionados de jogos de mistério, Sherlock Holmes: Crimes & Punishment conseguiu fazer a série sair da sua zona de conforto. Este poderá ser, em diversos aspectos, o melhor jogo de Sherlock Holmes das já nove iterações publicadas pela Focus. Houve alguma inteligência dos seus criadores em manterem o tom de um dos melhores Sherlock de sempre, na pele de Jeremy Brett, mas dar-lhe a extravagância do Síndrome de Asperger da interpretação de Benedict Cumberbatch.
Sherlock Holmes: Crimes & Punishment está disponível para todas as plataformas. Analisada a versão de PC.