O Rubber Chicken denuncia logo com a sua própria nomenclatura a sua paixão avassaladora por aventuras gráficas. Se a primeira metade dos anos 1990 foram a época áurea do género, e das quais saíram grande parte das séries de sucesso que ainda hoje vivem na nossa memória, o final da década e a explosão do 3D pelo mercado fadou ao declínio os point-and-click adventures. Com o advento do mercado indie os apaixonados das aventuras gráficas têm muito a agradecer à Telltale Games e à Daedelic Entertainment por revitalizarem o género e a reabrirem as portas do mercado.

Com este novo ânimo e novo fôlego dado às aventuras gráficas, grande parte dos criadores (ditos) históricos do género voltaram à carga, trazendo em alguns casos sequelas das séries que nos apaixonaram. Foi o caso de Charles Cecil com o seu estúdio Revolution Software, que trouxeram o quinto episódio da série Broken Sword, Tim Schaffer e a sua campanha milionária de crowdfunding de Broken Age, e Jane Jensen que comemora agora o 25º aniversário de Gabriel Knight.

Admito que após o último Gabriel Knight, no já longínquo ano de 1999, de alguma forma perdi o rasto às produções de Jane Jensen. Não fosse o seu trabalho mais recente em Gray Matter, e posteriormente como consultora no policial Cognition: An Erica Reed Thriller, e a sua campanha de financiamento da sua nova aventura gráfica, Moebius: Empire Rising ter-me-ia passado totalmente ao lado. É claro que na minha senda pessoal de tentar conhecer e jogar o maior número de aventuras gráficas possíveis, acabei por cruzar-me não só com o estúdio de Jensen, o Pinkerton Studios, responsável por Moebius e pelo remake do primeiro Gabriel Knight, mas também com uma editora que tem focado grande parte do seu portefólio no lançamento de aventuras indie e que parecem apelar a todos aqueles que ainda sonham com Monkey Island, Space Quest e até, de uma certa forma Leisure Suit Larry. A editora está tão apostada em publicar aventuras gráficas que só nos últimos meses já publicou quatro. A Galinha, na sua missão de trazer aos seus leitores ovinhos frescos (leia-se: aventuras gráficas que são tão desconhecidas que a probabilidade  de nunca terem ouvido falar é bastante grande).

Jane Jensen’s Moebius: Empire Rising

Como já dissemos, este trata-se do bem-sucedido projecto de Kickstarter da veterna Jane Jensen, inspirada pelo sucesso do crowdfunding de Broken Age. É verdade que a premissa inicial de Jensen, de criar uma linha intricada de argumento com aspirações de criar uma franquia forte o suficiente, e que apelasse aos leitores de Dan Brown. Mas apesar do aspecto carismático e anti-social do protagonista Malachi Rector, um antiquário que vai descobrir uma conspiração maior do que a sua própria dimensão, quando comparado com a qualidade de definição, desenvolvimento e carisma de Gabriel Knight, o primeiro acaba por cair por comparação. Há quem diga que um dos grandes defeitos deste Moebius é o de ser excessivamente clássico na sua abordagem às aventuras gráficas. O que nos parece porém é que a intenção de criar uma franquia com este jogo poderá ser suplantado, do ponto de vista de investimento, com a aposta mais segura de criar uma sequela para Knight.

Quest for Infamy

Há tantas séries que jogámos na nossa infância, e que de alguma forma parecem ter ficado cristalizadas num canto da nossa memória. Quando comecei a jogar Quest for Infamy senti-me novamente com 7 anos em casa de um vizinho a jogar o Quest for Glory II: Trial by Fire. É que em minha casa não tínhamos t€mpo para comprar um Amiga ou um 286, e o único computador que lá tínhamos era um velhinho Phillips MSX ligado a um leitor de cassetes.

Quest for Infamy não é uma sequela nem um rip-off de Quest for Glory, mas sim uma homenagem em forma de paródia. É que ao contrário da série clássica da Sierra, aqui não temos o objectivo de ser o maior herói do Reino. Muito pelo contrário. Sabemos logo de início que somos um mulherengo que anda foragido, porque um Barão quer a nossa cabeça. O motivo? Andámos a brincar aos “pais e às mães” com uma filha dele. E como personagem digno que somos lá vamos nós na nossa tarefa de ser o bandido mais ínfame e mais procurado do jogo. Uma espécie de Zezé bin Laden Camarinha de uma aventura-RPG.

Nota: disponibilizamos o nome deste personagem para alguém que queria construir um personagem em D&D 3.5 com este arquétipo.

The Last Door

Apesar do seu magnânime estilo retro, com um ambiente deliciosamente assombroso criado apenas com pixels, The Last Door consegue ser uma refrescante abordagem às aventuras gráficas, mantendo porém uma aproximação clássica em termos de mecânicas. A sorver influências de contos de H. P. Lovecraft e Edgar Allan Poe, o ambiente victoriano criado apenas com recurso a pixels e à bem-apresentada banda-sonora. Não existe grande dificuldade na maioria dos puzzles, nem grande inovação, mas a notória ambiência de influência “lovecraftiana” dá-nos uma excelente abordagem às aventuras-gráficas de terror (ou a sugestão do mesmo).

Gabriel Knight: Sins of the Fathers 20th Anniversary Edition

Lançado há dois dias, este remake do qual recentemente abriu-nos a porta a duas questões: irá Jane Jensen continuar a série de Moebius (que não alcançou a melhor das receptividades) ou apostará numa série mais segura como Gabriel Knight. Estando no seu futuro a quarta iteração da série? Aguardaremos pela entrevista que teremos com a autora nas próximas duas semanas para saber quais os planos para o futuro de uma das game designers mais influentes da história dos videojogos.