Não, não se trata de um daqueles excêntricos programas japoneses, mas sim de uma chalaça com o nome da famigerada convenção de videojogos Tokyo Game Show, que decorreu no passado mês de Setembro em Chiba, no Japão.
Ao leitor(a) que lhe prestou mais atenção é capaz de ter reparado que muitas visitantes femininas fizeram fila, não para jogar a demo do próximo FPS de última geração de uma grande companhia, mas sim para poderem experienciar situações românticas com um homem atraente (ou mulher, mas já passaremos a explicar).
A empresa japonesa criadora de mobile dating sims orientados para jogadoras do sexo feminino (género que no Japão é apelidado de Otome) “Voltage Inc.”, que no ano passado estava num canto da convenção numa banca pequena, estava agora localizada num dos espaços principais da zona Romance Game Corner, e tinha trazido consigo um grupo de homens bem parecidos que podiam ser escolhidos por uma visitante para experienciar um kabe-don.
O que é um kabe-don? Kabe significa parede e don é a onomatopeia que representa o som ou o impacto de bater em algo (como o nosso “bam!”) e é uma situação onde um homem “encurrala” uma mulher contra uma parede colocando o braço à sua frente, inclinando-se para ela. Isto cria um momento de tensão para a pessoa acostada em que é complicado escapar sem haver algum tipo de interação física. Isto é uma situação típica que surge em mangas românticos, o que leva a que algumas mulheres desejem experimentá-lo pelo menos uma vez na vida, porventura com um homem atraente e num ambiente controlado (se um estranho lhe fizesse o mesmo na rua acredito que seria muito provavelmente respondido com uma joelhada na virilha ou gás pimenta na vista).
No Romance Game Corner estavam também modelos masculinos disponíveis para simular conversas íntimas com visitantes sentados em sofás num ambiente de discoteca, bem como mulheres vestidas de homem que se sentavam, conversavam e empurravam as visitantes para uma cama. No fundo, diversão para toda a família. Ter mulheres vestidas de homem é relativamente comum neste tipo de eventos em terras nipónicas, e ajuda a reforçar a ideia generalizada que o pináculo de beleza masculina para a mulher japonesa pode ser tida como ambígua, dúbia ou mesmo andrógina – em que podemos vir a dar por nós a pensar se estamos realmente perante um homem ou uma mulher.
Os jogos focados no romance são uma presença forte e constante desde há mais duas décadas no Japão e estão, de forma lenta mas segura, a abrir caminho para o mercado ocidental. Existem já dezenas de jogos no mercado mobile disponíveis nas nossas bandas, sendo a sua maioria traduções adaptadas para inglês dos seus originais do oriente (existe também um nicho de criadores indie no ocidente que também se foca em jogos do género, mas isso será um artigo para outra altura). Se tiver curiosidade em experimentar, o(a) leitor(a) só precisa levar o seu smartphone a dar uma volta pela Apple Store ou pelo Google Play que decerto que os irá encontrar sem grande dificuldade. É isso ou ler novamente as Cinquenta Sombras de Grey.
Como acredito que não veremos algo semelhante para o ano numa Gamescom ou outra convenção de videojogos do género, parte de mim espera pelo menos que a fasquia seja elevada na próxima Tokyo Games Show e haja uma banca que possibilite os seus visitantes de experimentar ficarem enclausurados em meméticos cicada blocks porque, sejamos honestos, kabe-don é coisa para meninos.