Balas néon rosa-choque

Depois da entrevista gentilmente cedida pelo autor, Terri Vellmann, chegou a altura de nos debruçarmos sobre este jogo que tem chamado alguma atenção dos media e da comunidade pela inovação que trouxe à mescla de géneros que apresenta.

Ao primeiro impacto percebemos que Heavy Bullets tem muito de arcade shooter. Retira-se a profundidade que alguns FPS querem atingir com narrativas complexas e intrincadas, despe-se o jogo de argumento e ficamos com um objectivo apenas: chegar ao final de todos os labirintos/níveis que o jogo nos apresenta.

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Eu quero secos, humano! Alimenta-me de secos!

 

Ao contrário do que se imagina, Heavy Bullets é um FPS roguelike muito, muito difícil. Todo o visual que extravasa os anos 1980, com o rosa-choque, verde e azul a entrarem-nos pelos olhos a dentro como se andássemos a brincar aos cavaleiros Jedi com tubos de néon, leva-nos ao engano. É que esta passeata pelas masmorras do jogo não é como ir ao Frágil e beber uns copos.

Aqui temos de ter um verdadeiro amor às balas, e cada uma que gastamos tem de ser recuperada. Eu sei que muitos dos nossos leitores mais velhos vão lembrar-se automaticamente de uma peça de teatro do Raul Solnado, em que os soldados, perante a falta de investimento dos seus países, tinham de ir buscar cada bala que era disparada. Em Heavy Bullets acontece o mesmo. Sempre que desfazemos um inimigo numa série de pixels que se esfumam, temos de ir lá apanhar o loot respectivo e a bala que usámos. Reciclagem de balas? Porque não!

Ao longo dos labirintos vamos encontrando umas máquinas que nos lembram as de venda de chocolates nos corredores do hospital e que nos vendem balas, powerups, e upgrades. E tudo isto é caro, muito caro mesmo. O que significa que para além do terror de atravessar níveis que parecem saídos de uma arena de laser tag dos anos 1980, derrotando gatos pixelizados e cobras que se disfarçam de relva, também temos o pânico associado de não disparar contra as paredes: é que o retorno das balas acontece apenas quando matamos um inimigo.

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Só não tem aquele café mau, que parece água de lavar pratos.

 

Como bom roguelike que é, Heavy Bullets traz-nos a velha máxima do “morrer é recomeçar”. E não digo isto numa lógica zombie de vida, mas na verdadeira acepção da expressão: sempre que morremos temos de começar de novo, e tentar, se tivermos talento para isso, ultrapassar a nossa pontuação máxima. Podendo cansar alguns jogadores pelos labirintos que aparentam ser repetitivos, Heavy Bullets demonstra-se como um FPS roguelike altamente desafiante, cujos efeitos sonoros nos gritam aos ouvidos como um jogo de ZX Spectrum.

Heavy Bullets é um exclusivo PC.