Um Chicken Nugget de Jagged Alliance: Flashback
Já passaram 20 anos desde o lançamento do jogo original Jagged Alliance, que agraciou muitos dos nossos computadores com um bom jogo de estratégia táctica. Passados também alguns anos de um conjunto de sequelas, pseudo-sequelas e afrontas à série que fizeram muita gente implorar para o mundo esquecer Jagged Alliance e impedir que mais jogos saíssem, eis que que o estúdio dinamarquês Full Control, lançou uma campanha de Kickstarter para produzir esta prólogo, de seu nome Jagged Alliance: Flashback.
Todos sabemos que já muitos estúdios arrastaram Jagged Alliance pelo lodo, e por isso se compreende que o estúdio independente dinamarquês quisesse demarcar-se de tudo o que foi anteriormente produzido anunciando um tão expectável reboot à série. O grande problema desta tentativa de distanciamento com os anteriores jogos da série é que não é assim tão eficaz: é que apesar da Full Control ter produzido um jogo competente, as semelhanças mecânicas, e inclusivamente visuais entre este Flashback e os seus antecessores fazem-nos duvidar se este não é apenas “mais um”. É que especialmente no motor gráfico este JA:F recaiu sobre um limbo estético e visual de não dar um passo evolutivo suficiente em relação a Jagged Alliance: Back in Action, nem de ser notoriamente actualizado para 2014.
É claro que o desafio típico e a dificuldade habitual da série continuam presentes. Na nossa tentativa de depor o ditador da pequena ilha de San Hermanos, vamos desenvolver uma série de tácticas de guerrilha que fariam o brasileiro Carlos Marighella orgulhar-se do nosso desempenho. Entre caminhar com cuidado pelas ruas das favelas de San Hermanos, sempre com a consciência de que poderemos ser emboscados, JA:F traz-nos estratégia táctica desafiante e com alguns bons flavours em relação ao género. A começar pela definição do nosso personagem, que pode ser construído ao bom estilo de RPG através da resposta de um questionário. Mas não de um questionário qualquer, mas um daqueles que possuem uma catrefada de perguntas aleatórias, que nos remetem automaticamente para aqueles irritantes cadernos de questionários que as nossas colegas de liceu tanto gostavam de circular pela turma.
Em geral, este Jagged Alliance: Flashback está dividido em 2 partes distintas de jogabilidade: por um lado a parte de “tabuleiro” em que combatemos os nossos inimigos à vez, utilizando os diversos objectos e paredes como cobertura, e que corresponde de todo aos habituais jogos de “Tactics”, e por outro lado a componente de gestão, já que organizar uma revolta e conduzir uma resistência são coisas que ainda dão algum trabalho (e custos). E é nesta parte que efectuamos a gestão de recursos (através de loot e de negócios que controlamos na ilha), assim como a contratação de mercenários para ajudarem a nossa causa. Aparentemente homens de vontade pura e coragem para libertar San Hermanos do jugo do ditador existem apenas a um preço. E esse preço está constantemente a ser cobrado, como se estivéssemos a pagar salários constantes aos soldados-a-soldo. É que se o dinheiro acabar ficamos completamente sozinhos na nossa luta pela libertação da ilha: sem moedinhas não há ajudinhas.
Jagged Alliance: Flashback é um jogo que apelará apenas a fãs de jogos de estratégia táctica, e que mesmo assim irão sentir grande parte deste jogo como um estranho déja vu. Verdade seja dita que este jogo acaba por estar alguns nós acima dos seus antecessores, e que consegue trazer um bom desafio onde a morte permanente é um factor a ter em conta, e a dificuldade estratégica aliada aos elementos de RPG (dos quais a fatídica sorte por vezes tem um peso excessivo) conseguem trazer largas horas de jogo. Porém, o tratamento estético que foi aplicado a este JA:F impede-o de se “descolar” dos jogos anteriores, e soará datado perante outros fortes concorrentes no mercado indie.
Jagged Alliance: Flashback é um exclusivo PC.