Análise a Theatrythm Final Fantasy: Curtain Call

Há um sem-número de músicas cujos primeiros acordes, primeiras notas, ou breves entoações, nos levam a sonhar, a sentir, a desesperar. E digo-o não apenas da indústria musical propriamente dita: desde a genial e penetrante linha de piano que Mike Oldfield compos para The Exorcist, chegando à melodia a 10/8 que John Carpenter escreveu e interpretou para a sua série Halloween, há uma série de composições musicais que irão acompanhar a Humanidade até ao final dos tempos. Felizmente que os videojogos são um desses casos, e é claro, que a série Final Fantasy com as maravilhosas composições de Nobuo Uematsu é um dos seus expoentes máximos.

Com o salto tecnológico de codificação de audio, houve algo de verdadeiramente arrepiante nas músicas dos FF lançados para a Playstation. Nunca tive problema em admitir que chorei quando a Aeris morreu em FF VII, em que o suspense musical da investida de Sephiroth é abruptamente substituída por uma música algo nostálgica, enquanto a melodia e a animação nos remetem para a última despedida à bela vendedora de flores. Poucos anos mais tarde voltava a arrepiar-me com a introdução de Final Fantasy VIII, enquanto uma composição orquestral e coral nos fazia viajar a um mundo tão próximo do nosso e simultaneamente tão distante, mas tão, tão apaixonante.

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Com o sucesso de alguns rythm games no mercado das consolas portáteis, já se aguardava a entrada de uma série que tem no seu portefólio musical uma longa história de memória e qualidade, e daí se percebe o lançamento de Theatrythm Final Fantasy em 2012. Este Curtain Call, saído há apenas algumas semanas vem pegar nesse primeiro jogo e aumentar a experiência (e tempo) de jogo ao introduzir quase todas as composições de todos os Final Fantasy lançados até hoje, e afinar alguns dos elementos que já fizeram do seu antecessor um sucesso comercial e para a crítica.

É claro que é fácil pensarmos quase automaticamente em Osu! Tatakae! Ouendan! (e a sua sequela) e Elite Beat Agents (os meus jogos favoritos do género de sempre), em que temos de acertar nos tempos de cada nota com a maior precisão possível, tendo de arrastar a stylus da consola pelo ecrã para executar todas as “ordens” musicais que nos aparecem. Em Theatrythm Final Fantasy: Curtain Call acertar nas notas no tempo exacto permite à nossa party desferir dano aos inimigos, e falhar leva-nos a perder HP. Ah! É que ao contrário do magistral Elite Beat Agents, este Curtain Call segue a linhagem RPG da série-mãe, o que significa os consequentes level-ups, skills (passivas lá está) e itemizações estão todos presentes. Mas tudo isso é mais flavour que impacto real num bom jogo de ritmo como é este Theatrythm Final Fantasy: Curtain Call.

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Os níveis, sejam Battle Stages (em que temos de derrotar o máximo de inimigos possível), Field Stages (em que temos de atingir uma “meta”, e em que os nossos sucessos são os medidores de velocidade dos personagens), até aos Event Stages (em que vemos cenas da série no background e temos de conseguir “destrancar” partes dessas apresentações) são todas jogadas a partir das BSO de todos os Final Fantasy, desde o primeiro para a NES. E é curioso como percebemos que o nosso subconsciente reconhece automaticamente grande parte destas músicas, e o nosso corpo nos obriga a bater o pé ao som da música.

Numa vertente mais dungeoncrawler, foram introduzidos neste Theatrythm Final Fantasy: Curtain Call os chamados Quest Medleys, em que temos de atravessar uma série de níveis diferentes (entre Battle e Field) até chegar aos Boss de final de dungeon e que nos obrigam a escolher que personagens trazer, e que skills passivas “equipadas”, como forma de ultrapassar com maior sucesso as especificidades de cada “masmorra”.

A inovação trazida pela indie 0, o estúdio que desenvolveu este Theatrythm Final Fantasy: Curtain Call para a Square Enix, de podermos escolher o tipo de controlos que melhor se ajeita ao nosso estilo, acaba por ser um passo em frente no género. É que para além da habitual utilização da stylus, podemos também jogar apenas com o circle pad, ou com um cruzamento de ambos. Por uma questão de hábito (e pelas vezes que já repeti Elite Beat Agents e Osu! Tatakae! Ouendan!) acabei por jogar dezenas de horas a este Curtain Call apenas no modo mais”clássico”: utilizando a stylus. E é claro que para alongar um pouco a experiência temos também a possibilidade de desbloquear Versus Mode Online, em que damos uso a trechos musicais com os habituais Summons intrínsecos à própria série.

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O melhor: a diversidade de conteúdo, o visual, a duração do jogo e a diversão extremamente viciante.

O pior: a componente RPG é quase inócua.

Theatrythm Final Fantasy: Curtain Call dispõe de largas dezenas de horas de jogo e um conteúdo que nos parece quase inesgotável. Entre todos os personagens que vamos desbloqueando (e que podemos adicionar à nossa party), possuir as mais de 200 músicas disponíveis e ultrapassá-las em diversos níveis de dificuldade é tarefa para muito tempo de jogo. E relembra-nos acima de tudo o quanto boas composições e brilhantes linhas musicais contribuem para elevar a criação no mundo dos videojogos. E nesse aspecto Final Fantasy estará sempre num patamar bem alto, a tocar as suas melodias directamente para a nossa memória.

Theatrythm Final Fantasy: Curtain Call é um exclusive 3DS.