Quando cheguei à Lisboa Games Week – continuo sem perceber que critérios presidiram à utilização de “Lisboa” em vernáculo e “Games Week” em inglês, mas isso são contas de outro rosário – alguns colegas da Rubber Chicken abordaram-me entusiasmados. Não, não estavam particularmente contentes por me ver. Na verdade, estavam mortinhos por me dar trabalho. O motivo da agitação era o The Order 1886, a última aposta steampunk da Sony Computer Entertainment, actualmente em desenvolvimento pelos estúdios Ready at Dawn e SCE Santa Monica Studio, com lançamento agendado para 20 de Fevereiro de 2015. Infelizmente não podem pedi-lo ou oferecê-lo para o Natal… Dada a minha afinidade com o tema e o facto de já não por as mãos numa grande produção steampunk desde o Dishonored – sejamos realistas, nem só de indies vive o homem – confesso, não me fiz rogado.

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Protelando um pouco a listagem das características que, parece-me, farão deste jogo um dos grandes jogos de 2015, num espírito de espalhar a palavra, começo por deixar uma nota acerca do Steampunk, para os mais distraídos, afinal, na epígrafe do nosso site pode ler-se “para quem joga / para quem lê”. Steampunk é um trend cultural – uma estética, se preferirem – que se insere na grande corrente revivalista que é o neo-vitorianismo, cujas raízes podemos encontrar em obras literárias dos finais da década de setenta do século passado, apesar do termo em si ter sido plasmado apenas em 1987. Contrariamente ao que seria de esperar, este é um descendente, não um precursor, do cyberpunk e, como este, pauta-se por uma atitude de crítica face ao paradigmas político-social, cultural e estético vigentes (daí o epíteto de punk). Trata-se de uma corrente que assaz se reporta à época dourada do império britânico, período de que conheceu a força da revolução industrial no seu pleno e cujo progresso científico fazia antever um futuro desassombrado, regra geral à custa de vidas humanas. Imperialismo, racismo andam, normalmente lado a lado. Narrativamente, não poucas vezes, recorre à história alternativa transformando os factos, a tecnologia e os actores, recontando/reinterpretando a história. Não é de admirar, então, que, neste trailer de The Order 1886 encontremos o cientista/inventor Nicola Tesla, herói do movimento steampunk, que discorre acerca da revolução industrial, do progresso científico e do seu envolvimento com a Ordem.

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The Order 1886 é um imersivo single player de acção e aventura onde jogabilidade e design se conjugam para nos proporcionar uma agradável experiência. Somos transportados para a Londres oitocentista, capital de um império e epicentro de uma sociedade de controlo, da qual os dirigíveis que constantemente a patrulham, são apenas um dos exemplos. A cidade enfrenta uma praga de half-breeds digna da melhor das penny dreadful (fãs de  Stephenie Meyer, este não são os lobisomens de que vocês estão à procura) e de dissidentes políticos que pela sua agressividade fariam os piquetes do PC corar. Na ponta da lança está uma antiga ordem de cavaleiros que dedica a sua vida a lutar contra monstros (quem diria…), da qual fazemos parte. No jogo, ao monstro do humano degenerado, contaminado, junta-se o monstro social e nenhum gosta de nós. À disposição do jogador além de um arsenal considerável mais ou menos convencional, mas que os programadores quiseram fazer o mais verosímil possível – posso garantir que a thermite rifle foi das coisas mais divertidas que disparei nos últimos tempos, como eu sempre disse: “para quê fazer pontaria quando se pode incinerar uma divisão?” – está também a obscura black water que não só acelera a regeneração dos cavaleiros, como lhes confere extraordinária longevidade, mas apenas no caso de não serem esventrados da forma mais grotesca possível.

Aguardo o lançamento deste título com espectativa.

Ps – Resta-me agradecer ao pessoal da Sony a hipótese de experimentar o jogo e pedir-lhes desculpa por ser a primeira pessoa a crashar um dos dev kits. Desculpem lá qualquer coisinha.