Quando cosplayers e claques de futebol se combinam

Disclaimer: Este artigo foi escrito enquanto fazia cosplay de Hugh Hefner, sentadinho à secretária envergando um robe confortável e umas pantufas quentinhas. Agora que apontámos o dedo ao elefante na sala, podemos prosseguir.

Não sei se já ouviram falar ou se a viram agitar as penas por lá, mas a galinha esteve na Lisboa Games Week. Para os que lá estiveram, podem de lá ter saído com algumas questões e matutas. Porque é que lhe foi dado o nome de Lisboa Games Week quando uma semana tem sete dias e o evento teve quatro? Ou o porquê a nossa fixação com o místico “Todo a 1€”? Ou porquê um espaço tão modesto para as conferências num cantinho colado aos indie developers? Ou porque é que o Shigeru Miyamoto está a jogar pinball na máquina do canto… Hein? O quê? Aquele não é o Shigeru Miyamoto?! Fui ludibriado! COSPLAYEEEERS!!! *bradando aos céus, agitando um punho cerrado no ar*

Shigereu

Este cosplay de Shigeru Miyamoto está mesmo espectacular. Por momentos levou-me à certa.

 

Vocês podem não acreditar, mas isto está-me sempre a acontecer. Confesso que sofro de uma doença rara chamada de Cospuraíte Indiferencio-Degenerativa Aguda (ou CIDA, para os amigos). Não sei muito bem de onde é que ela veio nem o que a causou, mas segundo o que o meu médico de família me disse eu possuo uma dificuldade extrema em perceber quando alguém ou algo está a fazer cosplay ou não. O meu médico de família julga que foi de jogar demasiados jogos meio obscuros com tentáculos, mas sinceramente nem eu me recordo da última vez que joguei Cthulhu.

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Aqui podemos ver o jovem Ric a fazer um excelente cosplay do “Tesoura” do famoso jogo “Papel, Pedra, Tesoura”

 

Depois de ter sido diagnosticado, eu tentei saber um pouco mais sobre o cosplay como forma de conseguir lidar com a CIDA, mas confesso que o meu entendimento do seu conceito vai pouco além do superficial. Compreendo que a palavra é um anglicismo de origem japonesa que funde as palavras “costume” e “play”. Percebo que o seu significado se distingue da simples máscara carnavalesca porque existe um elemento de “roleplay”, um conceito de personagem, um comportamento e postura que vêm associados à indumentária.  Entendo que é uma subcultura em forte crescimento e bastante pronunciada em alguns países desenvolvidos, onde os cosplayers chegam mesmo a ser individualidades distintas da cultura dita “geek” e podem ser um forte factor de decisão para querer assistir a uma convenção.

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Numa manobra de génio, e certamente num protesto de conotação político-social, esta pessoa decidiu fazer cosplay de leitor de bilhetes da FIL.

 

Mas o que levaria alguém a fazer cosplay? Isto não é uma pergunta estritamente académica. Não procuro estabelecer uma correlação a teorias da Psicologia como o Síndrome de Peter Pan – deixarei isso aos investigadores e aos fãs de Michael Jackson – mas sim quero tentar perceber que sentimento os leva a querem-se vestir de heróis e vilões, personagens fantásticas e míticas, estando num limbo paradoxal entre a existência e a inexistência. Acredito que colocando a mim mesmo estas questões e constantes ponderações me tem vindo a ajudar a encontrar respostas e a lidar com o meu problema.

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Não se deixe enganar! Esta senhora que é a Patrícia na realidade não estava a trabalhar na banca da Restart, mas é sim uma cosplayer que estava de passagem a fazer uma chamada num telefone imaginário.

 

Com este conhecimento que fui reunindo, acredito neste momento ser capaz de gerir a minha CIDA e levar uma vida normal. Agora só em situações raras é que não sou capaz de distinguir uma pessoa normal de alguém que está a fazer cosplay. O pessoal do Rubber Chicken, como os grandes e galináceos companheiros(as) que são, sugeriu que eu escrevesse algo sobre cosplay e que fizesse uma pequena colecta das fotos de cosplayers que eu mais gostei, e que isso funcionaria também como terapia para ajudar a lidar com o meu problema. Isso ou achavam que podiam ter umas boas gargalhadas, caso eu fosse cometer alguma gafe – pois enganam-se, meus amigos. Estou confiante nas minhas escolhas.

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A menina da esquerda está a fazer cosplay de irmã do Luis Suarez e prepara-se para dar uma dentada no panorama português dos videojogos.

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Este cosplay de drone está perfeito.

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O Lisboa Games Week não teve só cosplayers – também teve mimos!

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Cosplayers vão a convenções de videojogos porque dão-se bem “c’os players”.  *badum-tss*

 

Depois de tanto pensar, cheguei à conclusão que os cosplayers são como as claques de futebol. É certo que a muitos causam confusão por onde passam, mas eles também adicionam um colorido que é sempre bem-vindo a qualquer evento cultural, princpalmente naqueles que envolvam videojogos ou banda desenhada. Podiam não estar presentes, mas não seria a mesma coisa. Para finalizar, devo dizer que ainda estou à espera para ver cosplayers nas convenções e conferências do Centro Cultural de Belém ou da Gulbenkian. É o próximo passo, gente! Façam isso acontecer! Apareçam por todo o lado e pode ser que isto me ajude a derrotar a CIDA de uma vez por todas!

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Fantástico cosplay de Galinha vestida de Chuckie Egg aka Gajo-à-beira-dos-40-sem-vida-social (o da direita), à esquerda um cosplayer de pessoa que interpela a intumescência do Miguel Nogueira

 

PS: Vejam as fotos tiradas pelo nosso Frederico Lira no nosso Facebook e as fotos publicadas aqui no site.