Um Chicken Nugget a Door Kickers
Graças ao ingresso no Ensino Superior consegui adiamentos sucessivos do antigo Serviço Militar Obrigatório. “Ainda bem”, penso eu desde então, é que conhecendo-me como conheço acredito que eu poderia vir a ser o pior Aspirante da história das Forças Armadas portuguesas. O que significa igualmente que qualquer pretensão que eu pudesse ter de me alistar em qualquer força militar ou para-militar cairia logo por terra no mais simples dos testes físicos. Sim, sou um cepo que não consegue fazer uma elevação, e o reconhecimento das minhas próprias limitações faz-me agradecer a coragem e a entrega das nossas forças de Segurança no seu trabalho do dia-a-dia. Posto isto ser membro dos Comandos ou do GOE da PSP só mesmo em videojogo como é óbvio.
Os diversos meios culturais, em especial o cinema, souberam nos últimos anos mistificar o papel das Forças de Intervenção de cada País. Se os SWAT são das forças policiais mais reconhecidas do mundo, então o BOPE conseguiu demonstrar a crueza da realidade brasileira com a sua representação no filme Tropa de Elite. E nunca na história recente do homem o acto de pontapear uma porta de forma máscula, entrando de rompante na respectiva divisão com uma arma em punho foi uma imagem tão explosiva como nos dias de hoje.
‘Tás a olhar? ‘Tás a olhar?
Experimentar este Door Kickers trouxe-me de imediato à memória o melhor cruzamento possível entre dois jogos que fazem parte da minha memória pessoal (ainda que um deles seja extremamente recente): Rainbow Six e Hotline Miami. É claro que o entusiasmo recente com o anúncio na última E3 do lançamento de mais um jogo da aclamada série do falecido Tom Clancy me fez tomar atenção redobrado neste Door Kickers até ao seu lançamento, e fico ainda mais feliz (pelo tempo de jogo despendido) ao perceber que este jogo de estratégia táctica é um brilhante jogo. E é aliás uma belíssima homenagem e reinterpretação do legado que Tom Clancy criou, e que soube aproveitar, mediante os constrangimentos de produção que uma equipa tão pequena deve ter tido, a melhor “tradução” para uma linguagem top-down view recentemente abordada no magnânime Hotline Miami.
O Márcio vai pela ala e cruza para o Rúben que vai pela centro e tenta cabecear a bola, evitando a mancha do guarda-redes.
Em Door Kickers vamos pontapear muitas portas, alvejar incontáveis “hostis” (utilizando o jargão próprio) e morrer um número igual de vezes. É que cada um dos muitos níveis requer minúcia, precisão, estratégia e pensamento prévio. E utilizar cada uma das armas e tácticas ao nosso dispor, assim como a parafernália disponível a cada uma das “classes” de polícias de Intervenção que controlamos. Desde micro-câmaras para observarmos o que nos espera atrás de cada porta, passando pela utilização de granadas-de-fósforo, há um sem número de planeamentos e decisões tácticas que podemos assumir para completar cada missão. Seja desactivar uma bomba, resgatar reféns, ou assassinar terroristas, os diversos caminhos que podemos adoptar para cumprir as nossas missões demonstram o quão orgânico pode cada uma das missões ser.
E é claro que o valor de rejogabilidade é exponenciado por dois componentes deste jogo: por um lado a possibilidade quase-pedagógica de vermos os replays das nossas jogadas, e por outro pela implementação completa de todas as funcionalidades da Steam Workshop: em que os diversos jogadores vão “alimentando” a comunidade com novos cenários e novas missões para desafiar o mais táctico dos fãs de Door Kickers.
Mãos no ar e BLAAAAAAM!
Apesar da sua apresentação simples, Door Kickers consegue trazer-nos um dos jogos de estratégia táctica mais polidos dos últimos tempos, e que poderá ser a melhor tradução bidimensional que Rainbow Six algum dia terá. Para além de apresentar uma dificuldade e desafio apuradas até para o estratega mais exigente, a sua diversidade de cenários e abordagens para cada missão torna-o um dos melhores jogos do género a ser lançado nos últimos tempos.
https://www.youtube.com/watch?v=swp9d9tqg7M
Door Kickers é um exclusivo PC.
