Um Chicken Nugget amorosamente delicado de Where is My Heart?

O mercado indie tem-nos presenteado com tantas boas propostas de puzzle platformers, que é-nos muitas vezes fácil acreditar que poucas ou nenhumas mecânicas existem ainda para explorar de forma inovadora. Mas o fervilhar constante de muitos dos jovens developers que vão construíndo esta grande e sólida malha que constitui esse termo-chapéu-de-chuva que são “os indies”.

É possível que Indie Megabooth seja um dos conjuntos de palavras que mais usei na minha escrita pós-Gamescom. Mas a verdade é que esta iniciativa existe como um dos melhores exemplos de curadoria exímia do mercado independente, e quase todos os jogos que nos têm mostrado têm sido muito bem-recebidos pela equipa do Rubber Chicken.

Where is My Heart? dos dinamarqueses Die Gute Fabrik não quis inovar nas mecânicas, e se pensarmos bem, o que nos apresenta é o mais clássico dos jogos de plataformas: ir do ponto A ao ponto B. O problema de resolver esta simples premissa é a apresentação que o jogo nos traz: é que ao invés de termos o ecrã como um todo, temos uma segmentação do cenário em pequenas vinhetas que são agrupadas aos nossos olhos. E acreditem que a tarefa de conduzir a simpática família de três monstros para fora da floresta é infinitamente mais difícil neste tipo de apresentação.

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A primeira certeza que temos neste Where is My Heart? é que precisamos de estar no mindset certo para conseguir jogá-lo. E não o digo porque o jogo seja difícil de mergulhar, mas porque necessitamos de uma gigantesca dose de concentração para impedir que o nosso córtex visual entre em colapso, ao ver a lógica sequencial de uma imagem quebrada pela segmentação do ecrã. E é verdade que em muitos dos níveis vamos andar a tactear passo-ante-passo até que o nosso cérebro se habitue à apresentação do jogo.

O game e level design de Where is My Heart? São mais cuidados do que podemos imaginar à primeira vista. É que não tivesse este trabalho sido feito com toda a atenção, e o que teríamos era uma sequência de níveis “injogáveis” e que resultariam em mais frustração do que o gigantesco prazer que é, na realidade, jogá-lo.

O seu visual retro e quase infantil encaixam na perfeição com a jogabilidade, e acentuam o poder visual da dispersão do mosaico pelo ecrã. As cores fortes e garridas constroem a estética próxima do folclore europeu que o autor quis transmitir. Ou não fosse este uma alegoria Where is My Heart? à memória de infância do autor de se ter perdido numa floresta.

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Where is My Heart? é um jogo simples que tem a clareza de saber como e quando acabar. E é no meio de toda esta simplicidade e da gigantesca confusão mental e visual a que nos vai conduzir que nos apresenta uma ideia inovadora, eficaz, e uma demarcação na história dos puzzle platformers.  

Where is My Heart? está disponível para PS3, PS Vita, PSP e PC. Analisada a versão de PC.