Um Chicken Nugget de The Marvelous Miss Take

Quem seguir as minhas análises terá toda a legitimidade de pensar que me ando a dedicar à temática familiar, mais especificamente a vendetas ou revanchismos pela morte de parentes. É que depois do protagonista de Merchants of Kaidan surgir com o belo intuito de refazer a fortuna da família começando a sua actividade mercantil, temos neste The Marvelous Miss Take a protagonista, Sarah Take, a tentar recuperar o espólio artístico roubado da herança da sua abastada tia. E como é que a ajudaremos? A deambular por uma série de galerias de arte de Londres, ludibriando os guardas (extremamente) burros, e resgatando quadro a quadro, escultura a escultura, o que é nosso por direito.

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Alarmes de incêndio? Onde estão?

The Marvelous Miss Take, da Rising Star Games é uma muito boa abordagem aos jogos furtivos. Acima de tudo porque retira todo o ambiente mais sério que é usual em grande parte dos jogos do género e veste-lhe uma capa quase casual, de imersão rápida, e com níveis complexos mas de rápida resolução. Esta quase-causalidade é transparente nas mecânicas do próprio jogo, e é-nos possível resolver todos os “assaltos” apenas com cliques do rato. Apesar de ter jogado o jogo no PC sinto que o game design do mesmo foi estabelecido de forma a que a sua transposição para o mercado mobile fosse feita, e, acredito, que será perfeitamente eficaz. Aliás, as diversas acções, sejam mover, correr, rapinar uma obra de arte ou utilizar uma gadget são todas activadas com cliques rápidos ou prolongados no rato, o que demonstra um bom exercício de game design, mas que por vezes também resulta num pathfinding e timing de execução que nos pode conduzir a alguma frustração.

A história do jogo é simples, deixando apenas a desejar num pequeno aspecto: é que o jogo exala uma dose de humor que não se coaduna com o seu próprio desenvolvimento. Desde qe vi um dos personagens, o ladrão Henry, que se desloca com uma muleta pensei “Espera que isto tem tudo para me tirar umas gargalhadas”. Infelizmente o jogo prossegue sem me dar esse prazer. É que toda a leveza que The Marvelous Miss Take poderia ganhar muito – e exponenciaria e muito a quase-casualidade que alcança – com intercalados momentos humorísticos. O jogo nunca acaba por ser sério, mas também não atinge o ponto cómico que potencialmente poderia conter.

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Sim Fanny, é verdade.

O que nos conquista logo a priori é o visual do jogo. Os seus polígonos com um cromatismo suave, com cores planas e o aspecto altamente cartoonizado (quase ao estilo da Pixar) dos diversos personagens mantem-nos agarrados pela série de assaltos (progressivamente mais complexos) que temos de fazer e que nos auxilia no desafio crescente que este jogo aparentemente casual apresenta.

The Marvelous Miss Take é suficientemente light para que qualquer pessoa mergulhe neste curioso stealth game, mas que simultaneamente apresenta um bom desafio aos jogadores mais exigentes. As mecânicas e a execução são exímias, mas podia, de longe, beneficiar de uma boa dose de humor (situacional ou não) ao longo do jogo.