Uma análise a Rollers of the Realm

Quando a Atlus nos enviou a press release deste Rollers of the Realm houve algo em mim que se contorceu na cadeira ao ver a palavra pinball e o pseudo-acrónimo RPG na mesma frase. É que à primeira vista os dois conceitos são tão díspares que me fazem tanto sentido como ter as palavras “Erudição” e “Fanny” na mesma frase. Mas lá deitei abaixo qualquer relutância apriorística em relação ao jogo como é apanágio do Rubber Chicken, e mergulhei em Rollers of the Realm de mente aberta e preparado para me surpreender. E ora bolas! Não é que me surpeendi mesmo?

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YOU SHALL NOT…bolas!

As tentativas de cruzar as velhinhas mesas de flippers (desculpem-me, mas eu ainda sou do tempo em que as come-moedas dos cafés e lojas de arcadas tinham este nome) com outros géneros não é algo de novo, mas a tentativa de transposição de uma série de conceitos típicos dos RPG, como a ideia de party, de itemização, de experiência, etc, pareciam-me dificilmente aplicáveis a algo tão pouco-obtuso quanto…bolas… Ainda que algumas destas características sejam pouco notórias na jogabilidade, os criativos da Phantom Compass conseguiram dar uma certa “personalidade” e “identidade” a….bolas. O tanque da equipa é uma bola notoriamente mais pesada, menos ágil, e que consegue derrubar os adversários enquanto que o ladrão é uma bola mais pequena, mais ágil mas também facilmente ricocheteada. Ou seja, as especificidades de cada classe são materializadas no comportamento de cada bola e na forma como a inércia age sobre ela.

Cada personagem tem uma série de itens que podemos comprar que vão desde aumentar o seu dano, a sua agilidade, e a eficácia dos seus poderes especiais. Sim, porque contendo o elemento RPG é óbvio que cada bola teria poderes especiais, e que estão diponíveis através da captação de mana. Mana esta que é obtida ao ricochetearmos os nossos personagens nos muitos bumpers existentes em cada mesa.

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Há muito tempo que não via bolas tão delicadas

Se alguns elementos do RPG são inócuos na jogabilidade, porque convenhamos: os nossos personagens são bolas (com avatares brilhantemente ilustrados é certo) um dos grandes pontos altos deste Rollers of the Realm é a genialidade dos cenários. É que por entre masmorras, salas de castelo, florestas, aldeias, e uma série de localizações típicas ao género de fantasia medieval, todas elas sem excepção, são criativamente traduzidas em mesas de flippers. E esta transposição é tão subtil que nem questionamos os diversos cenários, e rapidamente a nossa mente assume a exequibilidade do cenário ser uma mesa de arcada: acima de tudo porque cá em baixo temos os omnipresentes flippers com uma barra de vida, e que são usualmente o alvo dos nossos adversários.

Rollers of the Realm é um jogo desafiante que nos pode levar à frustração muitas vezes. Entre os níveis multi-mesa, e a nossa obrigação de ter uma verdadeira mestria dos flippers, nas boss fights ter de acertar no inimigo vinte ou mais vezes torna-se um exercício difícil e muitas vezes frustrantes, e que muitas vezes significa a TPK  (total party kill) e de perdermos o nível, e consequentemente, não avançarmos na história. É que eu até percebo a necessidade de acertarmos com as bolas duas ou três vezes nos soldados comuns, mas o número de embates necessários para derrotar um boss faz-nos rapidamente ultrapassar a linha entre a diversão e a frustração. E ainda por cima a minha torre de PC não tem slot para introduzir moedas de 20$…

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Toma com as bolas bandido. Ai, bandido!

O melhor: o cruzamento dos dois géneros, a história, o visual e a genialidade dos cenários/mesa

O pior: o excesso de hits necessários para derrotar os bosses

Rollers of the Realm é uma excelente mistura entre flippers e RPG, e tornou-se um excelente e inesperado vício. A vontade de bater high-scores é ultrapassada pelo grind de XP e ouro em cada nível, para que possamos comprar novos itens e novos membros para a nossa party. É um jogo criativo que traz outro flavour às velhinhas mesas que marcaram o nosso crescimento, e que vai muito mais longe do que os típicos videojogos do género: que se limitam a criar skins de IPs em cima das mesas. Pinball com RPG e um enredo. Sim, já existe.

Rollers of the Realm é um exclusivo PC.