Um Chicken Nugget com tomates em calda de Fenix Rage
Sou um fã assumido de jogos de plataformas, e tendo crescido com o padrão Nintendohard tatuado na pele, a ligeireza mainstream do género fez-me passar grande parte dos jogos do passado recente com uma pernas às costas, a mexer um café e a preencher a declaração trimestral de IVA para a Autoridade Tributária. E sinto que existem dois períodos bem-definidos da cena indie das plataformas: antes do lançamento de Super Meat Boy de Edmund McMillen e o período que o procede.
Seprar este Fenix Rage da Green Lava Studios de uma das grandes obras do genial game-designer norte-americano émuito dificil: a inspiração que SMB exerce sobre este jogo é tão grande que nos soa a “sucessor espiritual”. Em alguns aspectos poderíamos até dizer que são excessivamente semelhantes. Desde os níveis zoomed out, até à estética de ambos os jogos, e terminando é claro, na dificuldade doentia e masoquista que ambos apresentam. É que apesar de Fenix Rage trazer mecânicas distintas da obra da Team Meat, tais como a possibilidade de fazer dashing e de saltar infinitamente, poder-se-ia dizer que o desafio é algo como um Super Meat Boy on crack. Para além da precisão microscópica a que o jogo nos obriga, temos dezenas de objectos que nos matam ao mínimo contacto a voar pelo ecrã e que exponenciam taquicardias, e no meu caso tiques nervosos, enquanto morremos dezenas e centenas de vezes até a nossa mestria, rapidez, destreza e precisão nos permitirem ultrapassar cada nível.
Fenix Rage poder-se-ia descrever como o Super Meat Boy agressivamente mais masoquista. É um bom jogo de plataformas para aqueles que procuram o desafio enlouquecedor de jogos Nintendohard, daqueles que nos fazem atirar os comandos à parede e ir à janela refilar com o os miúdos que jogam lá em baixo à bola. É um jogo onde vamos morrer milhares de vezes mais do que sucederemos, mas é daqueles que cada pequeno nível ultrapassado tem o sabor de uma passagem aos 1/8 da Liga dos Campeões*. O único e grande problema de Fenix Rage não se centra na execução do jogo (que cumpre eficazmente o seu destino) mas sim por relembrar a velha discussão (tão secular quanto a criação Humana) da fina margem que separa a inspiração, a homenagem, e a colagem descarada. É que apesar de adorar Fenix Rage, raramente conseguia afastar a ideia de que estava a jogar a sequela ou um spinoff de um dos jogos mais desafiantes que joguei até hoje. De qualquer forma se o Sonic já não “bate” e vos exala inadvetidamente bocejos, então o desafio de Fenix Rage está mesmo aí. Mas é para jogar com moderação sob risco de choque hipertensivo.
Fenix Rage está disponível para Xbox One, PS4, PS Vita, e PC. Analisada a versão de PC.
* Já sonho com isso.