Esgueirando-se em plena vista do Mobile para o PC
Os jogos de discrição (stealth) são tão ou mais velhos que eu, tendo um dos seus primeiros exemplo com 005 da Sega (1981). No entanto foi nos finais da década de 90 que com a massificação da franquia Metal Gear Solid, Thief: The Dark Project e Tenchu: Stealth Assassins, ganharam a popularidade e ribalta que os torna um dos principais sub-géneros da actualidade.
Como, por esta altura, sabem o galinheiro tem um poleiro muito extenso dedicado aos indies, e não nos soa de todo estranho que os nossos amigos sem editor tenham várias incursões por este sub-género. Um destes exemplos é o puzzle-stealth Sneaky Sneaky (Naiad Entretainement), que apesar de sorrateiro foi detectado pelos olhos apurados das galinhas (se calhar são arraçadas de águia, mas não digam ao Ruben de Carvalho que ele não pode com esses bichos).
Lançado recentemente no Steam (e com versão iOS) Sneaky Sneaky apresenta-se como uma aventura de estratégia furtiva combinando de forma muito simples mas elegante elementos de stealth, puzzle e RPG num claro jogo casual projectado para plataformas tácteis. Na verdade aqui reside um dos meus principais tropeções com este título: é tão mobile, tão mobile que não “encaixa” no PC. O porte para o Steam foi notoriamente um simples “copy-paste” sem um mínimo de ajuste. Não temos leques de opções gráficas e de resolução suficientes e o ponteiro do rato não tem ícone próprio, o que faz com que andemos à procura do minúsculo ponteiro do Windows para pressionar botões gigantescos (projectados para écrans de tablets e dedos). Algo incómodo mas não quebra a experiência.
Sendo algo arrojado com a metáfora, podia dizer-vos que Sneaky Sneaky é a versão mobile e algo jovializada de Assassin’s Creed, já que os níveis consistem de mapas sequenciais em que temos o objectivo de avançar no mesmo, roubando tudo o que nos for possível. A pontuação é atribuída pela quantidade de saque que conseguimos, com bónus pelo número de vezes que (não) fomos detectados e outro por cada “morte furtiva” (em que eliminamos um inimigo sem sermos detectados por este ou pelos seus amigos). Temos acesso a algumas ferramentas e truques, não só do nosso reportório e inventário, como do próprio cenário (locais de esconderijo, armadilhas do cenário, etc). Tudo bem regado de um visual muito cartonesco e francamente apelativo. O protagonista faz-me lembrar o Black Mage do 8-Bit Theater na capacidade expressiva extrema que se consegue dar apenas com duas bolas monocromáticas no lugar de olhos. A personalidade sádica e psicopática de ambos é mera coincidência (ou não…).
Segundo bife que tenho com o jogo: o conceito é muito bom, a execução vagamente menos. Com isto quero dizer que os supostos puzzles são estupidificantes de tão simples que são. Como referi dão-nos um leque (algo limitado) de ferramentas à nossa disposição para ultrapassar os vários mapas, mas francamente apenas precisamos da nossa faca, do arco e uma boa dose de timing e/ou paciência. Tempo não é um factor. Ser descoberto, apesar de nos dar uma valente talhada na pontuação apenas trás como consequência o confronto directo com os inimigos numa mecânica de turnos com pontos de acção muito simplificada (mais uma vez, foi criado para o mobile) que em última análise apenas tem três desenlaces possíveis: vitória absoluta (sem levar dano) em que apenas levámos a tal talhada na pontuação; vitória normal em que gastamos uma poção para recuperar a vida perdida (e estas são baratíssimas); ou finalmente a derrota. Qual a penalização pela morte? Começar a sala onde estávamos do ínicio. Nada de grave se me perguntarem, já que a sala mais “complexa” leva cerca de 20 segundos a ser ultrapassada se soubermos como o fazer.
Surge o meu terceiro e último resmungo com o jogo: é fácil e muito curto. São cerca de 30 níveis, cada nível com entre 4 a 15 salas (mais coisa menos coisa). Como disse a sala mais complexa leva cerca de 20 segundos a completar. Mesmo não sabendo como o fazer, cada sala leva cerca de minuto e meio a ser ultrapassada. Se fizerem as contas (gosto de fazer contas) o jogo tem cerca de 4 a 6 horas de conteúdo e perto de zero valor de rejogabilidade. Precisava de mais. Mais puzzles, mais níveis, mais itens, mais tudo. Falta conteúdo.
O Melhor: o humor, a casualidade da jogabilidade e o conceito.
O Pior: a adaptação para PC sofrível, o preço apresentado no Steam face ao conteúdo disponibilizado.
Sneaky Sneaky é um bom título. Tem uma boa ideia, excelentes visuais, execução mais que competente… num tablet! No PC falta conteúdo se considerarmos que está no Steam por cerca de 4€. Com este valor e uma sale já consigo comprar títulos como Final Fantasy VII ou X-Com: Enemy Unknown. É impossível a Sneaky Sneaky conseguir ser economicamente competitivo dentro do Steam. No seu ambiente natural (mercado mobile) e por cerca de dois ou três euros diria ser um excelente jogo/passatempo. No PC? Dispensável.
Sneaky Sneaky está disponível para iOS e PC. Se não sabem qual foi a versão analisada então sugiro que vão ler o artigo. ^_^