Um Gomu Gomu no Chicken a Arcana Heart 3: Love Max!!!!!

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Ninguém brinca com estas meninas!

Devo dizer que nunca fui grande fã de violência doméstica. E aparentemente no Japão também não são, tanto que nesta série de luta 2D – Arcana Heart – o trabalho sujo é deixado somente a membros do sexo feminino e não há homens pelo caminho a interferir nas suas andanças. Em teoria, isto poderia soar a uma jogada vitoriosa para as feministas, não fossem todas as 23 personagens deste jogo raparigas em idade escolar, algumas com figuras desproporcionais que desafiam as leis da física, outras com roupa pouco apropriada para combate. De facto, este é um jogo de porrada bidimensional pejado de “fan-service” e não esconde o seu orgulho nisso. Resta saber se podemos ficar simplesmente pelo que está à vista ou se existe realmente alguma profundidade se mergulharmos nele – nós no Rubber Chicken não gostamos de julgar um livro pela sua capa, por isso vamos a isto.

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Tenho bilhetes para ver Babymetal! Quem quer vir?

Criado pela Examu e lançado na Europa pela NISA e pela Arc System Works, Arcana Heart 3: Love Max!!!!! (tão épico que tem de ter cinco pontos de exclamação) é uma reedição actualizada de Arcana Heart 3 que adiciona novos modos de jogo como um After Story, Training Mode refeito, um Trial, Time Attack e Survival Score Modes aos já existentes Story, Versus ou Online Modes. Existem também modos extra como o Replay Theater, que nos permite rever um combate que tenha sido gravado anteriormente, ou o Gallery, em que podemos ver artwork das nossas combatentes que são destrancadas após completar diferentes modos ou ver sequências extra de história com as diferentes personagens em formato visual novel.

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Deixa a tua face aceitar todo o meu amor contido neste punho cerrado!

 

A série Arcana Heart desenrola-se num Japão futurista com fantasia à mistura, onde existem pessoas com um ser ligado à sua alma – uma Arcana – que lhes dá um poder extraordinário (estes seres são baseados em várias mitologias e teologias, o que faz lembrar um pouco as Personas de série Persona de Shin Megami Tensei). Como seria de esperar todas as personagens deste jogo possuem uma Arcana e têm a capacidade de a manifestar e controlar. As personagens têm todas estilos de combate muito distintos e personalidades ainda mais distintas (leia-se desviantes). A Heart Aino, que pode ser tida como a principal protagonista da série desde o primeiro jogo (está na capa de todos os jogos), é claramente uma sociopata – é muito bem disposta de uma forma um bocado desmiolada (fazendo jus ao o termo “happy-go-lucky”) e quer ser amiga de toda a gente, contudo o método que ela encontra para transmitir esse amor (através de um enxerto de porrada) pode não ser o mais apropriado. Há outros personagens igualmente únicos, como uma freira cuja arma é um crucifixo de metal, uma rapariga vestida de coelhinha que pilota um mecha, ou uma menina de 4 ou 5 anos que tudo o que desenha torna-se real, usando os seus desenhos para combater.

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Aparentemente não foi desta que nerfaram o Pikachu como deve de ser.

Quando começamos um combate uma coisa salta logo à vista: os gráficos são datados. Se não fosse pela qualidade HD do anime durante a história, poderíamos pensar que estávamos a jogar a algo da era PS2 – graficamente é inferior a outros 2D fighters como BlazBlue ou a Skullgirls – mas é de notar que as animações das sprites e os backgrounds têm boa qualidade. O jogo manteve também a sua resolução de arcada em 4:3 em vez de a actualizar para formato 16:9, enchendo em vez disso as bordas laterais com animações das personagens durante o combate. Não há grande razão para o jogo não ter recebido um “facelift”, tomando em conta que este se considera um “upgrade” ao seu antecessor. O som também não é brilhante: as vozes estão bem adaptadas à personagens, mas a música é mediocre e por vezes irritante (contudo, não ao nível de um “I wanna take you for a ride” de Marvel vs Capcom 2 – peço desde já desculpa, porque quem já sofreu com essa música estará agora inevitavelmente a ouvi-la em loop na sua mente). Felizmente, o sistema de combate está a um nível bastante superior do que foi referido anteriormente.

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Sabes o que é nada desta vida? É nada desta vida!

Temos 23 personagens por onde escolher, cada uma com o seu estilo distinto de combate e, para além disso, temos também 23 Arcanas que podemos combinar com essas personagens. Cada Arcana é uma personagem própria que podemos chamar e utilizar em ataques especiais pressionando um botão – isto quer dizer que não só temos acesso aos ataques do personagem que escolhermos como também temos acesso aos ataques da Arcana que escolhermos combinar com esse personagem (para além disso, cada Arcana dá um bónus diferente ao ataque e à defesa da personagem). São 529 as combinações possíveis, o que revela uma grande profundidade neste sistema de combate. Temos o conjunto de movimentos típico que podemos esperar de um jogo nipónico do género, com o habitual trio de botões reservados para ataques fracos, médios e fortes, recuamos para podermos defender e temos também uma barra de Force que vai enchendo conforme combatemos e nos permite executar ataques especiais. AH3LM adiciona ainda um botão para fazer ataques com a Arcana e um botão de “homing”, que nos permite saltar na direcção do nosso adversário e persegui-lo onde quer que ele esteja no mapa (bastante útil, mas se o usarmos ficamos sem conseguir defender por instantes – é aconselhável reservá-lo só como “follow-up” a combos).

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Para mim, Weiss não é só a melhor personagem como é também a melhor qualidade de cerveja.

O modo Story não é mais que um modo de Arcade com história por trás: restam seis dias para o Japão ser afundado no oceano por Ragnarok, uma enorme Arcana criada artificialmente, e só a nossa personagem é que o consegue impedir – em cada dia tem um combate com uma adversária diferente até chegar ao penúltimo dia onde tem de enfrentar Scharlachrot (experimentem dizer isto três vezes depressa), a vilã introduzida neste jogo, e no último dia terá de enfrentar finalmente Ragnarok, que é um boss final tão grande que ocupa o ecrã inteiro. O modo After Story é “fan-service” inadulterado, em que as nossas personagens estão todas juntas à procura de umas termas recônditas que supostamente fazem muito bem à pele (enfim, coisas de mulheres) e que culmina na imagem esperada de todas as raparigas a banharem-se nas ditas termas. Existem combates ao decorrer da After Story (um para cada personagem), mas eles tornam-se completo filler durante a história e parece que quem as escreveu atirou os papéis ao ar e foi tomar um cafézito. Quando tudo o que é preciso para desatarem à sova são duas raparigas a discutir sobre qual delas é que tem a irmã mais fofinha, percebe-se que não houve grande esforço envolvido (para ser específico, uma diz “Nazuna best sister!” e a outra responde “No! Petra best sister!” e desatam à porrada – isto diz tudo sobre a ridicularidade de história). Infelizmente não nos foi foi possível avaliar o modo Online porque não conseguimos encontrar um “room” na PSN onde nos juntar de forma a conseguir um adversário.

O melhor: O sistema de combate apurado, com um elenco variado e excêntrico. Boa jogabilidade. 529 combinações possíveis entre personagens e Arcanas prometem costumização e longevidade para dar e vender.

O pior: Gráficos em combate são do melhor que a era PS2 tem para oferecer. A música é mediocre. O enredo dos modos Story e After Story oscila entre o fraco e o ridículo. Difícil encontrar jogadores online.
Por todo o criticismo que possamos tecer ao quão datados podem estar os visuais deste jogo ou pela falta de qualidade nas histórias que ele conta, este é um título que eu aconselharia sem dúvida a qualquer fã sério de jogos de luta 2D. Arcana Heart 3: Love Max!!!! está assente num sistema de combate sólido e numa jogabilidade fluida que são, afinal, os pontos mais importantes a quem aprecia jogos do género – posto isto, não aconselharia este título a outro tipo de jogadores que não precisamente aos fãs do género, ou talvez a quem goste de fan-service nipónico. Honestamente, mesmo que ele empalideça um pouco ao lado de um Guilty Gear ou um BlazBlue, uma actualização visual poderia mesmo tornar este título apelativo para grandes torneios como o Super Battle Opera no Japão ou o Evolution nos EUA.

PS: Foi recentemente anunciado para sair nas arcadas no Japão o Arcana Heart 3: Love Max Six Stars!!!!!! (sim, este tem seis pontos de exclamação – um deleite para o Conde de Contar) que vai adicionar uma personagem e uma Arcana novas. Resta-nos perceber se este título vai chegar a ver a luz do dia por cá e é desta que a Examu / Arc System Works se vão dar ao trabalho de lhe dar o “facelift” visual que ele merece.

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Exclusivo PS3 e PS Vita. Analisada a versão de PS3.