Nota: Cada top pessoal é baseado apenas nos jogos que cada um experimentou e não na totalidade de jogos lançados este ano.

Irei neste artigo mencionar apenas 3 jogos que considero os melhores jogos do ano de 2014. As razões de reduzir o número de escolhas dos restantes autores de Tops de jogos de 2014 aqui no Rubber Chicken, prende-se em parte pelo facto de durante o ano de 2014 apostar em jogos que requereram jogar dezenas ou centenas de horas, e a revisitar jogos de anos anteriores que também requereram ficar fechado em casa durante dias a fio, a praticar uma alimentação longe de rigorosa e a adormecer várias vezes com o comando na mão e os headphones na cabeça.

Um dia recebi duas mensagens de voz através da PSN. A primeira mensagem foi directa: “Fred, andar jogar Destiny!”. 45 minutos depois, num tom mais obstinado: “Anda lá, anda jogar Destiny, precisamos de ti. É só meia-hora da tua vida, anda lá!”. Tinha ido, não fosse eu adormecer mais uma vez com os headphones, estando a banda-sonora de outro jogo ainda a tocar perto dos meus ouvidos e a “activar” os meus sonhos, criando imagens relacionadas com o universo desse mesmo jogo. Mas estas imagens sequenciais no sonho não eram (apenas) fruto da épica banda-sonora de Trevor Morris a tocar. Era o resultado de estar plenamente embrenhado durante dias a fio num universo que me fez esquecer o mundo em que vivemos. Que me fez esquecer Destiny. Que me fez esquecer de passear o cão (Depois lembrei-me que não tenho um cão). E quando um jogo consegue transportar-me para outro universo, que distrai, que distrai das conversas como se fossem diálogos de café que sussurram para ouvir nitidamente a voz principal, que afasta do mundo real, e que cada momento afastado do ecrã é como não estar, a pensar sempre no mesmo – no jogo, que não é apenas um jogo, é o mundo novo – esteja a jantar, esteja a caminho da padaria, esteja a tomar banho (quando recordamos que a higiene é importante depois de estar 2 dias seguidos em frente ao ecrã; ou quando alguém nos diz “cheiras mal do sovaco” com um olfacto apurado de não-fumador), é o jogo que considero o apogeu de todas as maravilhas que o ano 2014 nos presenteou.

Como li num local qualquer: “I once went outside. The graphics were awesome, but the gameplay was shit!

Posto isto, vamos ao top 3:

#3 – Destiny

É um jogo viciante mesmo nos tempos quase mortos em que andamos à procura de material para upgrades, por Vénus, Marte, ou Terra. Um jogador do grupo grita: “EVENTO” e lá vão todos a correr para ganhar: nada. Com sorte consegue-se “glimoire”, que é a pontuação que serve para nada. Performance de Peter Dinklage, nada. Nem há outra personagem com personalidade em Destiny que nos faça mais tarde recordar. História? Nada. Mas o que faz continuar a ligar a consola dia e noite para jogar Destiny? As mecânicas recompensadoras, extremamente recompensadores no momento que se evolui um pouco mais; as armas; e as acções sociais, porque o nosso personagem a dançar é estupidamente engraçado. Empurrar alguém de uma falésia, também. Só não sei se isto de empurrar os outros para a morte pode ser considerado uma simples acção social ou uma acção dissocial.

 

shadow of mordor

#2 – Middle Earth: Shadow of Mordor

Ao contrário do que The Lord of The Rings faz transparecer, os Uruks em Shadow of Mordor são retratados como seres de personalidade que chegam a extremos, relativamente mais inteligentes, interessantes e memoráveis. Os Uruks são uma força elite de Orcs, elfs capturados, deformados e corrompidos por Morgoth. Vivem numa sociedade enraizada pelo poder e domínio. São às centenas os que defrontamos em Shadow of Mordor, além de outras criaturas que habitam nas planícies quase estéreis de Mordor.

Middle Earth: Shadow of Mordor trouxe inovação à indústria dos videojogos com o seu sistema “nemesis” que transforma organicamente a cadeia de poder dos Uruks, e que organiza e reestrutura o corpo militarizado desses seres ao serviço de Sauron consoante a nossa acção ou inacção. O mais insignificante inimigo poderá trepar pela árvore militarizada até chegar ao topo da cadeia dos Uruk-Hai (como há outros que chegam ao topo da cadeia de Évora…), e cada um diverge dos restantes seja por inteligência, fala, estilo de combate ou outras características. Não há Orcs iguais na mesma cadeia, não há Orcs iguais que substituam os que saem da mesma cadeia. Mas um segundo lugar para Shadow of Mordor, que esteve durante um período em primeiro lugar na minha lista de jogos do ano, não é justificado apenas pelo sistema “nemesis”. É pela quantidade de missões em dois grandes mapas, e é também pelo sistema de combate agressivo e bastante afinado, somado à mecânica stealth muito satisfatória. Provavelmente mais satisfatória que ThiefShadow of Mordor é uma fusão de Arkham e Assassin’s Creed com o universo de Tolkien, mas sem realmente definir-se por estes e tomando um rumo muito próprio e com uma história que se separa dos acontecimentos do Senhor dos Anéis, bem como da maior parte dos seus elementos.

 

Dragon Agem Inquisition

#1 – Dragon Age: Inquisition

Esta foi para mim a melhor surpresa do ano, que não teve o hype de muitos e que não soube mostrar no percurso do seu desenvolvimento o verdadeiro potencial. Mas qualquer jogo com potencial e que certifica esse mesmo potencial não precisa de hype. Hype é óptimo para pré-reservas. Hype é óptimo para vender o máximo de cópias no dia de lançamento antes de alguém alertar que o jogo está “quebrado”, que está cheio de bugs, ou que afinal não é assim tão bom como todos aguardavam. É óptimo para Call of Duty e GTA, mas esses têm um hype que diverge da maioria: é um hype que nunca desvanece.

Com Dragon Age: Inquisition estamos perante um dos mais detalhados e vastos universos do género RPG, maior que Fallout 3 (que joguei novamente em 2014), maior que Skyrim (que joguei novamente em 2014), maior que Kingdoms of Amalur: Reckoning (que joguei novamente em 2014).

RPGs…

Explorar o universo de Dragon Age: Inquisition é entrar num universo do qual não queremos sair mais. Mas não se desperdiça uma vida social (?), apenas se desenvolve outra, mais fantasiosa, tecendo profundos relacionamentos com outras personagens e detendo o poder de transformar sociedades à nossa vontade ou por necessidade maior, por vezes com decisões difíceis como escolher entre o preto e o branco. Quem vive e quem morre. Com quem mantemos uma relação amorosa. Com quem fazemos sexo. Com quem tecemos ligações diplomáticas ou nos aliamos para uma grande batalha. Elf ou humano, mago ou templário, acusado ou absolvido, quase tudo modifica a nossa conexão com o universo de Dragon Age: Inquisition, modificam-se os diálogos, escolhas, missões. O que não modifica? Este maravilhoso mundo de fantasia que vai desde pântanos obscuros a glaciares, de oásis a longos desertos, tão pormenorizados que até “brincam” com elementos que criam ilusões de óptica. Também tem bugs que parecem ilusões de óptica, que é daqueles que não queremos acreditar no que estamos a ver.

300 horas de jogo. 2 playthroughs, 2 histórias diferentes derivadas de escolhas diferentes. Completionist. Quero repetir novamente e escolher a raça Dwarf. Será que estou a abusar?