Um dos traços essenciais que descreve o “ser português” é, na minha opinião, a facilidade – ou o jeito, como preferirem – com que somos capazes de “virar o bico ao prego”. Porque é que eu, que não cultivo a arte do bigode e nos santos populares prefiro as bifanas, me haveria de lembrar disto agora? Precisamente porque foi pedido aos redactores do Rubber Chicken que elaborassem e discorressem acerca do seu top de jogos do ano transacto e eu, à portuguesa, porque não foram muitos os jogos que experimentei, vou ter que virar o bico ao prego para me safar desta alhada e dar-vos caldo…

Imaginem que esta foi uma das meninas mais vestidas que encontramos…
Começo por uma constatação prática. Os títulos que mais me divertiam este ano foram o Skyrim (sim, eu sei, isto é história antiga) e o Space Engineers. Destes, saliento uma das suas características comuns, responsável, entre outras, pelas horas que lhes dediquei: a sua compatibilidade com mods, potenciada pela ligação à workshop do Steam.
Vivemos numa época em que a personalização é algo que permite conferir um certo sentido de exclusividade aos objectos que nos rodeiam e com os quais interagimos no dia-a-dia, comummente produzidos em massa, anónimos, banais e aborrecidos; conferindo-lhes um cunho pessoal e exclusivo. Pensemos naquela capa do Belenenses, bué da linda, para o Nokia 3310 ou de uns autocolantes porreiros para o para-choques da viatura. Posso estar a confundir décadas… Qualquer jogador de League of Legends, por exemplo, sabe [espero] que adquirir uma determinada skin para qualquer herói do jogo não contribuirá em coisa alguma para a seu sucesso com ele, mesmo assim, aquele pugilo de pixéis – também ele acessível à massas e disponível a qualquer um – confere-lhe a ilusão de exclusividade e, em alguns casos, status. Gostamos, por natureza, de coisas nossas e feitas à nossa medida, o mais únicas possível, reflexos da nossa personalidade.
Os mods do Skyrim e do Space Engineers, ao contrário das skins do LoL são gratuitos, mais vastos, alguns deles ligeiramente [alerta de eufemismo] insanos e, portanto, bem mais divertidos. Não se trata de quebrar as regras do jogo – se bem que alguns o façam, mas de o recompor à nossa imagem, de lhe dar flexibilidade, imprimir carácter, de o tornar mais belo, de o expandir, em última análise, de dar liberdade ao jogador. O jogo adapta-se ao jogador, sem que, na maioria das vezes, os estúdios tenham alguma coisa a ver com isso. Tudo isto acaba por reflectir-se no sucesso e longevidade do título. As produtoras, na minha opinião, só têm a ganhar ao assinarem a carta de alforria dos seus clientes entregando-lhes, de facto, os seus produtos e dando-lhes rédea solta, juntamente com avisos de “save often and in different slots”. De não esquecer, também o óptimo estudo de mercado que a workshop do Steam propicia.
Do ano passado realço a diversão que experimentei nestes dois títulos, da qual, os mods que tenho instalados não foram, de todo, alheios. Sobretudo para quem não tem PCs na flor da idade, este não é um top de 2014, é mais um caldo para 2015.
Bom ano!