Não sei se fruto de pertencer a uma geração que assistiu à alvorada do crescimento do mercado dos videojogos, ou de ser essencialmente céptico em relação a quase todas as estratégias de marketing, mas em vinte e cinco anos de aquisição de videojogos (vinte e um com o meu próprio dinheiro) apenas fiz pré-reserva de um jogo. E esse jogo chama-se Super Mario Galaxy 2.

Super-Mario-Galaxy-Screenshot-7

É certo e sabido que o primeiro Super Mario Galaxy é um dos jogos que marcaram a história dos videojogos, e é ele mesmo a sequela da sequela* de outro marco dos videojogos, o Super Mario 64, que por sua vez descende de outros tantos marcos tais como o Super Mario Bros e o Super Mrio Bros 3. É verdade que não existe uma verdadeira lógica de sequela na série principal de Mario, mas é igualmente verdade que se trata, inegavelmente, de uma das séries que mais contribuíram (e que continuam a contribuir) para a evolução do mercado.

Super Mario Sunshine teve a difícil tarefa de suceder a Super Mario 64, um jogo intemporal que reinventou o género das plataformas, assim como abriu horizontes ao game design (do qual e é ainda hoje uma masterclass). Super Mario Sunshine tem também contra si o facto de que foi lançado numa das consolas mais mal-amadas da Nintendo, injustamente, é certo, tal como o tempo nos tem provado, mas acabou por ficar atrás do seu antecessor. Isto não significa que Sunshine seja um jogo mediano, muito pelo contrário. É um excelente jogo que representa a coragem e a noção de risco que Miyamoto e respectiva equipa assumiram na criação de um Mario 3D completamente inovador. Sunshine não brilha mais por culpa sua, mas sim porque é uma tarefa árdua suceder a um dos jogos mais inovadores, senão o mais inovador, da década de 1990.

super mario sunshine

 

Igualar ou superar o impacto que Super Mario 64 teve no mercado era uma tarefa quase impossível, e vítima dessa conclusão acabou por ser SM Sunshine, o filho perdido e esquecido sempre ensombrado pela preponderância do seu irmão mais velho. O caminho para Super Mario Galaxy era relativamente simples: era O jogo do Mario para a sua consola doméstica de maior sucesso, e as primeiras imagens reveladas pela Nintendo na E3 de 2006 deixaram uma ansiedade gigantesca em todos. Isto, claro, sem o peso quase “institucional” do Super Mario 64 que tinha sido lançado dez anos antes, e que para muitos deixava saudades (esquecendo-se, mais uma vez, da existência do Sunshine).

mario64

Super Mario Galaxy ascendeu ao patamar dos históricos, daqueles intocáveis que marcaram a memória de todos, e que é em 2015, para todos aqueles que não compraram uma Wii na época, uma das razões para o fazer. É claro que esta ascensão e consequente avaliação e reconhecimento globalmente consensuais se devem inteiramente ao genial jogo que SMG é. Como muitos jogos da série (e vindos da mente genial de Miyamoto), SMG é um grande exemplo de game e level design brilhantemente executados e mais um exemplo de um videojogo (entre um grupo restrito) que permitiram o mercado avançar artistica e conceptualmente.

Mais uma vez a questão colocava-se: suceder a SMG era uma tarefa quase impossível, mas em 2010 vimos Super Mario Galaxy 2 chegar aos escaparates, e retalhistas digitais. E aqui apresentar-se-iam uma série de riscos, especialmente para um céptico em relação a pré-reservas (como eu). Igualar SMG estava, para muitos, fora de questão. Ao contrário dos dois primeiros jogos tridimensionais do Mario, este era a primeira sequela directa a um deles, e que poderia significar um mero milking the cow da parte da Nintendo, ou por outro, um refurbishing de uma fórmula bem sucedida comercialmente e bem-recebida pela crítica. E em muitos aspectos, por ser a primeira sequela directa de jogos 3D do Mario, não existiria o risco de ser apenas uma continuação, ou uma pseudo-expansão para um jogo já de si genial? Então como é que justificar-se-ia, para alguém que nunca fez uma pré-reserva, apostar neste jogo específico?

super mario galaxy 2

A primeira resposta é simples: mesmo que um mero prolongamento de um jogo genial como SMG, isso já significaria que o selo (que entendemos como “de qualidade”) da Nintendo indicava uma série de horas de diversão garantidas, e um jogo completo e imaculado. E a segunda porque existia em mim, perante a exímia execução dos três jogos 3D do Mario que lhe antecederam, uma enorme esperança de que este SMG 2 não fosse apenas mais um, e que conseguisse, com todo o mérito, igualar a primeira iteração. E o resto já a História recente nos mostrou: Super Mario Galaxy 2 é um dos jogos que marcou um momento deste mercado ainda tão jovem quanto o dos videojogos, e mais dos que justificam por completo a aquisição de uma Wii (para quem nunca o fez).

E tendo esta percepção (acredito eu) é que a Nintendo apostou neste título como o primeiro jogo de retalho da Wii a ser lançado na eShop da Wii U, com um preço de lançamento de 9,99€ e que poderá ser a resposta para todos aqueles que, hereticamente, falharam a aquisição de uma Wii, tentando apostar neste filão como justificação de compra da nova consola doméstica da Nintendo. Fica apenas a questão: porque não começar pelo primeiro em vez do segundo?

Nota: por diversas razões, sendo que uma delas é a minha posição enquanto reviewer para videojogos, Super Mario galaxy 2 foi o primeiro e único jogo que alguma vez pré-reservei.

* ou descendente espiritual se preferimos.